Sunday, July 16, 2006

Pedido de desculpas

Novamente agradeço aos poucos e sempre amados leitores deste blog pela atenção e peço mil desculpas por parar subitamente de "postar", pois tenho estado um pouco ocupado nestes últimos dias.

Pretendo, claro, escrever pelo menos um ou dois novos textos sobre a copa, visto que dela ainda não fiz um balanço mais abrangente. Durante seu curso, cheguei a publicar uma resenha enaltecendo a participação de certas seleções e a possibilidade de termos duelos memoráveis nas fases decisivas, talvez por estar embalado pelo jogo que acabara de assistir, Holanda X Costa do Marfim, a melhor partida de todo o campeonato, em minha opinião.

Não foi um grande mundial, como cheguei a cogitar, e a espectativa de um futebol mais aberto insinuada nas rodadas iniciais deu lugar a partidas travadas, onde os times se esforçavam mais em anular seus oponentes do que em construir jogadas de gol, cientes, claro, do caráter traiçoeiro das fases eliminatórias e ansiosos em "sair da fila" a qualquer custo, como nós em 94. Pragmáticos ou não, ao menos mostraram algum futebol, diferentemente de um certo selecionado, então favorito, que mal conseguiu encontrar seu padrão de jogo ao longo do torneio.

Até breve, colegas!

Monday, July 03, 2006

Reflexões sobre o mundial da Alemanha - parte 11

Brasil X França. A ressurreição do pesadelo.



Eis, amigos, a “encoberta” verdade sobre 1998! O grande segredo por trás de uma final de copa que suscitaria, pelo menos até anteontem, o imaginário de milhões de torcedores, incrédulos na legitimidade do futebol pífio apresentado por nossa seleção, convictos na existência de alguma trama escusa – possivelmente ligada à “suspeita” convulsão de Ronaldo horas antes da partida começar – que nos tivesse feito entregá-la em troca de qualquer favor idiota oferecido pela FIFA, Adidas, Nike, ou sabe-se lá quem, e, desta incapacidade de lidar com o óbvio, folclores e teorias sobre arranjos de resultados nasceram, mesmo fora do Brasil, afinal, o “grande time” que jogara “tão maravilhosamente bem” contra a Holanda nas semi-finais não podia perder como perdeu: apático, confuso, incapaz de reagir, e o problema de Ronaldo viraria desculpa para Zagallo, Bebeto e outros protagonistas do infame episódio na hora de justificar seus fracassos. Dunga, claro, seria exceção, e não hesitaria em enfatizar a relevância dos méritos adversários como elemento determinante do “desastre”. Desastre que, de algum ponto perdido no limbo esportivo, resolveu ressurgir, revivendo máculas e glórias de uma decisão até então questionada, talvez para desfazer mal-entendidos, remover nossas vendas de narcisismo ferido, castigar a empáfia de uma nação que só consegue analisar futebol olhando o próprio umbigo, repetir uma lição que nunca foi e dificilmente será aprendida, a lição de que estrelas nem sempre resolvem campeonato, de que ostentar um bom time transcende ter um plantel de craques, de que podemos possuir os melhores jogadores (será?), mas não necessariamente o melhor futebol, e de que este esporte também envolve estratégia, estudo, racionalidade, repetição, planejamento, treino, opções de jogo, prevalescência tática, física, emocional, de que “se deu certo anteontem e ontem”, não significa que ocorrerá de novo, de que se erramos e consertamos em cima da hora em alguns torneios onde triunfamos, não precisaremos errar outra vez para repetir a mesma “mística” vencedora.



Como em 1998, perdemos anteontem para um time mais inteligente, com uma estratégia superior à nossa, com um “maestro” intelectualmente mais capaz de compreender e manipular o jogo do que qualquer Kaká, Cafu ou Ronaldinho. Se capengamos e tropeçamos até a decisão de 98, sobrevivendo mais do talento individual do que de qualquer capacidade estratégica ou tática que Zagallo pudesse possuir na manga (ainda que proporcionássemos esporádicas exibições mais convincentes); em 2006, fomos além na mediocridade, e, de novo, os “azuis” de Zidane apareceram dos céus para mostrar ao Brasil que nosso suposto “melhor futebol do mundo” não pode mais sobreviver de improvisos, nomes, Marketing, brados, folclores, místicas, lampejos intuitivos e supertições, que se a alguns adversários sempre faltou o tal “brilho a mais” que fizesse diferença nos momentos decisivos, que se a essa mesma França faltara magia até anteontem e decerto faltará quando Zidane se aposentar, a nós carece inteligência, capacidade analítica, e, claro, fundamentos básicos de outras seleções onde atacantes sabem jogar sem bola e meio-campistas conseguem completar um passe longo e ligar contra-ataques sem grandes dificuldades.
Isso, claro, sem mencionar nosso velho caos organizacional de bastidores futebolísticos, malogrado por ervas daninhas que usam o esporte preferido da nação como pretexto para enriquecer, vampiros da bola lucrando alto com cada transação, negociata escusa, patrocínio, saída ou entrada de jogador, mandando e desmandando dentro e fora do país, protegidos e legitimados pelo escudo dos clubes e federações que representam. O grande segredo de 98, revelado anteontem ao mais incrédulo dos incrédulos, pouco teve a ver com supostas convulsões de Ronaldo e certamente não envolveu qualquer entrega de resultado; o segredo foi uma mistura de talento e inteligência, de aliar qualidade técnica à estratégia, foi ter um amplo conhecimento sobre nós, nossos padrões, fraquezas, nossa terrível incapacidade de reagir e reorganizar quando surpreendidos e encurralados em nosso “modus-operandi”. Como em 98, o Brasil se deparou com um antídoto e não conseguiu se transformar ao longo de noventa minutos, ler a partida, utilizar opções, desenvolver alternativas sobressalentes para o caso de problemas com o “plano A”. Zagallo não tinha “planos B” em 98, e tampouco Parreira em 2006, apenas idéias vagas desenvolvidas ao longo do mundial, “pôr esse ou aquele jogador”, “um volante a mais ou um atacante a menos”.

O segredo de 98 foi que apostar demais no jeitinho brasileiro pode nos fazer cair de joelhos ante a inexorabilidade racional dos europeus, especialmente se estiver ela aliada ao talento diferenciado de dois ou três jogadores, simbolizados anteontem por uma mistura de África com “Velho continente”, uma autêntica legião estrangeira pós-globalização encabeçada por general “Zizou”, seus tenente Henry e Vieira, sargentos Makelele, Thuram e Ribery, e todo um exército azul, branco e vermelho a marchar incólume sob o som da marselhesa enquanto enterrava cabeças verde-amarelas de mauricinhos e pop-stars sem comando ou qualquer noção do que ocorria em combate. Como Napoleão, Zidane fez seu exército dividir nossos apáticos representantes, isolá-los, anula-los no âmbito coletivo até torná-los quase inofensivos, atabalhoados, desesperados ante a morte anunciada. Não houve batalha, resistência ou honrarias. Fomos, como em 98, escurraçados da copa por nêmesis imbuídos em anunciar ao mundo que o futebol brasileiro era uma farsa.
Se em Paris podíamos ser parcamente redimidos pela atuação satisfatória das semi-finais contra uma Holanda que nos sobrepujara por cerca de 70 minutos, perdera gols quase impossíveis, mas também nos brindara com um desgaste físico de prorrogação que ofereceria chances para mudarmos a imagem histórica de uma partida; anteontem, não houve atenuantes ou desculpas esfarrapadas, nenhum jogo anterior que nos consolasse, nenhum mistério que nos fizesse acreditar em conspirações folclóricas. Perdemos em campo e perdemos para o mundo inteiro saber da copa em que fomos um time de várzea, do mundial em que sucumbimos à arrogância da CBF, a uma preparação mal elaborada capaz de dispensar amistosos importantes para depois reclamar da falta deles quando o navio afundasse, a um grupo covarde, técnico e jogadores incapazes de contextualizar um problema e elaborar soluções ao longo de noventa minutos ou mesmo entre um jogo e outro. Parreira não perdeu porque quis jogar feio ou bonito; Parreira não adotou sua filosofia “pragmática” de 94, como tanto anunciaria a seus críticos, mas apenas a utilizou como pretexto para endossar vitórias fortuitas, quase casuais, onde estivemos a beira do gol de empate ou da derrota o tempo inteiro, gol que, por capricho e muito esforço dos pobres Dida, Juan e Lucio, não nos surpreendeu enquanto podia, deixando para aparecer justamente quando não mais fosse possível mudar, ousar ou arriscar. Se Parreira foi sensato ao colocar Juninho em campo, mesmo tendo esta escalação falhado além de minhas pobres e talvez enganosas expectativas, foi incoerente ao deixar Robinho por tanto tempo no banco, mesmo diante do óbvio, mesmo depois do gol, preferindo restabelecer seu time predileto com Adriano, talvez para calar a crítica com mais um golzinho espírita, prorrogando assim uma reação que poderia ao menos atenuar nosso vexame, garantir uma derrota digna ou até um empate em tempo normal, sucedido (Por que não?) de uma semi-final que nos possibilitasse enterrar Brasil X França de 2006 como Brasil X Inglaterra fez com Brasil X Bélgica em 2002, evitando que um erro de escalação marcasse uma era em nosso futebol, pois, em copa do mundo, o que ocorre durante 90 minutos de uma decisão ou ao longo de uma campanha, fica para sempre, acima de trocentos jogos de eliminatória, Copa das confederações ou comerciais da Nike. A humilhação de anteontem não sucedeu apenas por erros de escalação, mas coroou uma série de equívocos que permanecerão entranhados em nosso futebol, protegidos esporadicamente entre um título e outro, esquecidos a cada euforia e reavivados a cada comprovação de nosso eterno desleixo. Essa copa será marcada para nós como a copa da vergonha, a copa que humilhou nosso futebol como tanto temi ao longo de “reflexões” escritas neste blog, reflexões ingenuamente esperançosas de um milagre, mas profeticamente temerosas de um mico anunciado e confirmado. Esse time francês que nos venceu dificilmente voltará a brilhar como anteontem, pois, apesar da inesperada evolução que apresentara desde sua estréia, apesar de Henry e “Zizou”, ostenta ainda vestígios claros de mediocridade, que, mesmo diante de um oponente tão inexpressivo, mesmo diante de inquestionáveis méritos em nos sufocar por quase noventa minutos, ameaçaram reaparecer, e talvez reluzissem fortes, especialmente no pobre Barthez, se Robinho adentrasse o campo mais cedo, mas em futebol e na vida não existem “ses”, apenas a história, a irreversível história de um ovo fabergé que se estatelou e apagou o futebol brasileiro por quatro longos anos.



Perder é normal, mas não perdemos anteontem, fomos cuspidos do mundial pela porta dos fundos.


Texto a ser publicado no blog
Fanáticos por Copa


Friday, June 30, 2006

Reflexões sobre o mundial da Alemanha - parte 10

Pedras azuis em nosso sapato



Quis a sorte que encontrássemos novamente os franceses em uma copa do mundo, não na decisão, como em 98, mas nas quartas-de-final, como quando perdemos melancolicamente em 86, levando um suado empate para a disputa de pênaltis.
As equipes francesas de 1986 e 1998 lembravam nosso Brasil de algum modo, talvez mais o time de 86, também habilidoso, com um Zico de nome Platini e outros craques muito técnicos, jogando um futebol meio europeu e meio brasileiro, sem a típica cintura dura alemã, mas também sem a vocação ofensiva e o brilho da Holanda, quando campeão em 98, e sem uma solidez defensiva de italianos inspirados, quando eliminado nas semi-finais de 86. Lá e cá, com Platini ou Zidane, mandaram-nos para casa sem troféu, e pretendem repetir a façanha, prometendo resgatar lembranças de uma estranha final em que Ronaldo não foi Ronaldo por motivos ainda obscuros, e também calar quaisquer especulações remanescentes de quem permanece acreditando na hipótese de uma decisão arranjada.
Não, não é mais aquela França, mesmo com “Zizou” e outros em campo! Contudo, penso que a atual pode nos ser quase tão indigesta quanto sua antecessora, como em 97, no mesmo Saint Dennis da final, quase com a mesma escalação, num pequeno torneio quadrangular que contava também com Itália e Inglaterra, onde os “azuis” nos arrancariam um empate que já anunciava sua capacidade de se igualar ao Brasil entre as quatro linhas, mesmo que contássemos com um inspiradíssimo Romário. A verdade é que essa geração de jogadores sempre atuou bem contra o Brasil, vencendo-nos em 98 e 2001, empatando em 97 e 2004.
De 97 para cá, jamais os derrotamos, e isso mostra o quão legítima pode ter sido a “suspeita” decisão de Paris. Sabemos, no entanto, que cada jogo é uma história, e que essa França, apesar de experiente e perigosa, não tem mais o brilho de outrora, e tampouco joga em casa. Penso que se atuarmos com um time bem montado, teremos todas as chances do mundo para proporcionar uma honrosa despedida a Zinedine Zidane, apesar das iminentes dificuldades.



Mudando agora o foco, Alemanha e Argentina disputarão, a meu ver, o jogo mais esperado da copa, e também um duelo chave que poderá determinar os rumos do futebol alemão.
Por que digo isso?
Dois motivos interligados. Primeiramente, os alemães não vencem um clássico (leia-se “clássico”, jogos contra equipes de grande tradição) desde 2000, e uma vitória (ou mesmo um triunfo nos pênaltis) contra a Argentina solidificará de vez os méritos de Klismann no comando do time, Klismann que propôs uma alteração radical na maneira da Alemanha jogar, priorizando um futebol ofensivo, ousado e vibrante, que tornasse sua seleção não apenas competitiva, mas também apreciável aos espectadores, menos sisuda, menos fria, menos “alemã”, buscando justamente modificar essa terrível associação, a imagem do país que “descobriu um modo de ganhar copa sem precisar jogar bola”. Vencer os argentinos pode mudar permanentemente a maneira alemã de encarar futebol, e isso, para Klismann, significaria mais do que melhorar esse esporte em seu país, mas também no resto do mundo, visto que muitos olham a Alemanha como referência.
Por essas e outras, penso seriamente em torcer para eles hoje. Conseguirei?

Texto também publicado no blog Fanáticos por Copa


Wednesday, June 28, 2006

Reflexões sobre o mundial da Alemanha - parte 9

Gana foi nossa Bélgica de 2006

Em meu texto anterior, esqueci de mencionar o horário em que escrevia, minutos antes de Brasil e Gana começar, e minhas palavras, de certo modo, foram proféticas, pelo menos se analisarmos a atuação brasileira, novamente aquém do esperado, dependente da condescendência dos juízes e da inspiração de nosso arqueiro. Como nas oitavas de final de 2002, adentramos o campo com um time mal ajambrado, tomamos vaias da torcida e dependemos muito do talento individual para contrabalançar os problemas coletivos crônicos, principalmente nos primeiros sessenta minutos de jogo, antes de Juninho entrar. E se Juninho foi o Kleberson de Brasil X Bélgica em 2002, Ricardinho foi... Ricardinho, que, como naquela partida, entrou para aliviar a pressão do time não conseguir sair jogando e, de quebra, contribuiu com escelentes passes para gol que mudaram a cara do confronto. Um deles, bem arrematado por Zé Roberto.
A estratégia brasileira baseava-se na postura ofensiva da seleção adversária, que adiantou sua marcação para complicar nossa saída de bola e tentou parar nossos ataques com a boa e velha linha de impedimento. Parreira apostou na posse de bola, nos passes curtos, na espera e numa alternância de jogo cadênciado com velocidade para fugir da correria dos africanos e tirar vantagens de suas fragilidades. Funcionou maravilhosamente bem nos dez primeiros minutos. Depois disso, o que se viu foi um Brasil incapaz de segurar a redonda por muito tempo, atabalhoado em pífios contra-ataques de pouco entrosamento, esforçando-se para imitar o plano de estréia da Azurra contra esses mesmos ganeses, mas com uma escalação inadequada defensivamente para tal. Parreira temeu colocar Juninho no início da partida, preferindo um time que nunca deu certo fora do papel, mas (e também por sorte) ainda não perdeu. Fomos novamente salvos por colossais esforços individuais - destacando-se Juan, Lúcio, Dida e Zé Roberto - , pelas mesmas colaborações do destino que tivemos contra a Bélgica e por uma ajudazinha da arbitragem, não tão determinante quanto no jogo de 2002, mas que nos garantiu o alívio do segundo gol. Claro que, em se tratando de impedimento não marcado, volto a enfatizar a importância de se deixar uma jogada correr em caso de dúvida, e de que mais vale um gol impedido do que outro anulado por impedimento inexistente. Se implicarmos demais com os bandeiras nesse tipo de lance, a boa e velha recomendação da FIFA será inútil.
Outro grande diferencial favorável ao Brasil nesta copa tem sido a experiência de nossos craques, que, em detalhes, tem feito mais diferença do que se pode pensar. Assim como me impressiono negativamente com certos erros coletivos e individuais, também fico boquiaberto ante a sagacidade de nossos jogadores mais rodados em campo, mesmo quando atuam mal. A capacidade de não se deixar levar demais por um momento adverso ao longo da partida, de saber aproveitar os vacilos do adversário em instantes capitais e, pelo menos por parte dos atacantes, de fazer o que os ganeses não fizeram, visualizar uma conclusão antes de arrematar, e por isso desfrutamos melhor as oportunidades de gol, coisa que Gana não fez.
Brasil X Gana foi também um embate entre juventude e experiência, entre a saúde dos africanos e a serenidade e frieza de nossos atletas em alguns momentos (não em todos, claro). A sagacidade individual tem contrabalançado o mal-preparo coletivo até agora, garantindo resultados positivos em atuações questionáveis. Contra a França, precisaremos jogar mais, como jogamos melhor há quatro anos contra a Inglaterra. O Brasil está mal, mas tende a crescer ao se defrontar com grandes seleções. Espero que aconteça de novo, o que será bastante provável se Robinho voltar e o time jogar completo com ele em campo.
Logo, escreverei sobre as demais seleções.



Tuesday, June 27, 2006

Reflexões sobre o mundial da Alemanha - parte 8

Venceu o medo! Que tenhamos sorte também! Muita sorte!

A oitava parte de minhas "reflexões" sobre a copa será mais um desabafo! Um urro de indignação ante a a falta de flexibilidade e de coragem de Carlos Alberto Parreira, que pretende "pagar para ver" mais uma vez, esperar outro jogo para ver confirmado o que todo mundo já está cansado de saber. Adriano e Ronaldo não podem jogar juntos. O país inteiro clama por Juninho Pernambucano no lugar do fatidicamente lesionado Robinho, esperança única de mudança para a cara do futebol brasileiro nessa copa. Parreira confiará em sua estrela, escalando o time do sono outra vez, torcendo por mais um golzinho fortuito como os de Kaká e Adriano. Gana talvez seja hoje o que a Bélgica foi para nós em 2002, o último alerta dos Deuses Futebolísticos de que não podíamos insisitir na burrice. Naquela copa, a imprensa não clamava por Kleberson como clama hoje por Juninho Pernambucano. Tomara que, como naquele jogo, a arbitragem e nosso goleiro façam suficientes milagres para segurar a avalanche de obviedades que tentará nos chutar dessa copa.
Parreira diz que não testou outra escalação. Por quê? Porque deixou para testar tudo no mundial, só que, na hora de testar, prefere confiar na mediocridade comprovada do quadrado que não funciona sem Robinho do que na duvidosa segurança que Juninho pode proporcionar ao time.
Esse é Parreira, amigos!

Sunday, June 25, 2006

Reflexões sobre o mundial da Alemanha - parte 7

Enfim, a hora da verdade chegou



(Parte 1, escrita em 24/06 as 11 da manhã, antes de Alemanha x Suécia)

Esta copa começou muito boa, e parece ter aliviado seu ritmo na terceira rodada em virtude da classificação prematura de alguns favoritos. República Tcheca e Itália foram exceções, visto que ainda precisavam brigar por vaga no último jogo antes das oitavas. Outros participantes, já eliminados, preocuparam-se em realizar honrosas despedidas, como no caso da Costa do Marfim, que apesar de se revelar grande surpresa no mundial, apresentando um futebol tecnicamente superior ao de times como Equador e Gana, viu-se eliminada na fase preliminar, e por razões óbvias. Cair num grupo com Holanda e Argentina não lhe deu muita chance. Fez excelentes partidas, mas não teve sorte suficiente e cometeu pecados inadmissíveis nestes dois confrontos, pecados que Gana e Equador também praticaram, mas em chaves e jogos onde era permitido.
Os alemães de Klismann evoluíram substancialmente quando comparados a si mesmos perdendo feio para Estados Unidos e Itália meses atrás. Demonstraram fragilidade na estréia, mas se solidificaram defensivamente em seguida, evidenciando também uma empolgação e um volume de jogo incomum ao país em copas recentes. Sem dúvida, jogar em casa também pesa bastante nesse contexto, e a equação “jogadores jovens, aplicados e empenhados + filosofia ofensivista de Klismann + fator campo + adversários medianos ou fracos até agora” vem resultando numa Alemanha empolgante que contradiz sua imagem de time frio e calculista. Frios talvez sejam os suecos ante a problemática de encará-los como donos do espetáculo. Alemanha e Suécia duelarão uma hora após eu escrever esta coluna e tal confronto representará um teste definitivo para a torcida germânica saber se realmente pode sonhar com o título. Seus jovens representantes podem ter melhorado muito desde a preparação, mas ainda não provaram força contra oponentes mais duros, visto que pegaram uma chave tranqüila. A seleção equatoriana surpreendeu vagamente com duas largas vitórias, mas, além de jogar sua terceira partida desfalcada, está longe de ter valido aos alemães como um grande teste. Caísse num grupo mais complicado, decerto estaria fazendo as malas agora. Claro que ver os sul-americanos nas quartas após vencerem os ingleses não é impossível, mas bastante improvável, mesmo com os defeitos apresentados pelo “english team”, que ainda não encantou nessa copa.
O único grupo a classificar uma equipe considerada zebra antes do início do torneio foi a chave E. Gana começou frenética contra os italianos, mas também errando em conclusões e na marcação. Vacilou semelhantemente contra a República Tcheca, perdendo gols impossíveis, mas sua maciça prevalescência técnica, aliada à superioridade numérica em virtude de expulsão, garantiu um triunfo que a colocaria diante do Brasil nas oitavas. Seus jogadores são rápidos como manda a tradição africana em copas e destoam do estereótipo “alegres, desleixados e dribladores” característico de Camarões em 90 e Nigéria em 94, preferindo um estilo de muita força física, pegada, toques rápidos, marcação na saída de bola e numero excessivo de faltas. Possui média de dribles baixa quando comparada à Costa do Marfim e Brasil. 7,7 dribles por jogo, segundo o instituto Datafolha, contra 25,3 do Brasil e 29,3 da Costa do Marfim. Sua média de faltas é a maior da copa. 25 por jogo contra 11,7 dos brasileiros.
Portugal e Holanda prometem um duelo menos físico e de técnica apurada, enquanto a França, que dificilmente brilhará nessa copa (embora possa apresentar um ataque melhor com Trezeguet em campo), terá sua defesa duramente testada pela primeira vez. Ostenta um time limitadíssimo que, ao menos, não parece frágil. O favoritismo, todavia, será da fúria.
Brasil e Japão realizaram um duelo interessante em Dortmund. Parreira soube aproveitar sua última chance de testar jogadores que poderiam mudar o caráter sonolento do time. Colocou em campo uma esquadra leve, veloz e muito ofensiva que trouxe esperanças à torcida e mais respeito dos adversários. Insistir com Ronaldo foi e ainda é uma aposta perigosa. O fenômeno vem ganhando ritmo a cada partida, mas ainda atrapalha o ataque quando trava certas triangulações e, nas bolas altas, não tem metade da eficiência de Adriano, apesar do gol de cabeça que marcou. De “causa perdida”, viu-se promovido à “esperança”, e isso nos deixa felizes. Parreira ignorou o óbvio, mas pode sair triunfante assim mesmo, provando o poder de suas “loucas” convicções. Com Robinho jogando, ainda prefiro Adriano como homem de referência. Contudo, manter os demais reservas na equipe seria insensato. Gana não tem tradição, mas é um time de muita força física que pressionará nossa retaguarda e exigirá empenho e eficiência nas divididas. Brasil X Gana promete ser brigado, corrido, com algum espaço para jogar, contra-ataques e uma pressão enorme contra nós nos primeiros minutos, como os africanos têm feito sempre. Somos, claro, favoritos, e seríamos mais se a seleção estivesse devidamente ajeitada no tempo certo. Sucesso contra os ganeses será quase uma garantia de bom futebol contra os espanhóis, caso estes triunfem sobre a França e nos peguem na fase seguinte, pois praticam um estilo vagamente próximo ao de Gana.
Estranha foi a tímida comemoração de certos jogadores australianos e de Gus Hiddink com a vaga obtida após um jogo marcado pela mais estapafúrdia arbitragem da copa até agora, pois pareciam menos contentes com a classificação do que decepcionados por não serem líderes do grupo, já que, pensam, poderiam ter vencido o Brasil com um pouco mais de sorte, e, assim, evitar a “Azurra”, super favorita contra eles. Diferentemente de certos selecionados tradicionais, ganeses e australianos não parecem muito humildes ante os penta-campeões. De certo, é saber que a copa entrará num desenlace interessante com grandes seleções se cruzando em embates dramáticos e épicos até o grande campeão ser decretado. O nível técnico deste mundial deve crescer e muito a partir de agora.


(Parte 2, escrita em 24/06 as 2 da tarde, antes de Argentina x México)




Vitória categórica da Alemanha ante os suecos e notícia devastadora para o Brasil. Copa do mundo é assim. Desvios brutais, surpresas e estórias diferentes a cada rodada.
Jogo a jogo, os alemães mostram saber aproveitar seu mando de campo para acuar adversários e, com 15 minutos passados, já complicaram a vida dos suecos com dois gols. Torcerei para a Argentina ante os mexicanos porque os donos do espetáculo precisam de um freio nesse mundial, e, penso, os favoritos portenhos serão seu maior obstáculo até a decisão. Depois disso, só com muita reza e macumba para segurá-los, por mais limitados que possam ser. Um time grande jogando em casa e bem preparado é sempre um problema, e, não por acaso, à exceção do Brasil, todos os campeões mundiais possuem ao menos um título no próprio solo.
Falando em Brasil, um possível desastre pode provocar desfechos melancólicos ao sonho do Hexa. Robinho não é a grande estrela do time, mas sua presença em campo vale como elo propulsor importantíssimo para fazer o tal “quadrado” funcionar.
Se sua recente dor na coxa for contusão séria, Parreira terá três opções para administrar uma possível sobrevida sem ele. Abolir o quarteto e escalar Juninho no lugar de Adriano, rezando para não precisar colocar coringas ao longo da partida, visto que não possuirá cartas adicionais na manga; isso até pode melhorar a seleção, solidificando o meio-de-campo e diminuindo a fragilidade demonstrada até aqui, mas talvez também prejudique o dinamismo das subidas ao ataque, descaracterizando aquele futebol alegre e dinâmico que muita gente quer ver do Brasil. Parreira também pode testar seu “quadrado” com Fred, buscando manter as características da equipe que deseja montar, ou fazer o mais provável, voltando à escalação original com dois atacantes “pesados”, atitude que decerto representaria um retrocesso fatal em termos de brilho ofensivo e eficiência.
Que os Deuses futebolísticos nos sejam benevolentes e preservem Robinho, para que, pelo menos, mostremos algo próximo a nosso real potencial nessa copa! Se já não bastassem as trapalhadas da CBF e do próprio treinador, o destino parece também estar indisposto a colaborar conosco. Copa é assim mesmo, vide ausências de Maradona em 94 (dopping) e Zidane em 2002 (contusão). Felizmente vencemos os alemães no Japão, e eles só poderão ser tetra em 2006, para desespero do reserva mais simpático e bem-humorado da copa.




Texto a ser publicado no blog Fanáticos por Copa


Monday, June 19, 2006

Reflexões sobre o mundial da Alemanha - parte 6

Time que desce quadrado



Terminado este segundo desafio do selecionado brasileiro, prontificam-se “entendidos” de plantão – incluindo quem vos escreve – a diagnosticar prós e contras da partida, emitir veredictos, sugestões, e, claro, criticar o que “deve” ser criticado.
Indignações, ufanismos, homenagens, premeditações, alertas e pedidos desesperados a parte, confesso sentir um misto de esperança e desespero, de Copa das Confederações e Olimpíadas de Atlanta, embora deva confessar a prevalescência do segundo presságio ante o primeiro. Vitórias tranqüilizam, mas performances atabalhoadas ainda preocupam, e também os sinais de que Parreira permanecerá desafiando a lógica e ignorando o óbvio. Até quando?


Ronaldo esteve melhor do que na estréia, e isso é consenso na imprensa esportiva, mas, se uns globais aqui e ali preferem focar atenções na “micro-evolução” do fenômeno e demais pontos positivos da performance de anteontem, mantendo a visão predominantemente ufanista da emissora, outros permanecem céticos, quer insistindo nos óbvios defeitos do time, quer apelando ao “espírito do futebol-arte de 82”, quer insistindo em análises individuais de jogadores e esquecendo um pouco o âmbito coletivo.
Freqüentemente assisto ao badalado debate “linha de passe - mesa redonda” na ESPN Brasil, que conta com alguns dos mais bem vistos comentaristas futebolísticos da mídia nacional, incluindo Juca Kfouri, Fernando Calazans e o “expert” Paulo Vinícius Coelho. Sou fã do programa e de alguns participantes, mas admito discordar de inúmeros pontos por eles levantados. Penso que, tal qual nossos “entendidos” da CBF, da comissão técnica e futebol brasileiro em geral, também estes ocasionalmente contribuem com certos vícios opinativos não mais condizentes com o futebol como ele é jogado hoje, mas isto é assunto para outra resenha.
Retomando o programa em si, Juca Kfouri questionou anteontem a pertinência das opiniões “indulgentes” que havia emitido a quase todos os jogadores brasileiros após perceber ter também depreciado o time no âmbito conjunto, mas seu paradoxo era absolutamente sensato e pertinente, pois possuímos uma equipe que mal se entende em campo, com problemas táticos crônicos, e que consegue contrabalançar tais defeitos com marcantes esforços individuais. A “defesa”, tão elogiada por todos, pode até ir bem quando analisada individualmente, embora, num contexto geral, permaneça fraca, porque “lá atrás” os jogadores precisam se desbaratar para compensar os problemas defensivos (e ofensivos também) gerados “na frente” com a falta de movimentação e de combate. Por melhor que atuem Lúcio, Juan, Zé Roberto e companhia, estarão sempre eles no “fio da navalha”, precisando fazer mil estrepulias – vide os monumentais carrinhos de Zé Roberto – para compensar uma flagrante fragilidade da seleção, evidenciada tão logo nossos dois primeiros adversários precisaram atacar depois que abrimos o marcador.



Outro ponto dissidente entre eu e os integrantes da mesa está na análise da atitude aparentemente pragmática de Parreira em relação aos resultados obtidos até agora. Trajano, Kfouri e Calazans enfatizam e criticam os discursos do técnico quando este enaltece a importância de vencer e marcar pontos em detrimento de tudo, como em 1994. Todavia, diferentemente da mesa, penso que Parreira não está repetindo sua filosofia “um a zero” de 1994 em 2006, mas apenas usando esse discurso para encobrir a ineficácia de não conseguir o que deseja desse time. Apostar no quarteto em si já deixa clara uma estratégia predominantemente ofensiva de velocidade e triangulações em vez de investir num meio-de-campo sólido e menos dinâmico como o de 1994, que marcava bem com seus quatro integrantes e contava com dois volantes pouco ofensivos, embora um deles contribuísse constantemente com passes longos a Bebeto e Romário. O meio-de-campo atual tem apenas um volante fixo e seus dois “meias-atacantes”, apesar de se esforçarem em contribuir defensivamente, são bem menos eficazes nesse quesito do que eram Raí e Zinho (ou Zinho e Mazinho).



Não me desagradaria ver Parreira adotando uma filosofia conservadora como a de 1994, mesmo que isso diminuísse o poder do ataque e o “show” proporcionado, mas meu desespero maior está em vê-lo perdido entre o que diz fazer mas não faz, e o que quer fazer e não consegue. Se Parreira pretende apostar na leveza e virtuosidade ofensiva do time, que tire então Ronaldo e facilite a vida de Adriano, colocando Robinho em campo. Não é minha escalação preferida, mas é inegável o fato dela ao menos fazer este quarteto funcionar devidamente e a equipe jogar mais ou menos como Parreira deseja, arriscando-se além da conta, mas também criando várias oportunidades de gol. Contra uma Argentina, isso pode ser suicídio, contra a Croácia, foi perigoso, mas contra a Austrália, valeria a pena se Robinho começasse atuando. Como diria Paulo Vinícius Coelho, durante a transmissão do jogo, a diferença do time com Robinho em campo é flagrante, embora Parreira permaneça insistindo no “Fenômeno”. Acho impossível que apenas ele não perceba a “ululância” da questão. Mas Robinho pode também ter contribuído com sua permanência no banco ao tomar um cartão amarelo gratuito. Por quê? Porque nosso próximo confronto seria uma oportunidade perfeita para testar o rei das pedaladas por noventa minutos e também o quarteto em sua melhor formação. Pendurado, Robinho talvez fique de fora, pois imagino que Parreira o considere, mesmo na reserva, mais importante do que Ronaldo, que também tem um amarelo, mas deve entrar em campo contra o Japão. Ruim é saber que o primeiro teste do “quadrado mágico” em sua melhor formação desde a final da Copa das Confederações pode ser um batismo de fogo contra Itália ou República Tcheca. Lembremos que este selecionado canarinho só fez dois grandes clássicos com seu quarteto (ou três, se considerarmos a Alemanha da Copa das Confederações), ambos contra a Argentina, e este quadrado falhou feio na primeira oportunidade enquanto funcionou razoavelmente bem na segunda, pelo menos por um tempo e meio, e com o adversário desfalcado de 6 titulares. Com Ronaldo no lugar de Robinho, o quarteto jamais encarou um clássico.
Antes de fechar a resenha de hoje, gostaria de insinuar algo provavelmente inverídico a partir de uma pergunta que até pode valer boas reflexões e futuras observações. Alguém por acaso reparou que os maiores destaques desta seleção em termos de empenho e dedicação advém justamente de jogadores que não eram titulares em 2002?

Texto a ser publicado no blog Fanáticos por Copa

Saturday, June 17, 2006

Reflexões sobre o mundial da Alemanha - parte 5

(O texto abaixo foi redigido em 16 de junho, horas após o jogo Holanda e Costa do Marfim)

Enfim, uma grande copa




Não tenho dúvidas de que este mundial será o melhor tecnicamente desde 1982 e selará um fim a grande parte daquele mar cético de pseudo-analistas que clamam aos quatro ventos a mediocridade do futebol apresentado em copas desde 1986, mesmo quando se referem à de 98, um campeonato de bom nível, em minha opinião.
Sucedida uma semana de jogos, quase todos os grandes fizeram valer o peso da camisa em campo e no placar. A Alemanha começou ofensiva, mas também frágil contra um adversário que permitia esse capricho. Colocou os pés no chão contra a Polônia, expondo menos o setor defensivo sem diminuir demais o volume das subidas ao ataque e sem apelar muito para o chuveirinho, merecendo sua dramática vitória e fazendo jus àquele velho slogan de que “alemães não desistem nunca”.



Os ingleses ainda não brilharam e, apesar de não estarem, pelo menos por enquanto, entre os três mais fortes da competição, demonstraram solidez, garra e preparo para lutar pelo título nos jogos que fizeram. Infelizmente, não pude assistir à magistral goleada espanhola sobre os ucranianos, mas partindo do que vi, li e ouvi a respeito, podemos considerar a “fúria” uma favorita, apesar do velho jargão de que sempre morre na praia. Em 2002, quem a matou não foram os coreanos, mas os juízes.
A chave E também mostrou que suas duas grandes forças estão preparadas para dar exibições consistentes. Itália e República Tcheca devem realizar um dos melhores jogos da primeira fase e prometem problemas monstruosos a seus respectivos adversários do grupo F, caso concretizem uma provável classificação às oitavas. Portugal pode ter começado aquém da capacidade contra Angola, mas ainda tem potencial e possibilidades visíveis de crescimento. A França, por outro lado, até pode ir longe, mas dificilmente apresentará muito mais futebol do que na estréia, algo amarrado, burocrático e sem objetividade como na última Euro, apesar de Henry e Zidane. Talvez Togo os propicie chances para uma boa performance, mas qualquer adversário de prestígio deverá trazê-los de volta a mediocridade, mesmo quando triunfarem.



Já o grupo da morte justificou sua fama. A Argentina começou bem, mesmo sob pressão e já mostrou avassaladores recursos contra Servia e Montenegro. Holanda e Costa do Marfim protagonizaram um dos melhores confrontos da copa até aqui, sendo que os africanos podem, tal qual Camarões em 82, sair aplaudidíssimos, mesmo eliminados na primeira fase, visto que encararam dois gigantes de cabeça erguida e não mereceram perder para os holandeses. Terão chances para uma bela despedida contra os sérvios.
Surpresas boas também vieram do Equador com duas largas vitórias, mas os sul-americanos ainda precisam provar que não encolherão diante dos poderosos. Terão um excelente teste segunda-feira contra a Alemanha, e, caso peguem a Inglaterra nas oitavas, precisarão jogar mais do que vêm jogando para seguir adiante.



O grupo F vem mostrando ao Brasil as conseqüências drásticas das apostas que fez no período de preparação, pois enquanto boa parte dos trinta e dois participantes passaram o ano realizando amistosos significativos para testar suas forças, corrigir erros e afiar qualidades, a CBF preferiu uma política de marketing e preservação física de nossos atletas, evitando situações que pudessem contundi-los ou duelos mais competitivos, temendo uma eventual perda do rumo otimista conquistado na eliminatória e na copa das confederações. Em suma, o que ocorreu com os alemães meses atrás ao perceber sua fragilidade numa derrota de 4 a 0 para a Itália e em vitórias magras contra oponentes pífios, sucede hoje com o Brasil, que escolheu se preparar durante o mundial, baseando-se numa filosofia de “crescer dentro da competição”, apostando na histórica capacidade verde e amarela de superar obstáculos nas piores situações e “encontrar seu futebol”. O que nossos experts da CBF e da comissão técnica esquecem é que copa do mundo não é campeonato de pontos corridos e que um simples tropeço na primeira fase (ou nas oitavas) pode interromper esse crescimento, calcificando uma impressão enganosa de nossa seleção para os próximos quatro anos, simplesmente porque o time não se preparou adequadamente.



2006 será uma copa forte e, ao contrário de 2002, contará com um bom número de seleções tradicionais nas fases decisivas e também duelos memoráveis. Fico sentido em ver que poderíamos (e ainda podemos) exercer um papel importante e digno nessa grande festa, mesmo sem conquistar título, mas a CBF sucumbiu à soberba de apegar-se à imagem vencedora do selecionado, vendê-la a quem quisesse, desperdiçar datas fifa com amistosos desnecessários de cunho político, promocional ou financeiro (vide Brasil e Rússia no inicio do ano a 15 graus abaixo de zero para promover uma marca de cerveja), tornar a amarelinha um grande caça-níqueis que pode culminar com uma participação humilhante dentro do mundial, transformando o slogan “Joga bonito” em piada internacional e até manchando o brilho do penta, visto que seus principais protagonistas (à exceção de Rivaldo) não foram capazes de endossar os méritos do título obtido há quatro anos quando estiveram na copa em que os grandes times realmente foram grandes.
Sinceramente, espero estar enganado e ver a história se repetindo com outra bela virada da seleção, mas isso também faria a CBF cometer os erros de sempre, não?

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Wednesday, June 14, 2006

Reflexões sobre o mundial da Alemanha - parte 4

O OVO FABERGÉ CANARINHO



Faz mais ou menos uma semana que saiu na TV uma reportagem sobre "como vencer o Brasil na copa", segundo opiniões de cronistas esportivos estrangeiros. Um deles comparava nossa equipe a um ovo fabergé, maravilhosamente bem elaborado, belíssimo, magnânimo e também frágil. Muito frágil.
Estou certo de que qualquer brasileiro, quer torcedor, narrador, comentarista esportivo, técnico ou jogador da seleção, concorda que nossa equipe esteve mal, apesar da recente vitória sobre a Croácia, como também concorda que Ronaldo esteve péssimo, mas decerto divergirá, e muito, ao tentar diagnosticar os motivos da pífia atuação. Já imagino Trajanos, Calazans e PVCs procurando explicar a fraca eficácia do "quarteto mágico" e possíveis soluções ofensivas para o time que o permitiriam fluir melhor, "tocar a bola mais rápido", colocar Robinho no lugar de Ronaldo, problemas físicos de A, B ou C, e, se alguém porventura cogitar que um atacante precisa sair, decerto clamará por outro. Dia desses, um cronista famoso bradou aos quatro ventos o quão decepcionado ficaria se Parreira abrisse mão se de seu quarteto, "acovardando-se", jogando um "futebol de resultados".
Individualmente, a seleção não esteve mal, principalmente atrás. Dida, Cafu, Lúcio e Juan mostraram-se eficazes, Kaká, Zé Roberto e Ronaldinho Gaúcho produziram. Adriano jogou mal, mas colaborou tirando Nico Kovac da partida. Nosso entrosamento ofensivo esteve aquém dos objetivos, mas isso era esperado, pelo menos por quem entende que copa do mundo não é comercial da Nike, que o slogan "joga bonito" nem sempre prevalece em campo ao longo de uma partida. Aliás, encarnar demasiadamente essa campanha publicitária pode arrebentar nosso ovo fabergé de maneira humilhante nessa copa, e bem cedo.



Até entendo a relevância em discutir atuações individuais na análise da estréia canarinho, de questionar Adriano e Ronaldo na escalação titular, mas considero isso menor do que tocar no tabu evitado por grande parte da crônica esportiva nacional. Até onde vale a pena insistir no "quarteto" ? Até onde devemos apostar nessa formação leve e ofensiva demais que deixa espaços sempre que sobe, sobrecarregando Emerson, Zé Roberto e toda o sistema defensivo, que precisa de um entrosamento, uma coordenação, uma fluência muito bem treinada e orquestrada para não sucumbir à tendência natural que possui de vulnerabilizar a equipe sempre que perdemos a bola, deixando nossos defensores no fio da navalha, criando riscos desnecessários em partidas que poderíamos jogar e triunfar com mais tranqüilidade?



O tal "quadrado mágico" surgiu nas eliminatórias, quando Parreira decidiu trocar seu 4-4-2 com um volante fixo e dois "móveis" por outro de um volante fixo e um "móvel", abrindo brecha para a escalação de um meia leve ou um atacante, buscando melhorar a capacidade ofensiva do time, o que de fato ocorreu. Esta modificação funcionou mal no primeiro teste, mas duas partidas depois, contra o Paraguai, provou-se, no mínimo, um recurso valioso. Dias mais tarde, contra a Argentina em Buenos Aires, desastre: o time leve do Brasil viu-se surpreendido por um adversário pegador, tomando 3 gols no primeiro tempo, e apenas jogando de igual para igual quando trocou um integrante do quarteto por Juninho pernambucano (ou outro volante, não me lembro bem), desfazendo a formação. Questionou-se então a eficácia e a aplicabilidade do "quadrado", mas era cedo para desistir, e Parreira decidiu testá-lo definitivamente na Copa das Confederações.
A novidade tática soou, para grande parte da imprensa esportiva, como uma "evolução" das "tendências conservadoras" atribuídas ao técnico. Pouco importava a nossos cronistas se a seleção atuasse mal com seu "quadrado" em campo, pois os problemas estariam sempre em outro setor, e sempre haveria uma nova fórmula mágica de fazer o quarteto funcionar. De fato, há, mas cogito se realmente vale a pena correr riscos significativos para busca-las com tão pouco tempo disponível em vez de partir para iniciativas mais simples.



Por fim, a Copa das Confederações chegou e o quarteto, então com Kaká, Robinho, Ronaldinho Gaúcho e Adriano fez seu teste, obtendo certo êxito em alguns confrontos e gerando problemas em outros. Sim, o Brasil venceu sua competição após partida brilhante contra uma Argentina desfalcada, embora perigosa, mas correu riscos idiotas e desnecessários na primeira fase enfrentando equipes medianas e por pouco não se viu eliminado por um Japão oportunista, que apenas soube tirar vantagem de nossas clamorosas deficiências. Nas semi-finais, também penamos para vencer uma Alemanha que tinha os mesmos defeitos defensivos crônicos do Brasil e era bem inferior tecnicamente. Contra a Argentina, o quadrado pareceu funcionar sem deixar grandes buracos, mas apenas até metade do segundo tempo, quando Juninho Pernambucano (ou outro volante, não me lembro exatamente) entrou em campo para colocar mais "pegada" e ordem no meio. Vencemos, o quarteto foi "aprovado" e a equipe da Copa das Confederações acabaria servindo de base para a Copa de 2006, embora parte de seu elenco (incluindo um membro do quarteto) não fosse mais o mesmo. De novembro para cá, comentaristas esportivos têm se esforçado em debater quem deveria formar o "quadrado mágico", mas raramente questionam sua real necessidade, temendo o desperdício de talentos que a adoção de um "triângulo" significaria. Eis decerto a problemática do Brasil nesta copa. O que é melhor? Tentar aproveitar o maior número de talentos possíveis, comprometendo a solidez do time e apostando na "magia" do ovo fabergé ou diminuir um pouco seu brilho em nome da rigidez? Outra pergunta: Até onde tirar um centro-avante para colocar Juninho Pernambucano (em vez de Robinho) seria, de fato, um desperdício de talento? Há quatro anos, Felipão trocou seu esquema sólido de dois volantes por outro com dois "meias" às vésperas da copa do mundo, tornando sua equipe tão frágil quanto este Brasil que jogou ontem, mas numa chave que permitia esse luxo. Quis repetir a fórmula nas oitavas de final e quase foi enxotado pela seleção belga, algo que comprometeria gravemente a história de toda uma geração de atletas. Voltou a jogar com dois volantes contra a Inglaterra e vislumbrou sua equipe dando um salto qualitativo impressionante até o fim da competição. O problema é que esses erros nem sempre deixam margem a uma segunda chance, nem sempre nos permitem um jogo seguinte que comprove nosso real potencial, e a imagem do erro vira a imagem de uma era. Ontem, apesar do adversário forte, tivemos uma segunda chance. Resta saber se Parreira esperará ainda uma terceira ou quarta até fazer o necessário, quer abolindo o quarteto, substituindo Ronaldo ou ambos. O que não se pode é apostar demais no brilho e esquecer a solidez, preocupar-se em abrir brechas na defesa adversária ignorando as próprias deficiências, porque sempre haverá situações numa copa do mundo onde o ataque enfrentará dificuldade para fluir e dependerá da eficácia de uma defesa igualmente destrutiva, evitando que percamos jogos para nossa própria fragilidade em vez do mérito oponente. Se for para sairmos mais cedo desse mundial, que seja sucumbindo ao talento alheio e não a nosso malfadado desleixo defensivo. Assim teríamos, de certo modo, aproveitado essa geração para fazer história, mesmo sem ganhar o título, em vez de pagar um grande mico.



Ontem, corremos riscos idiotas. A simples substituição de um centro-avante por Juninho Pernambucano teria tornado o jogo completamente diferente do que foi. A Croácia jogou bem, mas só deu tanto trabalho a nosso goleiro porque Parreira permitiu, mantendo Ronado e o quadrado tempo demais em campo, mesmo quando já vencia por 1 x 0.

Texto também publicado no blog Fanáticos por Copa


Monday, June 12, 2006

Reflexões sobre o mundial da Alemanha - parte 3

Quando detalhes fazem a diferença



Há três grupos nessa copa que serão implacáveis com pequenos erros. A chave C, claro, conhecida como "grupo da morte", e também as E e F, respectivamente, da Itália e do Brasil. Nossos segundo e terceiro adversários fizeram um jogo de detalhes, de poucos espaços disponíveis, marcação forte e defesas avançando suas linhas, congestionando o meio-de-campo. É certo que não teremos metade da moleza de 2002 na primeira fase. O Brasil não poderá estrear bamba como fez contra os turcos e nem abrir as avenidas das duas partidas subseqüentes. Se passar às oitavas, provavelmente encarará um duelo de vida ou morte com Itália ou República Tcheca.



De volta à chave F, pode-se dizer que o Japão perdeu por detalhes, mas também perdeu na imposição de seu estilo. Não chegou a marcar mal, contudo abriu mais brechas defensivas do que o adversário, e, ao contrario deste, precisou que seu goleiro intervisse freqüentemente a fim de evitar o pior. Viu-se facilitado por dois erros da arbitragem no primeiro tempo, sendo que um impediu um possível gol australiano (impedimento inexistente) e outro propiciou a abertura do placar (falta não marcada do atacante no goleiro). De qualquer modo, penso que a tônica da partida não esteve só nos vacilos individuais japoneses que impediram sua possível vitória, apesar destes exercerem peso fundamental. Talvez a capacidade maior dos "aussies" em determinar como o jogo seria jogado tenha se constituído no grande diferencial, ponto chave que Parreira sempre enfatiza durante entrevistas. "Austrália e Japão" sucedeu-se mais à cara de Hiddink e do estilo pegador com muito contato, marcação e espaços mínimos disponíveis adotado pelos australianos do que a la Zico, futebol ofensivo, triangulações rápidas e prevalescência da técnica. Os japoneses não souberam cadenciar quando necessário, recurso que sempre facilita a equipe mais técnica, como também não souberam impor a típica velocidade asiática. Uma Austrália "pesada" fez valer esse peso sobre um Japão "leve", tornando o jogo sua imagem e semelhança, embora pudesse ter saído com uma derrota se o arqueiro nipônico não errasse feio, posicionando-se mal num escanteio, possivelmente empolgado pela defesa recém-realizada. Outros detalhes, como um passe impreciso para a conclusão atabalhoada de um contra-ataque, ainda com a partida em "1 x 0", também pesaram contra Zico e seus pupilos, que foram derrotados, sobretudo, na determinação dos parâmetros do jogo, mas também nesses detalhes individuais. A ótica predominantemente criativa do galinho talvez não se sustente quando desacompanhada de uma igual eficiência destrutiva, problema já evidenciado em amistosos contra Malta e Alemanha. Não nos surpreendamos, todavia, se essa equipe se classificar e tirar pontos do Brasil, pois tem capacidade para isso.



Pelo grupo E, Itália e República Tcheca mostraram a que vieram e decerto não imaginam precisar estar com capacidade inferior a 100% nas fases iniciais da competição para almejarem título. Rosincky e companhia evidenciaram uma fragilidade americana conhecida de seus últimos amistosos, mas também triunfaram pela qualidade técnica de time grande que possuem com Nedved em campo. Gana, até então uma incógita para mim, mostrou empenho, força, volume de jogo, e pouca objetividade nas conclusões, talvez pela ausência de um grande craque. Não está no nível da Costa do Marfim, mas é bem melhor do que Angola e, decerto, Tunísia e Togo, podendo tirar pontos importantes de República Tcheca, Estados Unidos e até sonhar com a classificação. Seus adversários italianos souberam neutraliza-los - mesmo que conseguissem tornar o jogo rápido como gostam - e souberam contra-atacar como fazem sempre, demonstrando talento e rapidez nos pés de Pirlo, Totti, Camoranesi e outros, aproveitando as aberturas defensivas criadas nas subidas ganesas e os eventuais vacilos dos africanos, como aquele que gerou o segundo gol.
Ao Brasil, um alerta de que nossos primeiros três confrontos deverão ser duelos de espaços curtos, velocidade e pouca chances para errar, onde a imposição do estilo de jogo será fundamental, como também adaptar-se às condições adversas de longos momentos truncados e brigados com entrosamento, triangulações e muita paciência. Capacidade, nossos craques certamente possuem.


Sunday, June 11, 2006

Reflexões sobre o mundial da Alemanha - parte 2

Elefantes em maus lençóis



Espero pouco da África nessa copa. Assisti a alguns jogos do campeonato continental, realizado este ano, e não faço fé em seleções como Togo, Tunísia e Angola. Gana, para mim, é uma incógnita, e a Costa do Marfim, se tivesse desfrutado mais sorte com as bolinhas (Gana também não teve muita), poderia despontar como o grande representante africano na Alemanha, capaz de igualar campanhas históricas como a de Camarões em 90 e Senegal em 2002. Infelizmente, a roda da fortuna não ajudou. Os "Elefantes", como são mundialmente conhecidos, prepararam-se bem e possuem um elenco com estrelas experientes de calibre internacional, como Didier Drogba, do Chelsea, e Emmanuel Eboué, do Arsenal. Impuseram ritmo forte e frenético contra uma Argentina mentalmente focada em não repetir seu recente fiasco e também ciente de que não podia errar, de que cada jogo de primeira fase em seu grupo precisa ser encarado como uma final. Mas, como a Nigéria de 2002 (aliás, melhor), os elefantes acabaram injustiçados pelo destino. Possuem um time que se caísse na chave da França ou da Alemanha, certamente chegaria às oitavas, mas cercados por Holanda, Argentina e Sérvia, precisariam, além de jogar muito, errar pouco (ou quase nada) e ter bastante sorte para ir além da etapa de classificação. Com uma derrota já decretada, só um auxílio significativo dos deuses futebolísticos somado a uma extrema competência para evitar que saiam na primeira fase. Foram eficientes contra os Argentinos, mas não o bastante, e perderam gols imperdoáveis num confronto deste calibre, ao contrário dos adversários, que já deixaram claro estarem entre os favoritos ao título, tanto em termos técnicos, quanto físicos e psicológicos. Não pretendem deixar que as bolinhas os impeçam de seguir adiante outra vez.



Presenciar tal atitude mental dos jogadores argentinos me fez temer pelo destino do Brasil, que, como os portenhos, possui uma esquadra tecnicamente muito forte (talvez a mais forte da copa), mas pode ainda não ter adquirido o ar guerreiro que uma seleção campeã precisa ostentar desde a primeira partida. Croácia, Austrália e Japão não constituem um grupo da morte, mas estão bem acima das babas que pegamos em 2002 durante a primeira fase. Discursos como o de Parreira, alegando que sua seleção não pode estrear com 100% da capacidade até fazem sentido, mas são perigosos, pois partem do princípio histórico de que o Brasil "sempre passa" da primeira fase, e isso não existe. Passar da primeira fase requer extrema preocupação em passar da primeira fase.
Como consolo anti-portenho (por mais que eu admire a seleção Argentina, não consigo torcer por ela) resta saber que eles também venceram uma equipe africana na éstreia de 2002, também num "grupo da morte", e, ainda assim, caíram antes das oitavas.

Ocorrerá de novo? Algo me diz que não.



Agora, pulando para o grupo B, Inglaterra e Paraguai disputaram uma partida razoável, sendo que os sul-americanos pagaram caro pelo mal início e, mesmo evoluindo e "mordendo" no segundo tempo, não conseguiram quebrar a marcação inglesa, usufruindo pouquíssimas chances de gol. Sem Rooney, os britânicos não encantaram, mas fizeram partida sóbria, souberam assustar e complicar o Paraguai no começo, e também travar seu poderio ofensivo, evitando espaço para boas conclusões. Mesmo na etapa final, quando o oponente teve mais posse de bola e iniciativa, desfrutaram número superior de chances claras em gol. Alguns comentaristas podem criticar Erikson e seus pupilos por quererem administrar a vantagem em vez de se arricar demais buscando ampliá-la, porém, partindo de uma ótica futebolística inglesa e considerando seus focos no título - semelhante àquele nosso de 94 após jejum de 24 anos - , penso que a turma de Beckham foi inteligente e melhor na maior parte do jogo, apesar das raras pixotadas da defeza e do atrapalhado Crouch. Quem, afinal, pode garantir que sua altura (e o medo que ela provoca em defesas nas bolas aéreas) não fez com que Gamarra se precipitasse um pouco ao interceptar o chute de Beckham de qualquer maneira, marcando contra? Sobre Trinidad e Tobago, pouco de bom para falar. Time aguerrido, não temeu a camisa sueca, mostrou aplicação, empenho, mas pouco poder de fogo. Pode passar da fase de grupos, e, contando com a divina sorte de cruzar com um Equador nas oitavas (algo pouco provável), sonhar em ficar entre os oito, mas é, indubitavelmente, fraco, e deve menos seu pontinho atual na competição a grandes méritos defensivos do que à falta de mira dos atacantes suecos (Allback, em especial), que devem estar possessos em desperdiçar dois pontos quase certos.

Ontem, na ESPN Brasil, Paulo Coelho entrevistou Paulo Coelho, que ilustrou opiniões sobre a copa, er... digo, Paulo VINICIUS Coelho, comentarista esportivo, entrevistou o outro Paulo Coelho, mago em vender livros, que ilustrou opiniões sobre a copa.

E para fechar, um videozinho interessante do mundial. O rock "oficial" da torcida inglesa para a copa da Alemanha. WUNDERBAR ENGERLAND... Digo... BRASILIEN!


Texto também publicado no blog Fanáticos por copa

Friday, June 09, 2006

Reflexões sobre o mundial da Alemanha - parte 1

Eis uma estréia atípica de copa do mundo e de seleção alemã, que em muito me fez lembrar, em performance, aquela que estreou contra a Austrália, meses atrás, pela copa das confederações.
O técnico Jurgen Klismann impôs nova filosofia ao time, procurando quebrar um pouco a vocação defensiva e conservadora que marcou sua seleção nos últimos mundiais. Como na estréia de meses atrás, tivemos um jogo de muitos gols, com uma Alemanha infinitamente mais preocupada em pontuar do que em não levar, falhando clamorosamente no que sempre soube fazer, defender e segurar resultados, mas também jogando um futebol ofensivo, mesmo dentro das já conhecidas limitações técnicas, aproveitando-se, claro, da fragilidade e da falta de ousadia de um adversário que pouco fez senão usufruir bem as pouquíssimas oportunidades que teve.
O placar foi justo e contrariou o mau agouro que aflige grandes seleções em jogos inaugurais de copa, mas esta Alemanha que vimos hoje é tão frágil quanto a da copa das confederações. Fazia muitos gols, mas também os tomava em demasia.
Agradou-me ver a esquadra de Klismann abrindo espaço para chutes de longa distância e não insistindo tanto no velho chuveirinho de costume. Conseguirão eles fugir de suas velhas tendências contra adversários mais fortes, e, principalmente, quando estiverem atrás no marcador? Polônia e Equador, por sua vez, fizeram um jogo equilibrado (e fraco), que não justificou a margem de vitória equatoriana. Os sul-americanos foram inteligentes, administrando bem a vantagem adquirida no primeiro tempo com um jogo cadenciado, procurando brechas na linha de impedimento adversária, mas também tiveram sorte no fim da partida, tomando duas bolas na trave que poderiam ter mudado a história da copa. De impressões marcates, duas. Primeira: este mundial pode ser um campeonato de muitos gols por partida, bem diferente daquele panorama medroso de 90 e 94, que até ensaiou uma volta em 2002, mas que talvez fique de fora em 2006. Segunda: algumas linhas de impedimento vão sofrer na Alemanha, sendo surpreendidas constantemente por aparições relâmpago como a do atacante costa-riquenho Wanchope na partida de abertura. Aliás, por favor, nada de reclamar quando o árbitro validar um gol impedido por centímetros. É justo que, na dúvida, se deixe a jogada correr, pois um gol anulado por impedimento inexistente é mais cruel e anti-futebolístico do que outro validado com o atacante centímetros a frente do último zagueiro. A regra do impedimento foi criada para evitar "banheiras", e não para ser usada como ferramenta anti-jogo pelas defesas.

Uma observação: O cuidado dos locutores Galvão Bueno (Globo) e Paulo Soares (ESPN Brasil) ao pronunciar o nome do goleiro costa-riquenho PORRAS. Enquanto Galvão insistia em adicionar o primeiro nome JOSÉ antes de dizer PORAS ao invés de PORRAS, Paulo fez questão de inventar um acento agudo que transformasse PORRAS em PÓRRAS.
Que PORRA!


comentário também publicado no blog Fanáticos por Copa

Sunday, May 21, 2006

Método "William Bonner" para desmaios seguros. Funciona?



Eis um clichê dos mais conhecidos na TV e no Cinema. Dois personagens: um coloca o outro para dormir com uma porrada na cabeça, geralmente com um objeto de ferro ou madeira. Se estão em luta ou são inimigos, tudo bem. "A" pretendia machucar "B", desferiu o golpe, "B" desmaiou, ok. Se porventura "A" for um expert em artes-marciais ou algo do gênero e, em vez da porrada na cabeça, desfere um daqueles golpes modulados em pontos vitais de "B", sem problema. O vacilo maior ocorre quando este método "infalível" e "seguro" é utilizado como uma espécie de substituto do conhecido clorofórmio e o autor da pancada (que pouco conhece sobre artes marciais ou pontos vitais) sequer pretende comprometer seriamente a saúde da vítima, mas APENAS fazê-la desmaiar por um tempo, seja para levá-la a um local secreto, impedí-la de atrapalhar uma ação ou de testemunhar um fato, como se, ao bater, fosse realmente possível a este agressor avaliar a intensidade ideal de se fazer um sujeito desmaiar sem que, simultaneamente, um osso do crânio seja quebrado, um vaso importante seja rompido, um coágulo sério ocorra, e isso quando também não se pressupõe que a porrada pode, apesar de intensa, NÃO acarretar o almejado desmaio, mas apenas dano físico. É incrível como este "recurso" se calcificou na cabeça dos roteiristas (e do público) a ponto de ser aplicado indiscriminadamente - às vezes precedido de um "Sinto muito, parceiro, mas preciso fazer isso", ou "É apenas para o seu bem!" (suponhamos, por exemplo, que o "agressor" não deseja ver a "vitima" se arriscar numa operação perigosa na qual ela insiste em participar e a faz "dormir" para protegê-la) - , como se a pancada apertasse um botão na cabeça do agredido, desligando-o apenas. Uma pancada para fazer desmaiar tem de ser forte, e, só por isso, já representa um perigo. Além do desmaio, o agredido pode sofrer danos sérios, ou simplesmente não desmaiar. William Bonner talvez tenha confiado demais nesse recurso-clichê quando agrediu o bandido relapso em sua casa e possivelmente tomou um grande susto ao perceber que a realidade responde a nossas ações de modo bem mais complexo do que a ficção (Um rolo de massa funcionaria melhor?). Felizmente o referido meliante não era um víciado em filmes de gangsters, quase sempre implacáveis com a desobediencia de suas vítimas.


Sunday, May 14, 2006

Anão vestido de palhaço mata oito

Eis o título de uma comunidade muito interessante do orkut, dedicada a notícias da mídia cuja manchete consegue valer mais do que a própria matéria publicada. Entre os destaques contidos neste forum , acha-se preciosidades tipo Cachorro consegue título de eleitor na Nova Zelândia, Professora anuncia o fim do mundo a aluno de 6 anos, Sexo com cavalo mata homem nos E.U.A. e Queniano idoso mata leopardo com a língua, todas devidamente explicitadas e "linkadas" às respectivas fontes em seus tópicos de aparição. Pelo visto, o único "headline" apresentado que não costa como um fato real dentro da comunidade é justamente aquele que lhe dá o nome, mas isso é um detalhe irrisório ante a sagacidade criativa de seu idealizador.

O endereço da comunidade é http://www.orkut.com/Community.aspx?cmm=2599389



Wednesday, May 10, 2006

O dia em que um homem salvou o mundo

Buenas notches, moçada! Após mais de um ano parado, resolvi ressuscitar este blog, que, espero, será atualizado pelo menos semanalmente a partir de hoje. E, re-reiniciando este antro epistemológico da análise holístico-tétrica helicoidal do existir, coloco uma história verídica que pouca gente conhece. Quando vemos filmes tipo Maré Vermelha, "Fail Safe" ou Dr.Fantástico, imaginamos que, apesar de possíveis no âmbito real, seus respectivos enredos não estariam assim tão perto de ocorrer ou já ter ocorrido um dia, e que anteparos grossos de sensatez, diplomacia, regulamentações e confiabilidade teriam criado uma larga e segura fronteira entre os elementos da guerra fria e as possibilidades dela se transformar num conflito total. Recentemente, descobriu-se que o mundo esteve perto, e não apenas uma vez, deste desastre, e que, ao contrário do que se pensava, a crise dos mísseis em Cuba não caracterizou o momento em que E.U.A. e U.R.S.S. estiveram mais perto de uma guerra nuclear. Abertos documentos secretos das duas superpotências, soube-se que os anos 70 e 80 também ostentaram episódios marcantes de tensão que poderiam ter transformado parte do planeta num autêntico "Day After". Uma dessas histórias será contada neste blog, a história do dia em que a saúde do mundo dependeu da decisão de um único homem.

Stalislav Petrov, o russo que salvou o planeta



O histórico da humanidade esconde heróis e monstros inimagináveis em suas entrelinhas, que muitas vezes passam despercebidos dos livros por séculos, ou para sempre, enquanto mentiras viram fatos incontestáveis nas salas de aula. Stanislav Petrov era tenente coronel do exército soviético em setembro de 1983, quando a Guerra Fria com os Estados Unidos ainda atravessava fase perigosa e os russos tinham acabado de abater uma aeronave comercial sul coreana por engano, imaginando tratar-se de um jato espião do "inimigo". As duas superpotências apontavam mísseis nucleares uma à outra de várias partes do mundo e contavam com complexíssimos sistemas de defesa capazes de alertar sobre um ataque atômico em segundos, dando tempo ao "alvo" para reagir e também lançar seus mísseis. O resultado de uma guerra nuclear seria óbvio: Destruição mútua dos envolvidos e de grande parte do resto do mundo. Centenas de milhões de mortos.

Sob este cenário, Stanislav Petrov foi escalado para substituir outro oficial no comando de um posto-patrulha ao sul de Moscou, monitorando o sistema eletrônico coordenado por satélite que vigiava aquele espaço aéreo contra possíveis ataques norte-americanos. Qualquer sinal de perigo deveria ser imediatamente informado ao alto comando soviético que teria cerca de doze minutos para reagir no caso de uma investida nuclear. Por fim, o improvável pareceu virar fato quando radares da estação acusaram um míssil se aproximando, algo que Petrov estranhou, já que nenhum inimigo atacaria com um único projétil. O problema é que novos mísseis logo surgiram nos monitores, caracterizando uma possível ofensiva em larga escala, e, como previsto, os colegas de Petrov repassariam a informação, mas foram interrompidos pelo tenente-coronel que desconfiou de seus computadores e preferiu ignorar as próprias ordens, seguindo os instintos, imaginando tratar-se de um simples defeito do sistema. Informar seu alto-comando sobre aquilo significaria um provável contra-ataque russo, já que, diante do pouco tempo disponível, este mal teria condições de avaliar o contexto antes de reagir e aniquilar milhões de vidas, talvez sem motivo. Estar errado, em contrapartida, equivaleria a Petrov condenar seu país ao vexame de ser atacado sem revidar, sem cumprir com um protocolo coletivo histórico de décadas. Felizmente, ele estava certo, ao contrário dos malfadados computadores que precisaram de intervenção humana para evitar uma catástrofe. Mas salvar boa parte do planeta não pereceu satisfazer os superiores de Petrov, que jamais o recompensaram pela "desobediência", preferindo paralisar sua promissora carreira, que ele mais tarde abandonaria. Somente em meados dos anos 90, quando já findada a Guerra Fria e o comunismo russo, pôde Petrov desfrutar algum reconhecimento e gratificação, visto que seu segredo enfim foi revelado. Hoje, seu feito tem lugar certo na hitória mundial, lembrando-nos do perigo que nossos medos provocam quando investimos na indústria da destruição, instigando-nos a não precisar de novos Petrovs para ter um futuro.


Petrov recebe a condecoração de Cidadão do mundo em cerimônia das Nações Unidas realizada em Nova Iorque


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