Monday, December 22, 2008

Pequenas injustiças



Vi ontem o segundo tempo da final do Mundial Interclubes entre Machester Unided, da Inglaterra, e LDU, do Equador (Lembra? Aquele que ganhou do Fluminense nos penaltis). Foram 45 minutos relativamente equilibrados, com uma leve vantagem do clube europeu, mas um LDU aguerrido resistindo ao status de Zebra e dando trabalho ao arqueiro adversário. O leitor pengunta: E as injustiças, onde ficam? no que respondo: O marcador refletiu o jogo, e o LDU, embora vencido, saiu de cabeça erguida.

As injustiças apontadas por mim tampouco se encontram na vantagem financeira que os clubes europeus ostentam ante os adversários sul-americanos que encontram na final do Interclubes. Sim, pode-se dizer que um time capaz de bancar estrelas internacionais do calibre de Cristiano Ronado e Wayne Rooney, além de outras extraídas do continente-mãe dos pobres oponentes que enfrentarão, tem uma vantagem considerável sobre outro que mal consegue ter atletas "top de linha" de seu próprio país. Vantagem esta contrabaleanceada pela diferença técnica entre os campeonatos europeu e sul-americano de clubes, diretamente proporcional à vantagem anterior, ou seja, obstáculos maiores para os time mais ricos do mundo até os dois jogos (semi-final e final) que decidirão o melhor. Uns acham justo. Outros, não. Para mim, este não é o pior dos males. A vantagem natural do clube europeu (nem sempre provada em campo), serve para aumentar o glamour do desafio aos sul-americanos que entram como azarões e podem saír como heróis.



Minha ressalva vai para outra desvantagem, esta sim, cruel, que o sul-americano quase sempre enfrenta nesta decisão. A ausência de seus principais craques, daquele ou daqueles que haviam sido os diferenciais responsáveis pelo trunfo que os levou à Tóquio. O Manchester que venceu o Chelsea há seis meses tinha seus Ronaldo, Rooney e Van der Saar, como teve no mundial. O LDU não tinha Guerrón, transferido ao Gettafe logo que ganhou notoriedade. Quem viu o LDU na Libertadores sabe a diferença entre esse time sem Guerrón e com Guerrón; sabe o trabalho que este homem deu ao Fluminense e o quanto ele foi importante na hora de desequilibrar situações-chave que fazem toda a diferença do mundo, como aquela entre Ronaldo e Rooney que gerou o gol do título.



É a sina do time pobre que vence aqui, perder seu maestro ou maestros antes mesmo de poder autenticar sua conquista, e raras têm sido as exceções. O LDU de anteontem era como a França sem Zidane. Resistente, lutadora, com conjunto, mas sem a alma; não mais o time que venceu América do México e Fluminense.

Até entendo, mas considero injusto. O campeão do continente, já com as óbvias desvantagens orçamentárias que conhecemos, deveria ao menos poder entrar no mundial do jeito que chegou, como campeão do continente, e não como "o que restou do campeão".

Quanto a eventuais comparações com "trocas" em que os campeões europeus perdem seus craques no intervalo entre a UEFA Champions League e o Mundial Interclubes, sabemos que estes times têm bem mais condições que os sul-americanos de repor imediatamente suas perdas, substituindo um craque perdido por um de igual valor, ou às vezes até dois, coisa que raramente ocorre entre os nossos de modo tão rápido.


Saturday, December 13, 2008

Coisas para se fazer antes de perecer



Recebi um meme do Elton, do blog Tendências SA, que consiste em escrever oito coisas que o blogueiro gostaria de fazer antes de ir para a cova. Imaginei algumas bem sacanas, pensei em atitudes altruístas, mas fiquei com a sinceridade, ou pelo menos a sinceridade daquilo que consegui refletir e lembrar enquanto escrevia. Penso em meu altruísmo quase como uma espécie de conseqüência natural de coisas que encaro como missões. O ato de escrever, por exemplo, de inspirar, de esmiuçar temas complexos em palavras simples (temas às vezes pouco explorados pelas idéias correntes), ajudar outros a "ligar peças" e compreender com clareza mensagens subliminares que seus instintos lhe enviavam há tempos, mas até então não conseguiam "decifrar a mensagem". Escrever tem muito disso, mesmo quando fazemos ficção. Construímos um elo, uma troca com almas primas e almas gêmeas; semeamos idéias, elas germinam e influenciam em definitivo a vida de outros. Um altruísmo indireto não menos nobre e duradouro do que construir uma escola ou contribuir, pelo exercício do magistério, com o desenvolvimento de centenas de futuros cidadãos. O cumprimento de nossas missões interiores tende a nos tornar altruístas do melhor modo possível, ainda que inspirando terceiros sem agir diretamente sobre eles. Isso, claro, quando estamos conectados a esse "conjunto de motivações da essência" e conseguimos lhe dar uma cara através de uma atividade correlacionada, algo dificílimo na maior parte dos casos, visto que passamos a vida cercados de influências que nos desviam de nossas reais buscas, impondo outras em seu lugar.

Ademais, segue minha lista. Algumas coisas bobas, outras menos. Peço perdão ao Elton porque minha lista possuirá dois itens extras, que não podem ser omitidos. Nenhum deles pode.



1 - Publicar um romance que escrevi recentemente, e outros livros no futuro, em diferentes estilos e sobre diversos temas, alguns em conjunto com outros escritores.

2 - Conhecer países como Inglaterra e Estados Unidos, que tanto vemos na TV, e, no meu caso, ainda não tive a oportunidade de visitar. Sei que a maioria das pessoas, quando pensa em viagens internacionais, prefere conhecer lugares como Machu Picchu, Nova Deli, Cairo, Roma, Atenas, Paris, Havana... também tenho vontade de ir a essas terras, mas Inglaterra e Estados Unidos estariam no topo da minha lista, dada, talvez, a familiaridade que eu tenha com a língua e diversos aspectos da cultura anglo-americana.

3 - Encontrar minha cara-metade, se é que isso de fato existe.

4 - Ficar em paz com meus familiares, conseguir deixar de lado os conflitos do presente e do passado, dar o passo seguinte e conseguir ver o lado bom de pessoas que foram tão importantes em minha vida. Às vezes, é preciso viajar o mundo para se compreender o valor dos tesouros que sempre nos cercaram. Faz parte da jornada do homem. O mesmo vale para amigos e ex-inimigos, pessoas que infelizmente ainda estou longe de conseguir perdoar do fundo do coração, algo que espero realizar um dia. O mesmo vale para mim. Perdoar-me pela própria inflexibilidade.

5 - Mudar-me para outra cidade, ou ao menos outra parte do Rio de Janeiro, e viajar por diversos cantos do Brasil onde ainda não pude estar.

6 - Fazer uma consulta ou bater um papo com José Ângelo Gaiarsa. Posso mandar um e-mail para ele, mas ainda não o fiz.... (Juro que faço em 2009)

7 - Voltar a dublar filmes como outrora.

8 - Revisitar parentes que não vejo há anos e reencontrar amigos de outros tempos


Itens extras:

1 - Reeditar um certo programa de rádio que fiz em 2001, com o elenco original, hoje espalhado pelo país. Mesmo que seja de graça só para colocar na internet. O programa era muito bom de se fazer.

2 - Dar um basta nessa minha preguiça e procrastinação.


Reenvio o meme para alguns chegados. A regra diz oito, mas o próprio Elton não a obedeceu. A lista publicada no blog dele possui 5 endereços. Mando então para meus parceiros Vulgo Dudu, Sumpa, Ellie, Surfista Platinado, Marcelo e Phernando Faglianostra.


Seguem as regras:

- Escrever uma lista com 8 coisas que sonhamos fazer antes de ir pro beleléu;
- Convidar 8 parceiros(as) de blogs amigos para responder também;
- Comentar no blog de quem nos convidou;
- Comentar no blog dos nossos(as) convidados(as), para que saibam da "convocação";
- Mencionar as regras.

Grande abraço.


Sunday, November 30, 2008

Angústia 2D

Essa semana, passando pela banca de jornal, vejo a capa de uma revista onde o presidente eleito dos EUA, Barack Obama, aparece de costas durante um comício. Instintivamente, volto-me para as revistas penduradas do lado oposto daquele canto da banca, como que querendo ver o outro lado da foto, ou melhor, uma revista que mostrasse o rosto do presidente e aplacasse minha angústia 2D, completando aquele quadro inacabado. Pior que isso, só quando estreei nas arquibancadas do Maracanã e fiquei, por alguns segundos, esperando um replay espírita do gol do Flamengo.

Friday, November 28, 2008

Paul Volker, o homem que nos tirou uma década

Entenda como e porquê através deste comentário de Míriam Leitão efetuado na Rádio CBN.

Para acessar o blog de Míriam Leitão, clique aqui.


Friday, November 21, 2008

Os 10 horrores da sala de cinema



Pegarei carona em um dos memes recentemente postados por nosso colega Vulgo Dudu do blog Cinéfilo, Eu?.

O meme em questão consiste em apontar, na opinião do blogueiro, quais foram os 10 piores filmes por ele já vistos em sua história de espectador. Confesso: fazer uma lista dos 10 piores não é fácil. O número de abacaxis que trespassa meu raciocínio é infinito, e acaba sendo necessário criar algum parâmetro, mesmo que incoerente e ininteligivelmente subjetivo, para justificar as escolhas. Deixei de lado aqueles filmes inocentes, já feitos para ser uma porcaria, reconhecidos como tal e ganhar reprise no "Cinema em Casa". Refleti e conclui que optaria, entre tantas, pelas produções que mais me desapontaram, pelos mais pretensiosos (em alguns casos, até nocivos), por filmes que carregavam uma marca de time grande e jogaram como timinho, ou por casos em que meu horror ante a falta de qualidade foi tanto a ponto de não haver modo de não mencionar a causa, independentemente dos porquês ou de haver porquês. Meu principal parâmetro foi a experiência individual, emocional, inominável. Ainda assim, procurei colocar ao lado de cada escolhido, uma justificativa, o provável motivo que o fez constar em minha lista de traumas, decepções ou mero desprezo cinematográfico.


Seguem os 10 horrores:


1 - Independence Day - Um de meus primeiros mega-desapontamentos com o cinema de ação estadunidense. Devo lembrar que este filme foi lançado ainda no fim da minha adolescência, período em que meu olhar crítico para com Hollywood estava pouco desenvolvido. Pelos comerciais, eu esperava um novo Star Wars, algo grande que marcaria a história do gênero por décadas e me deparo com um roteiro com QI de ameba. "Vírus de computador"? Valha-me Deus! O cara desenvolve um virus em um computador "made in terra" para infectar um sistema de processamento de dados alienígena que ele nem conhece? E o Will Smith aprendendo a pilotar o caça alien em um minuto, simplesmente virando o papelzinho de cabeça para baixo? Independence Day não entrou para o currículo do gênero pela porta da frente como se esperava. Virou apenas um entre infindáveis "trash movies" involuntários de mau gosto e orçamento gigante que marcaram Hollywood.

2 - Pearl Harbor - Outro Trash da linha do Independence Day. Dessa vez, claro, eu estava mais vacinado quando em contato com o "virus". Pearl harbor é uma tentativa patética de juntar a fórmula "high budget - mela cueca" de "Titanic" com a receita patriótico-mitológica de produções como "Resgate do Soldado Ryan". O resultado é bizonho. Um filme careta, idiota, com personagens cheios de certezas burras e frases feitas como se pudessem, a cada momento, sintetizar o drama de situações complexíssimas com meia dúzia de palavras. Cinema reducionista em seu estado bruto, Pearl Harbor é uma das grandes decepções da história da sétima arte. Algumas cenas de ação até chegam a ensaiar algo empolgante, mas depois frustram, descambando para uma inverossimilhança demasiadamente forçada e maniqueísta.

3 - As Panteras Detonando - Seu predecessor, "As Panteras", encabeçou a primeira leva dos "Filhotes de Matrix" que dominariam uma parte significtiva do gênero ação nos anos seguintes, um "cinema-videogame" photoshpado onde tudo é possível aos indivíduos de carne e osso graças às maravilhas da virtualidade no mundo real. "As Panteras" pelo menos funciona dentro de seu nicho, algo que definitivamente não ocorre com "As Panteras Detonando", que, de tão ruim, decepcionou até os fãs mais xiitas do trio. McG era diretor de comerciais e videoclipes quando engrenou com "As Panteras", e parece ter se empolgado com o sucesso do projeto ao ponto permitir alçar "vôos mais criativos". O resultado é um videoclipe de quinta categoria com uma hora e meia de duração. Haja saco!

4 - Dungeons and Dragons - É quase inacreditável que alguém do calibre de Jeremy Irons tenha aceitado integrar um projeto tão grotesco em sua essência. Dungeons and Dragons sintetiza o outro extremo do que pode acontecer quando os "conhecimentos secretos" da computação gráfica são concedidos aos despreparados. Se de um lado temos uma geração de bizarrices pseudo-épicas com delírios de grandeza e efeitos especiais de milhões de dólares que mais fazem rir do que outra coisa, do outro, seus primos pobres (e põe pobre nisso) nos deleitam com peças de ginásio mal filmadas e editadas no PC do vizinho. Dungeons and Dragons gera náusea até em jogos de Playstation 2, de tão mal-feito que é. Os personagens são estereótipos de estereótipos. Aliás, o Shorty, de "Todo Mundo em Pânico", faz um bardo blackstyle nesse filme.

5 - Romeu tem que Morrer - Um Filhote de Matrix que nasceu paralítico. Não sei se deveria colocar este filme na lista, pois mal consegui assistí-lo na íntegra e minha memória fez questão de apagar algumas partes - talvez um mecanismo inconsciente de proteção contra traumas cinematográficos. "Romeu tem que Morrer" pertence à mesma categoria de "As Panteras Detonando" em todos os sentidos, e muito do que foi dito sobre uma "pérola" vale para a outra.


6 - O Imperio do Besteirol Contra Ataca - Kevin Smith ganhou nome no cinema com filmes de baixo custo sustentados por roteiros ácidos, sagazes e originais. O sucesso lhe rendeu atenção do mercado e, conseqüentemente, grana para produções onde pudesse ousar sem grilos orçamentários. "O Império do Besteirol Contra-Ataca" deveria celebrar o trabalho do diretor e o legado de seus dois principais personagens Jay e Silent Bob, que integram quase todos os filmes de Smith. Infelizmente, o cara se empolgou com o melado e se lambuzou. Quis juntar todos os atores importantes de seus outros filmes, ressuscitar ídolos de infância esquecidos por Hollywood (leia-se Carrie Fischer e Mark Hammil), abusar de suas fantasias de adolescente tarado na elaboração do roteiro e entremear tudo com uma trama até promissora, mas muito mal desenvolvida. Exagerou nas bobagens e perversões, esquecendo-se do contraponto que as tornava interessantes em trabalhos anteriores: as falas e situações inteligentes. Smith errou feio até com seus Jay e Silent Bob, aqui uma sombra do que sempre foram como personagens.

7 - Bad Boys II - Michael Bay merece uma menção honrosa, pois dirigiu dois dos dez piores filmes expostos nesta lista. Bad Boys (o primeiro) talvez seja o único bom trabalho em que esteve envolvido. Um blockbuster de ação sustentado, entre outras coisas, pela química dos dois personagens principais e pelas situações inusitadas em que eles se envolvem enquanto arriscam a pele entre explosões e frenesi. Eis o segredo do filme, misturar na dose certa a leveza com a porrada, a comédia, o absurdo e os momentos de tensão real. Bad Boys II não faz jus a nada disso. É um filme estúpido desde o começo, narcisista, mórbido, racista e exageradamente escatológico nas falas e situações. A história não faz sentido. Os personagens são insensíveis e grossos ao extremo. Marcus e Mike perderam toda aquela sutileza de caráter que os tornava interessantes e engraçados. Viraram estereótipos "gangsta rap" da pior espécie. O filme, aliás, é um ode à escrotidão, nos personagens, no roteiro e nas mensagens subliminares que emite ao público. Michael Bay aqui nos dá uma aula de como estragar uma franquia de sucesso.

8 - Fomos Heróis - Se pararmos para pensar, notaremos que o título em português deste longa carrega um equívoco, pois seu nome original (We Were Soldiers) está relacionado àquilo que deveria ser a essência do filme, mostrar os combatentes americanos no Vietnã como soldados no cumprimento do dever, em vez de heróis ou assassinos. Se pararmos para pensar um pouco mais, veremos que, em termos práticos, "Fomos Heróis" faz mais jus ao nome brasileiro que ao americano, exatamente por mergulhar de cabeça na onda "pró-guerra politicamente correta supostamente realista" dominante em Hollywood desde "O Resgate do Soldado Ryan". Esta pérola da pieguice está anos luz aquém do trabalho de Spielberg. É repetitiva, abusa da câmera lenta, dramatiza em excesso seus "momentos chave" e exagera na quantidade deles. Erra na dosagem dos ingredientes e é simplista quando relaciona os personagens com as variáveis morais e políticas da guerra. Irônico, aliás, que "Fomos Heróis" seja apontado por muitos veteranos do Vietnã como o filme mais realista já feito sobre esse tema, apesar das pesadas crítica que recebeu, ao contrário de "Apocalypse Now", unanimidade entre cinéfilos, mas não entre ex-combatentes, que o consideram fantasioso e inverossímil. Como estou mais para cinéfilo que para veterano, fico com a complexidade de "Apocalipse Now" e dou uma banana para "Fomos Heróis".

9 - Joanna D´Arc - O grande problema desse filme tem um nome. Milla Jovovich. Tudo bem que Luc Besson também está longe de constar na minha lista de diretores favoritos, mas tivesse ele escolhido uma atriz com o peso que a protagonista pedia, este filme não seria, de longe, o abacaxi que é. De que adianta chamar Dustin Hoffman, John Malkovic e Faye Dunnaway, se o papel principal, da personagem que é a marca do filme, da moça que na idade média inspiraria hordas de brucutus a lutar pela pátria e vencer, cai nas mãos da protegidinha do diretor, do bibelô que ele tá comendo, da songa monga sem um pingo de expressividade que mais parece uma princesa em apuros no meio dos soldados que deveria liderar e inspirar? O peso dos coadjuvantes acaba por ofuscá-la mais, e também à essência do filme, pautada na força de sua personagem chave.

10 - Street Fighter - Não é raro ver os americanos tomando chocolate dos japoneses na hora de adaptar jogos de videogame para as telas do cinema e da TV. Se compararmos a série animada nipônica, ou o longa oriundo desta série com os desenhos Street Fighter americanos ou o filme estrelado por Van Damme, percebemos o quão grande pode ser a diferença de competência entre quem leva a serio o que faz e quem não leva. A série japonesa era maduríssima e rica na elaboração de seus personagens e tramas enquanto o filme e o desenho americano se reduziam a estórias bobas, infantis e personagens superficiais. Para piorar, Street Fighter foi feito antes da era da computação gráfica, o que expôs ainda mais a mediocridade do projeto, que, de tão ruim, toma pau feio do irmão lançado três anos depois, Mortal Kombat.


Menções honrosas, já justificadas, para Os Espartalhões e seus derivados, e também para os Batmans de Joel Schumacher.




Saturday, November 15, 2008

Amiga da Onça


Depois das porradas, o cinismo. Sarah Palin atacou Barack Obama de tudo quanto é jeito em sua campanha. Associou-o ao terrorismo, ao socialismo, à William Ayers e um monte de gente considerada perigosa pela ala paranoica do povo americano, e isso sem jamais exibir provas para suas alegações. Agora o cara está lá, na Casa Branca, e todo mundo vira amiguinho, todo mundo vem puxar o saco, não é Sarah?

Segue o texto retirado do Site Globo.com


Sarah Palin se diz 'muito otimista' com futuro governo Obama

'Este é um momento histórico para o nosso país', disse ela.

A ex-candidata republicana à vice-presidência dos Estados Unidos e atual governadora do Alasca, Sarah Palin, se disse animada com a futura administração do democrata Barack Obama, durante uma entrevista concedida nesta quarta-feira (12).

"Estou muito otimista. Este é um momento histórico para o nosso país", afirmou Palin, durante um encontro de governadores republicanos em Miami.

"Os americanos vão estar unidos, democratas e republicanos, trabalhando atrás do novo presidente pelo progresso do país", afirmou.


Sunday, November 09, 2008

Muito pior que um besteirol americano



Jason Friedberg e Aaron Seltzer são dois diretores e roteiristas de comédia cujas maiores influências, imagino, devem estar naqueles nonsenses que marcaram época no cinema americano dos anos oitenta, trabalhos de Jim Abrams, David Zucker, como Top Gang, Aperte os Cintos que o Piloto Sumiu, ou Corra que a Polícia vem aí, uma linha, aliás, derivada de um estilo cômico desenvolvido na Grã-Bretanha em meados de 70 por gênios como o pessoal do Monty Python Flying Circus. Seus filhotes oitentistas americanóides nasceram com o selo Hollywood do fast delivery e da cultura de massa que demanda piadas de entendimento fácil, instantâneo, sem rodeios verborrágicos, reflexões ou referências de cunho erudito. Ainda assim, apresentavam uma qualidade apreciável que, pelo menos até certo ponto, justificava a paternidade. Décadas transcorreram e uma nova geração de roteiristas e diretores assumiu o poder da máquina, uma geração que aprendeu a fazer graça com Abrams e Zucker, mas também com o Saturday Night Live, em seus altos e baixos, e, mais recentemente, com o não tão criativo Mad TV, entre outras bobagens de igual calão. Friedberg e Seltzer estão nesse grupo, as cópias das cópias das cópias (e, lembremos, falo aqui de gravação analógica, como nas fitas cassete, em que uma parte da qualidade se perde durante o processo), o eco do eco do eco, a reverberação difusa, careta e inofensiva do que um dia foi iconoclastia de gente grande. Se os Pythons procuravam na filosofia, na política e na história as referências geradoras para seu material, "gênios" como Friedberg e Seltzer têm na MTV, Reality Shows, comerciais e sitcoms de baixa qualidade, a principal inspiração de suas piadas. Duro de Espiar, trabalho de estréia da dupla escrevendo, não chega a ser ruim. Bem abaixo dos grandes sucessos de Leslie Nilsen, é verdade, mas ainda capaz de arrancar risadas (minhas, pelo menos). Depois disso, os dois tiveram a chance de aprender algo (seria possível?) integrando o time de roteiristas de "Todo Mundo em Pânico 1 e 2", outros netos bizonhos da geração Python, filmes que determinariam o modus-operandi da próxima "dinastia nonsense parodia" em Hollywood. O pior disso tudo é que nem igualar o nível destes dois filmes este pessoal tem conseguido. As seqüências da franquia são inócuas, ainda que uma delas contasse com a participação de Zucker, hoje uma sombra do que foi no passado. Os trabalhos subseqüentes da dupla Alka Seltzer/Friedberg (dessa vez escrevendo e dirigindo) são uma piada pronta onde a graça está na incompetência da dupla, que, como outros de sua estirpe, acha que fazer comédia é juntar um punhado de referenciais pop e expor sua ridicularidade essencial à ridicularidade cômica pelo método infanto-pastelão. O problema ocorre quando constatamos que a ridicularidade da paródia pertence à mesma árvore genealógica da ridicularidade a ser parodiada, ou seja, lixo lixificado a uma audiência nascida do dejeto, a nadificação do nada para ninguém ver. Não há vestígio de inteligência, criatividade, originalidade ou bom senso no mecanismo cômico de Os Espartalhões, Date Movie, Disaster Movie e outros tantos blockbusters-paródia sem sustância, sem razão de ser, sem algo que justifique sua existência como filme. São a versão nonsense dos "Gigolôs Americanos" e "Norbits" da vida. E não me venham os porta-vozes do cinema decerebrado defender esses filmes como diversão despretensiosa. Despretensioso era Porkys, Última Despedida de Solteiro, Eu, Eu Mesmo e Irene, Debi & Loide... As produções sobre as quais escrevo estão aquém do despretensioso, aquém do decerebrado, do besteirol, da diversão fugaz, são a derradeira distorção dos fundamentos da sátira e da paródia. Se a paródia visa profanar a aura intocável de um ícone, temos aqui a profanação do próprio papel da paródia, e, de certo modo, a relegitimização do mecanismo que ela pretendia atacar e do falso ícone que ela deveria expor.



Por essas e outras, na hora de escolher entre comédias pós-modernas, fico com outras correntes, com os "despretensiosos" mais sagazes, com a galera do Superbad ou do Tropic Thunder, que sabe ser criativa e fazer jus a seus antecessores, mesmo quando quer sacaneá-los.

Monday, November 03, 2008

GP Brasil (2) - O "quase mico" de Galvão Bueno

Eu bem que achei estranho o Galvão Bueno ter percebido a presença de Timo Glock entre os supostos "retardatários". Confesso que eu não tinha visto o piloto alemão na hora, e só soube através da voz de nosso querido locutor. "E não é que o Galvão estava mais atento que eu?", indaguei-me, "Isso nunca acontece". Revendo a transmissão da Globo pelo youtube, as coisas voltaram a fazer sentido, pois foi Luciano Burti quem viu o carro do Timo Glock sendo ultrapassado por Lewis Hamilton, e se dependesse do incrível senso de atenção de Galvão Bueno, ele teria protagonizado o mico do ano, narrando o título de Felipe Massa em rede nacional.

Parabéns, Burti, por salvar a pele de seu colega.


Sunday, November 02, 2008

GP Brasil (1) - A volta do "Inconformado"

Para quem estava com saudades daquele cara que gritava para a câmera tudo o que muito fã da Formula-1 queria dizer para o Barrichello, mas não podia, ele voltou. E tem mais um recado para nosso Barrica, emitido dias antes do GP Brasil de 2008.

Thursday, October 23, 2008

Memória curta

E agora, uma demonstração de como se deve ter sempre um pé atrás com o discurso e as opiniões dos entendidos, quando se trata de esporte.

Vejamos o que disse o chefão da equipe Renault, Flavio Briatore, essa semana sobre Lewis Hamilton:

"Hamilton aprendeu as lições com a perda do título no ano passado." (
confira nessa matéria)

Mas, na semana anterior, a declaração estampada nas páginas da internet foi:

"Hamilton não aprendeu nada com os erros do ano passado." (confira
nessa matéria)

Pois é? E nego faz reportagens na web e nos jornais em cima de declarações feitas da boca para fora, sem qualquer reflexão, como se "o grande Flavio Briatore", com toda sua experiência no automobilismo, acabasse de emitir um parecer de peso sobre o piloto Lewis Hamilton. Nada. O cara está meio puto da vida, diz uma coisa, sai em todos os jornais, mas na semana seguinte ele diz o contrário, e sai em todos os jornais de novo, só que ninguém se lembra da declaração anterior, como se jamais tivesse existido. E nós, otários, levamos esses jornalistas e "especialistas" a sério. Pois é.



Sunday, October 19, 2008

Pitacos de domingo



Formula 1

- Para nossa felicidade, Galvão Bueno desistiu da expressão "de cara para o vento", pelo menos por enquanto.

- Impressionante o número de vezes que sai um babado pífio sobre Lewis Hamilton nos sites de notícia. "Hamilton anuncia que será agressivo!", "Hamilton janta com a namorada!", "Hamilton diz que está com o título perdido entalado na garganta!", "Hamilton, isso, aquilo...", tá pior que a Bianca Jahara no EGO. Do jeito que Inglês adora babar ovo de celebridade, imagino como deve estar isso por lá. Parece que o Beckham ganhou um concorrente para os tablóides.

- Ainda em Lewis Hamilton, ando lendo por aí que, apesar de poder ser campeão precisando apenas chegar em sexto, o inglês está na mesma situação do ano passado, quando tinha 7 pontos de diferença para Kimi Raikkonen, que levou o caneco. O que esquecem é que no ano passado, seu adversário imediato era Fernando Alonso, então 3 pontos atrás dele, e foi a diferença para Alonso que o fez cometer o erro da largada que resultou na seqüência de vacilos que lhe tirarou o título no Brasil. Se Raikkonen fosse seu adversário direto e com sete pontos atrás, Hamilton não teria pressionado Alonso na segunda curva, não teria errado, perdido posições e apertado o botão do neutro, mas apenas se mantido em quarto e administrado a prova. A verdade é que Hamiton terá uma condição bem mais tranqüila esse ano do que na última temporada.


Mundial de Futsal

- Eu não me espantaria em descobrir, por exemplo, que nosso campeonato nacional de futebol de campo tem mais estrangeiros inscritos do que essa copa do mundo aí, cheia de brazuca.


Sarah Palin

- A caçadora de alces resolveu aderir à tática do "se não pode vencê-lo, junte-se a ele", e deu a cara para bater no Saturday Night Live essa semana. Gostei dos quadros, mas a performance dela, como esperado, foi bem fraquinha. O programa, que a esculachou em paródias anteriores, pegou um pouco mais leve nesse, mas não abriu mão de algumas agulhadas na moça. A idéia de vê-la no show como convidada antes da eleição pode melhorar sua imagem de forma desnecessária (para quem torce contra, como os envolvidos no programa) e atenuar os efeitos das sacanagens anteriores (será?), mas é justa, pois Obama, Hillary e McCain tiveram essa oportunidade.

Abaixo, dois links para os quadros em que ela participa:

Abertura do programa

Rap de Sarah Palin


Caso Eloá Pimentel

- Alguém diz lá para o Lindemberg que ele ainda não conheceu o diabinho de verdade, mas vai conhecer, e em diversos tamanhos.


Thursday, October 16, 2008

Até quando, Dunga?



Não asssisti hoje ao terceiro e último debate entre McCain e Obama, e nas raras vezes em que sintonizei a CNN, vi os dois deliberando os mesmos assuntos do sempre. "Tax Cuts", "Helth Insurance", bla bla, bla....

Fiquei na Globo torcendo para que a seleção brasileira aproveitasse a oportunidade de faturar 3 pontinhos em casa e deslanchasse um pouco na tabela, podendo então perder como sempre faz para o Equador na altitude de Quito sem sair a segunda colocação.

Não deu, aliás, não deu mesmo. O jogo foi terrível e, se tivessem um pouco mais de paciência e soubessem valorizar a posse de bola em vez de dar chutões a esmo cada vez que chegavam perto da grande área, os colombianos poderiam ter saído daqui com uma vitória. Quanto ao Brasil, faltou entrosamento, faltou talento no meio de campo e nas laterais, faltou virada de jogo, passe longo de qualidade, jogada aérea, e sabe-se lá o que mais.

Nosso querido Dunga parece não se importar, por exemplo, em ter um bom cobrador de falta ou de escanteio durante a partida. Talvez para ele as tais jogadas de bola parada não façam muita diferença no placar, ainda que os fatos digam o contrário. Não me lembro de algum dia ter visto uma seleção brasileira que não possuísse um bom cobrador de escanteio e de falta, como nessa nova "era dunga". Em 2006, possuíamos três que sempre brigavam para ver quem batia. Ronaldinho, Juninho e Roberto Carlos. Hoje, a cada ausência de Ronaldinho, precisamos aturar Elano, Julio Baptista ou Pato na função, o que chega a ser uma afronta ao bom senso do torcedor, como também é uma afronta não ver jogadas ensaiadas que compensem essa carência.



Até quando nosso querido Dunga manterá seu esquema de 3 volantes mequetrefes para um elemento criativo no meio-de-campo? Não sou contra a presença de três volantes, desde que pelo menos um ou dois saibam partir com a bola nos pés quando preciso, dar um drible ou um passe, e nosso "trio de ferro" Josué, Elano e Gilberto Silva só sabe mesmo é marcar e correr. Nas laterais, o mesmo problema. Kleber ainda pouco a vontade e Maicon errando nas subidas, errando nas tabelas e nos dribles. Se há um ano esse time de meia-bocas podia compensar sua falta de talento com um certo entrosamento e um jogo coletivo veloz, agora não pode mais, e na individualidade fica muito difícil aos carregadores de piano dessa geração resolverem alguma coisa. Sem laterais, sem homens vindo de trás do meio de campo, sobra para Lúcio e Juan, que além de se sobrecarregarem na defesa, precisam fazer a função dos volantes e subir para o ataque. Não adianta esperar que Kaká, Robinho e Jô resolvam tudo. Além disso, a maneira que Dunga arma o time exige participação ofensiva dos volantes e laterais coordenados. Se não tem, fica difícil. A incapacidade de se fazer lançamentos longos que sobrevoem as tais "linhas de quatro" e deixem Joãozinho e Miguelito na cara do gol é flagrante a ponto de me fazer odiar Juninho Pernambucano e Zé Roberto por terem virado as costas à seleção numa época em que seriam tão necessários. Culpa de 2006, onde tivemos fartura, mas não sensatez, e mágoas ficaram nos que queriam e podiam jogar sério. A nova "era Dunga" está pagando o preço.



Sobre Ronaldinho, ok, está fora de forma e tal, mas não dava para colocar no banco? Ora essa, ele jogou mal contra o Chile, mas alguém lembra do primeiro gol? Foi de falta, não? Uma cobrança bem executada na cabeça de Luis Fabiano e "ops", "gol", não? Pois é! Quem é que vai bater as faltas agora, Dunga? O Elano? Pelamordedeus!

Li num site uma declaração de nosso técnico: "Diferentemente de antes, estamos ganhando jogos fora de casa". Não é bem assim, Dunga. Nas eliminatórias para 2002 e 2006, vencemos, ao longo do primeiro turno da competição, duas partidas entre de cinco disputadas fora de casa, exatamente como agora, e até que você ganhe um terceiro jogo em solo adversário no segundo turno, o que espero e torço que consiga, não pode alegar que fez melhor do que Parreira ou Luxemburgo nas gestões anteriores. Nosso segundo lugar na tabela se deve mais aos tropeços dos adversários do que a méritos próprios. De bom, pelo lado canarinho, só a linha final da defesa, Juan, Lúcio e Julio Cesar, o verdadeiro "trio de ferro" a evitar que repressa estoure. No mais, muito "lero-lero" e pouco futebol. Até quando?




Roubini, o homem que previu o pior



O texto a seguir foi extraído do blog da Míriam Leitão

O economista Nouriel Roubini, o bola de cristal de ouro do mundo, que previu tudo isso que está aí, mandou para seus clientes uma análise demolidora sobre os próximos riscos.

O que pode acontecer de pior a um sistema financeiro? O risco sistêmico. Pior que isso só um risco sistêmico global. É o que ele acha que pode acontecer agora.

O que de pior pode acontecer à economia real? Uma depressão. Pois esta palavra está na análise dele.

O pior de Roubini é que quando ele previu a recessão, a crise financeira e a quebra de instituições até como a gigante Fannie Mae e Freddy Mac ele foi ridicularizado pelos economistas do mundo inteiro. Riram dele. Isso foi em 2006. Em 2007, ninguém mais achava muita graça, mas a frase mais comum sobre que ouvi de alguns bons economistas brasileiros é: até relógio está certo duas vezes por dia. O pior de Roubini é que ele tem estado certo o tempo todo. E agora dobra a aposta. "O mundo está em um severo risco de um derretimento financeira global sistêmico e uma severa depressão global".

Ele acha que por isso é necessário uma ação urgente global. Como o G-7 está reunido neste fim de semana, quem sabe eles são tomados pelo sentido de urgência.


Quando ele fala global, ele está falando principalmente de "Estados Unidos e economias desenvolvidas". Ufa! nunca gostei tanto de não estar na lista dos países mais ricos. O problema é que os Estados Unidos, Europa, Japão, Canadá, Austrália, Nova Zelândia representam, ele lembrou, 55% do PIB mundial e por isso afetarão todos os outros países se entrarem todos em recessão.


- Por isso, mesmo países com bom desempenho como os Brics - Brasil, Russia, India e China, estão sob ameaça de um "hard landing" ( uma queda forte e rápida do nível de atividade).
A tese dele desde o começo é que existia um sistema bancário na sombra. São os fundos, bancos de investimento, brokers dealers, não bancos emissores de hipotecas, firmas de private equities, tudo aquilo que estava fora do radar das autoridades. Ele disse que agora está se vendo um desmonte desse sistema das sombras e isso é que está por trás da queda livre das ações e da paralisação do sistema bancário com as taxas de riscos subindo muito e os negócios parando.
Previsões pessimistas têm uma vantagem: alertam as autoridades para o tamanho do risco e por isso ajudam a prevenir o pior. Essa é a grande vantagem de Roubini, que tem sido o mais pessimista dos economistas do mundo e tem acertado com uma precisão de relógio, infelizmente. Em parte porque quem deveria levá-lo a sério ainda não levou. Acham que ele é um exagerado.


Mais sobre Roubini (em Inglês) neste link do New York Times e em seu blog pessoal.



Thursday, October 09, 2008

Obama e McCain - Round 2



Para quem viu o primeiro debate entre os presidenciáveis norte-americanos John McCain e Barack Obama, o segundo, ocorrido anteontem, pode ter soado como a versão mais extensa de um mesmo filme, um "American Apocalypse Now Redux", com cenas extras, principalmente na primeira metade, quando se falou mais da crise nacional e de sua relação com a classe média. Em essência, não vimos um filme muito diferente do anterior.

Como no primeiro debate, McCain procurou aproveitar as questões de política externa para mostrar ao público o quanto Barack Obama é ingênuo e despreparado para lidar com detalhes de negociação internacional e estratégias militares, como quando este propõe uma retirada do Iraque com data marcada ou quer sentar na mesa com líderes de nações "hostis" sem antes estabelecer pesadas pré-condições, como Bush tem feito. O problema é que os desfechos recentes não favorecem McCain, e a cada ataque, Obama simplesmente responde que as políticas militares e diplomáticas apoiadas por seu adversário vêm fracassando no plano prático, afastando os EUA do resto do mundo.



É duro para McCain, ainda que seja considerado uma força renegada em seu partido, distanciar-se da posição de situacionista ante os espectadores. E num momento político e econômico tão negativo, isso lhe é brutal. Indicar Sarah Palin para vice pareceu uma tacada de mestre, na opinião de muitos, quando ela roubou parte do brilho e "jovialidade" da campanha adversária, mas suas gafes vêm transformando este sucesso inicial num problema. A atenção que ela naturalmente ganhou faz com que cada erro seu reverbere em incessantes críticas, paródias e sarcasmo midiático, manchando-lhe a imagem política até para depois da eleição, quer perca ou ganhe. Palin definitivamente não estava preparada para os empecilhos de uma campanha à vice-presidência.

Obama tem frases belas e um perfil que parece cair como uma luva para este momento de possível transição na história americana. Se sua inteligência, serenidade e postura política transgressora são mais retórica que realidade, só saberemos depois de novembro, caso vença. Por enquanto, ele só precisa parecer apropriado, algo que tem feito, evitando contra-atacar todas as investidas de McCain ou partir para uma postura agressiva. Suas hesitações do primeiro debate, onde de fato aparentou leves ares de desperaro ou desconhecimento em questões como a mudança da política militar americana na guerra contra o terror, foram abrandadas no debate seguinte, ainda que seu discurso não mudasse muito. Quis denotar força ao falar em jogar duro com Paquistão e Rússia, mas nele se nota uma certa ingenuidade de juventude, a mesma que prejudicou os primeiros anos do mandato de Kennedy e seus encontros iniciais com Nikita Kruschev. Há situações em que inteligência precisa de rodagem, e só a vivencia resolve isso. McCain tentou explorar esse aspecto do adversário sem sucesso.



Outro foco chave do debate foi a questão energética. McCain falou em auto-suficiencia e deixou claro, ainda que mencionasse energia alternativa, que seus principais investimentos serão energia nuclear e novos poços de petróleo. Para Obama, as fontes alternativas de energia parecem estar mais em pauta, embora a nuclear também apareça em sua agenda.

Houve importantes pontos de discórida entre os dois quanto à políticas de impostos e mudanças no sistema de saúde. McCain quis mostrar Obama como alguém que pretende, em sua plataforma de cortes e gastos, gastar mais do que cortar e tirar mais dos pequenos empresários num momento de crise em que seus impostos não podem ser aumentados. Obama defendeu-se, alegando que não pretende gastar mais do que cortar, e sim o inverso, remanejando a distribuição de gastos e arrecadação pública a fim de torná-los mais proveitosos para o país e o povo. McCain contra-atacou e acusou Obama de votar a favor de Bush ou do partido em diversas questões, como energia ou aumento de gastos.



Ao falar da crise, os presidenciáveis culparam a crescente "desregulação" das transações financeiras na última década. McCain ligou Obama aos trabalhos da Freddi Mac e Fannie May, colocando-o como o segundo maior receptor de doações dessas duas companhias, ao passo que ele, McCain, teria sido contrário as propostas de aumento de crédito imobiliario que elas incentivaram. Obama soube responder a altura e este talvez tenha sido seu melhor contra-ataque em todo o debate. Primeiro, fez um breve retrospecto de sua posição e da do adversário em relação à desregulação em Wall Street nos últimos anos. Em seguida, afirmou que jamais deu apoio à Fennie May, ao contrário do diretor da campanha de McCain, cuja firma é lobista da empresa.

No mais, o que todo mundo viu foi um repeteco elaborado do debate anterior, com McCain criticando a retirada de tropas proposta por Obama e suas "ameaças" abertas ao Paquistão, Obama retrucando com "Bomb, bomb, bomb Iran" e o fato de ter sido contra a guerra no Iraque desde o começo, McCain defendendo o sucesso do "surge" e acusando o oponente de não tê-lo apoiado, Obama técnico, holístico e perdendo chances de atingir McCain com mais eficácia enquanto este desferia jabs fracos e longes do alvo. Talvez a raíz do "fenômeno reprise" estivesse na própria natureza dos temas, praticamente os mesmos do debate anterior. Russia, China, energia, Irã, Iraque, Afeganistão, Paquistão, nada de imigração, nada de america latina ou políticas conjuntas de desarmamento mais eficazes. O momento agora parece ser de "fortalecer a America" e todas as perguntas e respostas seguem nessa direção. As recentes acusações de Palin sobre associações entre Obama e Billy Ayers não foram levantadas.



Quanto à linguagem corporal dos candidatos, elemento importante na opinião de boa parte do público, Obama parece ter levado vantagem. Mostrou-se mais sereno ao falar ou ouvir críticas do oponente. Olhou-o nos olhos enquanto McCain lhe virava as costas ou se referia ao democrata como "that one" em tons de sarcasmo.

Para a mídia, Barack venceu este round. Para mim também, com uma pequena diferença. Foi mais claro em suas propostas internas (ou menos vago, como preferirem). Se a campanha de McCain não achar um podre do adversário até novembro ou Obama não cometer grandes deslizes, teremos, em 26 dias, o primeiro presidente negro da história estadunidense. Ou isso, ou estamos só testemunhando uma nova edição do "efeito Bradley", o que, espero, não seja verdade.

Enquanto isso, Tina Fey mostra que está ainda mais afiada em seu novo personagem. A imitação que faz da "quase irmã gêmea" Sarah Palin no debate dos Vice-Presidentes é de tirar o chapéu.


Monday, October 06, 2008

Materialismo espírita (ou vice-versa)

Ontem revi um trecho do filme "Jesus Camp", documentário sobre um acampamento de verão para crianças evangélicas onde estas sofrem a típica lavagem cerebral em nome de cristo. Até aí, nada além do usual que já conhecemos. Bizarras mesmo são as artimanhas do diabo materialista para arrebanhar os discípulos de Nazareth à sua causa. "Aquecimento global não é coisa do homem" é uma delas. A segunda é associar desapego material com utilização irrestrita dos recursos do mundo, ou seja, "um dia vamos morrer mesmo, o importante é o espírito, o juízo final chegará, a matéria nada vale, podemos usar e abusar dos recursos do planeta sem qualquer consciencia ecológica.".

O diabão corporocrata transforma ecologia em materialismo, materialismo em desapego e um bando de otários que se pensam cristãos caem de quatro gritando "Amem". Acordem, idiotas! Seus pastores são ateus!

Monday, September 29, 2008

Tio Sam e a liberdade

Clique na tirinha para lê-la no tamanho original


fonte: sinfest.net

Tuesday, September 23, 2008

Tina Fey interpreta Sarah Palin



Desde o primeiro anúncio de Sarah Palin como postulante à vice-presidência dos Estados Unidos, estava escrito na mente de todos o nome da atriz que deveria parodiá-la no famoso Saturday Night Live. Tina Fey, uma das maiores comediantes americanas da atualidade, já estava fora do elenco regular do programa, mas foi chamada de volta a um papel que não poderia ser dado a outra pessoa. A nova temporada do Saturday Night Live estreou essa semana e com o pé direito: um pronunciamento conjunto de Sarah Palin e Hillary Clinton, interpretadas respectivamente por Tina Fey e Amy Pouhler.

Sunday, September 21, 2008

O lado oculto da bondade

Você se lembra desta cena???



Ela ocorreu em 1991, ao fim do Grande Prêmio do Japão, que deu o tricampeonato mundial a Ayrton Senna da Silva. Seu rival na pontuação, Nigel Mansell precisava vencer esta prova para se manter brigando pelo título. Senna, então na McLaren, elaborou a estratégia de deixar seu companheiro de equipe Gehard Berger pular na liderança enquanto ele, Senna, seguraria Mansell em terceiro. Mansell não consegue ultrapassá-lo, perde a cabeça, a tomada da curva e vai parar na caixa de brita, sagrando o brasileiro campeão antecipado. Berger então perde rendimento e a liderança da prova para Senna, que guia tranquilo até a última volta, quando decide presentear o colega com a vitória, como mostra o vídeo. Para o mundo, um ato de grandeza e gratidão. Para Berger, um gesto vazio e desnecessário, como ele admite em sua biografia:

"Foi uma árdua e maravilhosa luta entre dois oponentes equilibrados. Na segunda metade da corrida, meu escapamento quebrou, eu perdi rendimento e tive de diminuir o ritmo, mas estava pronto a me sentir feliz com o segundo lugar. Tudo estaria bem se cruzássemos a linha de chegada um depois do outro, um grande primeiro e um respeitável segundo. Mas, em vez disso, ele tirou o pé logo antes da chegada e eu não tive tempo para pensar e, portanto, o ultrapassei. Poderia ter acontecido de ele ter ficado sem combustível. Seu "grande gesto" foi vazio, pois se ele quisesse, do fundo do coração, fazer algo significativo para mim, depois de uma temporada sem brilho, ele teria feito umas dez voltas antes: daríamos um belo espetáculo e no final eu ganharia. Mas o modo como ele fez mostrou ao mundo inteiro quem mandava e que sua pontuação no campeonato era tal que ele podia se dar ao luxo de fazer alguma coisa pelo pobre Berger. O fato de o escapamento ter realmente me prejudicado foi apagado e tudo o que ficou foi seu brilhante show de força e sincera generosidade. Oficialmente, é claro, tive de me mostrar satisfeito, porém, por dentro, estava soltando fumaça. Acho que ele também percebeu, mas, de qualquer forma, nunca trocamos uma palavra sobre o acontecimento. Eu não agradeci e ele não explicou quais foram suas razões para ter feito o que fez."


E disso, Galvão, você também sabia?


Wednesday, September 10, 2008

Reaças em alto mar



Enquanto o resto do mundo reza para que Barack Obama crave um fim na era Bush e devolva um pouco de sensatez à Casa Branca, há uma parte significativa do povo americano unindo forças para perpetuar o absurdo de suas já conhecidas crenças e, conseqüentemente, seu estilo de vida. Gente que vê nos Estados Unidos da América o guardião mundial dos bons princípios do planeta e o direito de dirigir e explorar povos que mal conhecem e dos quais dependem a fim de manter sua redoma artificial de débito, consumismo, corporocracia, isolamento, poluição e ignorância, hoje em crise ante os olhos da política e economia mundial. Para tantos entre nós parece absurdo que, no evidente fracasso do mandato de George W. Bush, John McCain ainda consiga se manter empatado com Obama nas pesquisas. Quem são esses americanos que sustentam a gangue de Karl Rove na Casa Branca há oito anos? Quem são os alienados que insistem em ver na invasão do Iraque um sucesso inquestionável e uma missão com propósitos divinos? Sabemos que, sob o ponto de vista interno, duelos entre democratas e republicanos dizem respeito a mais coisas do que as questões internacionais que nos chegam via TV e internet. O eleitor yankee comum pode ser tão egoísta quanto qualquer outro, e se somarmos este egoísmo ao egoísmo cultural que a mídia, os códigos vigentes e sua própria voluntariedade o submetem, temos um conjunto de populações isoladas da realidade pela fé em princípios ultrapassados. Um tradicionalismo político-religioso de trocentos anos afundando ao sopro dos novos tempos, insistindo em agarrar-se no que pode, demolindo o mundo inteiro, se preciso, para não perecer. Sarah Palin é a nova cartada dessa gente. Uma figura de ares joviais, um neo-feminismo anti-feminista, uma aura de vencedora, de boa mãe, boa esposa, embalagem sofisticada e "hip" o bastante para atrair novos públicos a velhos ideais, como a volta do criacionismo às escolas, o fim da lei do aborto e do casamento homossexual. Se os liberais têm em seu Obama um possível elo com uma nova América, os conservadores apostam em Palin para dizer que o velho também pode ser novo, ou ao menos parecer novo. E na terra da ilusão e do entretenimento, o "show de luzes" tem mais importância do que palavras na hora de aumentar o rebanho.



Lembremos que Sarah será vice de um homem de 72 anos, com várias reincidências de câncer e um histórico médico que, nos últimos 8 anos, ultrapassa as 250 páginas.

A leitores curiosos sobre quem seriam ou como pensam esses republicanos comuns (e incomuns) que pouco aparecem na MTV, um artigo interessante. A revista Le Monde Diplomatique publicou em fevereiro uma matéria sobre um cruzeiro realizado para assinantes da National Review, bíblia do conservacionismo americano. O jornalista inglês Johann Har penetrou a "nau dos reaças" para analisar o perfil de seus viajantes; o que eles dizem quando longe de "ouvidos indiscretos". A matéria é de tirar o chapéu.

Para lê-la, clique
aqui




Tuesday, September 09, 2008

"Fumble" Jornalístico?


Acabei de ler no site do Globo, uma matéria sobre a NFL, Liga Nacional de Futebol Americano. Segundo a página, houve uma mudança na regra do sorteio da moeda, que a partir desta temporada, permitirá que o vencedor ganhe a opção de receber a bola no segundo tempo. De acordo com o texto, até então, o vencedor podia "apenas" escolher se começaria o jogo chutando ou recebendo o chute. Ora essas! Qualquer um que conheça o mínimo deste esporte sabe que se o vencedor escolhe começar "chutando", isso significa que ele deverá receber no segundo tempo (ou terceiro quarto, como preferirem). Em suma, ou essa parte da matéria está mal explicada, ou os caras simplesmente escreveram abobrinha.



Friday, August 29, 2008

Ecos de Pequim - Parte 3

Biscoito da Sorte. Chinês ou Paraguaio?



O texto e o vídeo a seguir foram extraídos do blog de Renata Leal.

Sabe aqueles biscoitinhos da sorte que ganhamos em restaurantes chineses? Pois eu sempre pensei que fossem de tradição chinesa mesmo. Que nada, eu estava enganada! Os chineses nem conhecem o tal biscoito. O vídeo abaixo mostra várias pessoas surpresas ao prová-lo. Fui fuçar na Wikipedia e descobri que os biscoitos são de origem japonesa. Na forma como estamos acostumados a ver atualmente, eles foram servidos primeiro na Califórnia (pasme!).




Thursday, August 21, 2008

Ecos de Pequim - Parte 2

Por que elas não conseguem vencer?



Aconteceu de novo.

O melhor time do mundo, da melhor jogadora do mundo, do melhor futebol do mundo, morrendo na praia para onze "branquelas" (ou quase isso). Aliás, perdoem-me o termo. Longe de mim qualquer alegação racista contra nossas oponentes, que, de algum modo, mereceram seu ouro ou título cada vez que o conquistaram.

Por que, perguntamos, nossas moças não conseguem vencer? Por que uma geração tão prodigiosa, tão constante na presença em finais e superior às adversárias em iniciativa erra trocentas chances e é surpreendida numa jogada corriqueira, um contra-ataque ou uma bola que sobrou? Haverá explicação plausível ou seria só um capricho do destino?



Na TV, ouvimos o locutor lamentando uma repetida injustiça contra nossas "guerreiras", nosso talento superior e merecimento. "A bola insiste em não entrar", ele grita. "Essa prata vale ouro", ele diz. Acho justo que se reconheça o mérito do esforço, da garra, da perseverança e superação: alicerces do princípio esportivo, recompensáveis no triunfo e na derrota desde tempos imemoriais, quando a primeira competição foi inventada. Igualmente justo reconhecermos o talento mais elevado, a melhor jogada, jogador, atuação, e nisso o Brasil sobrou neste futebol olímpico feminino, como também em Atenas há quatro anos e no último mundial. Jogou, brigou, galgou bem cada passo na trajetória rumo ao título até perecer na grande final, desmerecidamente, ao menos em duas ocasiões.

Então é isso? Trapaça do destino? Mérito irreconhecido pelos Deuses dos esportes?

Não creio.



Nosso merecimento é louvável, mas num jogo como o futebol, questões como superioridade técnica e garra podem ser essenciais, mas insuficientes na construção de um campeão. A categoria masculina amargou 24 anos de jejum proclamando-se campeã moral a cada copa perdida, a cada semi ou quarta de final onde nosso "melhor futebol" desvanecia ante um oponente teoricamente mais fraco que sabia aproveitar uma chance e segurar-se na defesa. Levamos 24 anos para entender ou reaprender que um campeão também é forjado em detalhes; que erros ou acertos de segundos podem ser mais relevantes numa decisão do que uma partida inteira bem realizada. A "geração Dunga" tinha talento em Romário e Bebeto, mas não era melhor que a de 82, por exemplo, que perdeu duas copas seguidas. Os tetra-campeões venceriam pela garra, pelo talento, sorte, mas também porque foram bem preparados para detalhes que diferenciam grandes equipes de campeões do mundo, nem sempre tão excepcionais. Defenderam-se bem, erraram pouco, não deram contra-ataques, prezaram em não perder gols, ainda que os desperdiçassem em alguns jogos; treinaram situações adversas e souberam aliar talento individual à interação coletiva, com e sem a bola nos pés, coisa que, a meu ver, sempre faltou a essa seleção feminina, ainda que conseguisse compensar isso na qualidade ímpar de algumas atletas e por isso chegar longe.



Nosso brasil de saias ainda é um time individualista, e no futebol, o jogo não se faz apenas onde a bola está, mas onde ela não está. Quantas vezes vimos Marta ou Cristiane ou Daniela tentando resolver um lance sozinha enquanto as companheiras, carentes de noções básicas de colocação sem bola, mal se movimentavam, ou o faziam para o lado errado? Alguém se lembra de Ronaldo e Rivaldo na final de 2002? De Romário e Bebeto? Do "toca daqui que eu deixo de lá"? De 2, 3, 4 ou 5 jogadores, um entendendo o outro, um facilitando o trabalho do outro, um deslocando a marcação para o outro em séries de dribles, fintas e triangulações de caráter coletivo, como se juntos formassem um organismo fluido chamado "ataque"? Alguém recorda o gol do Carlos Alberto na final de 70, uma das maiores obras do gênio coletivo na história das copas? Nosso futebol não foi o melhor do mundo tantas vezes só pelo talento de indivíduos, mas também na capacidade desses gênios em unir seus dons, tornando-os complementares, coisa que não fizemos em 2006 e que sempre faltou a essa seleção feminina, ainda que ela seja, a meu ver, a melhor do planeta há anos. Não conseguiu transpor a fase ingênua do futebol, pura, "peladeira" e passível de erros bobos. É mais ou menos como uma Nigéria ou Camarões nos anos noventa, mas com adversárias talvez menos infalíveis e por isso chegaram tão longe e até poderiam vencer, apesar dos defeitos.



Lembremos também que as americanas tiveram oportunidades claras de gol e uma bola na trave. Feitos pouco mencionados por Galvão Bueno em sua avaliação do jogo. Souberam usar a inteligência, a tradição e a experiência para dificultar a troca de passes do Brasil em sua defesa, tornado nossas jogadoras dependentes de sobras em "bate-rebate" e de lances individuais, cansando-as, já que "se moviam mais que a bola" para atacar. Nossa escassez de bons passes longos e curtos ou cruzamentos também colaborou para a derrota.

Não digo que isso explique sumariamente porque um time ganha e outro perde, já que o futebol também é feito de imprevistos, injustiças e lances inusitados de caráter decisivo. É importante, todavia, que se procure entender e raciocinar sobre os possíveis fatores que repetidamente impedem uma geração talentosa de fazer valer sua superioridade na obtenção de títulos. Lamentar a falta de sorte ou exaltar o espírito olímpico e a habilidade de nossas atletas pouco agraciadas pela balança da fortuna é menos importante do que desconstruir vícios entranhados em nossa mentalidade e modo de jogar. Devemos lapidar estes talentos sob o ponto de vista coletivo, aprimorar fundamentos e jogadas básicas, às vezes não tão belas, mas essenciais em se compor um leque de opções para jogos decisivos quando o "prato principal" não funcionar. Lembremos que gols de cabeça, de barriga e gols contra valem tanto quanto os de bicicleta.


Wednesday, August 20, 2008

Ecos de Pequim - Parte 1

Felizmente, apenas o McDonalds e a Rede Record aderiram a chamar Pequim de Beijing, nome chinês da cidade, porém usado por essas franquias muito mais em virtude de sua difusão via Estados Unidos, onde a capital chinesa também é conhecida pelo nome de origem.

Deixemos de lado os pormenores e partamos ao que interessa. Em algumas horas, duas grandes decisões mexerão com o espírito olímpico brasileiro. Às nove, o volei feminino terá sua maior chance de integrar uma decisão pelo ouro. Às dez, nossas mulheres do futebol tentarão consertar a injustiça de 2004 e conquistar o título importante que já está batendo na trave há milênios. Tanto elas quanto suas colegas da quadra jamais venceram um dos dois torneios mais prestigiosos de suas categorias.



Comecemos com o volei, sobre o qual devo prosar em outro post, caso consigamos a tão sonhada vaga na final. José Roberto Guimarães preparou estas atletas como nunca. Temos um time alto, focado, preparado, completo e que parece ter assimililado bem as lições do passado. Jamais fomos tão favoritos ao ouro; jamais chegamos a uma semi-final sem perder um set. Daqui em diante, isso valerá pouco. Tecnicamente, a China não é a mesma de quatro anos atrás e não parece tão temível. Perdeu para nossos dois possíveis adversários da final, mas demonstrou capacidade de superação no triunfo contra as Russas, ainda que suas adversárias também colaborassem com o placar numa atuação aquém da tradição. Fatores como torcida, experiência em decisões e autocontrole podem ajudar as chinesas contra o Brasil. Lembremos que nossa última derrota foi justamente contra elas no Grand Prix, e apesar dos altos e baixos que as asiáticas demonstraram de Atenas até aqui, não foram poucas as vezes que nos deram trabalho. Penso, porém, que nosso maior desafio virá do outro jogo, e talvez nem da invicta Cuba, mas de uma surpreendente seleção americana cuja reputação se fortalece há tempos e parece demonstrar evolução ao longo do torneio. Lembremos também que, dos quatro semi-finalistas, apenas um integrava o grupo do Brasil, supostamente o mais forte. Nossos três concorrentes não nos enfrentaram em Pequim. Motivos para cautela? Sim. Para pessimismo? De jeito algum. Somos sim favoritos ao ouro.



No futebol de saias, Brasil e Estados Unidos talvez constituam a maior rivalidade do globo, ainda que nossas meninas jamais tenham conquistado um título importante. Fala-se muito numa revanche de 2004, mas não devemos esquecer que, do outro lado, há alguém mais mordido, bem mais mordido, remoendo uma goleada que abalou severamente e auto-estima de um país que tem no "soccer for women" uma tradição de prestígio e vitórias comparável à nossa do "soccer for men". E americanos costumam ser terríveis quando alimentam ressentimento de um adversário ou inimigo. Estudam-o por meses ou anos, não esquecem, não descansam, não aliviam. O basquete feminino de Barcelona esteve aí para provar. Se nossas jogadoras têm no fato de jamais haverem conquistado o ouro olímpico ou uma copa do mundo a motivação ideal para jogar como nunca nesta final, as americanas também possuem seu elemento de estímulo. Vingança.