Friday, August 29, 2008

Ecos de Pequim - Parte 3

Biscoito da Sorte. Chinês ou Paraguaio?



O texto e o vídeo a seguir foram extraídos do blog de Renata Leal.

Sabe aqueles biscoitinhos da sorte que ganhamos em restaurantes chineses? Pois eu sempre pensei que fossem de tradição chinesa mesmo. Que nada, eu estava enganada! Os chineses nem conhecem o tal biscoito. O vídeo abaixo mostra várias pessoas surpresas ao prová-lo. Fui fuçar na Wikipedia e descobri que os biscoitos são de origem japonesa. Na forma como estamos acostumados a ver atualmente, eles foram servidos primeiro na Califórnia (pasme!).




Thursday, August 21, 2008

Ecos de Pequim - Parte 2

Por que elas não conseguem vencer?



Aconteceu de novo.

O melhor time do mundo, da melhor jogadora do mundo, do melhor futebol do mundo, morrendo na praia para onze "branquelas" (ou quase isso). Aliás, perdoem-me o termo. Longe de mim qualquer alegação racista contra nossas oponentes, que, de algum modo, mereceram seu ouro ou título cada vez que o conquistaram.

Por que, perguntamos, nossas moças não conseguem vencer? Por que uma geração tão prodigiosa, tão constante na presença em finais e superior às adversárias em iniciativa erra trocentas chances e é surpreendida numa jogada corriqueira, um contra-ataque ou uma bola que sobrou? Haverá explicação plausível ou seria só um capricho do destino?



Na TV, ouvimos o locutor lamentando uma repetida injustiça contra nossas "guerreiras", nosso talento superior e merecimento. "A bola insiste em não entrar", ele grita. "Essa prata vale ouro", ele diz. Acho justo que se reconheça o mérito do esforço, da garra, da perseverança e superação: alicerces do princípio esportivo, recompensáveis no triunfo e na derrota desde tempos imemoriais, quando a primeira competição foi inventada. Igualmente justo reconhecermos o talento mais elevado, a melhor jogada, jogador, atuação, e nisso o Brasil sobrou neste futebol olímpico feminino, como também em Atenas há quatro anos e no último mundial. Jogou, brigou, galgou bem cada passo na trajetória rumo ao título até perecer na grande final, desmerecidamente, ao menos em duas ocasiões.

Então é isso? Trapaça do destino? Mérito irreconhecido pelos Deuses dos esportes?

Não creio.



Nosso merecimento é louvável, mas num jogo como o futebol, questões como superioridade técnica e garra podem ser essenciais, mas insuficientes na construção de um campeão. A categoria masculina amargou 24 anos de jejum proclamando-se campeã moral a cada copa perdida, a cada semi ou quarta de final onde nosso "melhor futebol" desvanecia ante um oponente teoricamente mais fraco que sabia aproveitar uma chance e segurar-se na defesa. Levamos 24 anos para entender ou reaprender que um campeão também é forjado em detalhes; que erros ou acertos de segundos podem ser mais relevantes numa decisão do que uma partida inteira bem realizada. A "geração Dunga" tinha talento em Romário e Bebeto, mas não era melhor que a de 82, por exemplo, que perdeu duas copas seguidas. Os tetra-campeões venceriam pela garra, pelo talento, sorte, mas também porque foram bem preparados para detalhes que diferenciam grandes equipes de campeões do mundo, nem sempre tão excepcionais. Defenderam-se bem, erraram pouco, não deram contra-ataques, prezaram em não perder gols, ainda que os desperdiçassem em alguns jogos; treinaram situações adversas e souberam aliar talento individual à interação coletiva, com e sem a bola nos pés, coisa que, a meu ver, sempre faltou a essa seleção feminina, ainda que conseguisse compensar isso na qualidade ímpar de algumas atletas e por isso chegar longe.



Nosso brasil de saias ainda é um time individualista, e no futebol, o jogo não se faz apenas onde a bola está, mas onde ela não está. Quantas vezes vimos Marta ou Cristiane ou Daniela tentando resolver um lance sozinha enquanto as companheiras, carentes de noções básicas de colocação sem bola, mal se movimentavam, ou o faziam para o lado errado? Alguém se lembra de Ronaldo e Rivaldo na final de 2002? De Romário e Bebeto? Do "toca daqui que eu deixo de lá"? De 2, 3, 4 ou 5 jogadores, um entendendo o outro, um facilitando o trabalho do outro, um deslocando a marcação para o outro em séries de dribles, fintas e triangulações de caráter coletivo, como se juntos formassem um organismo fluido chamado "ataque"? Alguém recorda o gol do Carlos Alberto na final de 70, uma das maiores obras do gênio coletivo na história das copas? Nosso futebol não foi o melhor do mundo tantas vezes só pelo talento de indivíduos, mas também na capacidade desses gênios em unir seus dons, tornando-os complementares, coisa que não fizemos em 2006 e que sempre faltou a essa seleção feminina, ainda que ela seja, a meu ver, a melhor do planeta há anos. Não conseguiu transpor a fase ingênua do futebol, pura, "peladeira" e passível de erros bobos. É mais ou menos como uma Nigéria ou Camarões nos anos noventa, mas com adversárias talvez menos infalíveis e por isso chegaram tão longe e até poderiam vencer, apesar dos defeitos.



Lembremos também que as americanas tiveram oportunidades claras de gol e uma bola na trave. Feitos pouco mencionados por Galvão Bueno em sua avaliação do jogo. Souberam usar a inteligência, a tradição e a experiência para dificultar a troca de passes do Brasil em sua defesa, tornado nossas jogadoras dependentes de sobras em "bate-rebate" e de lances individuais, cansando-as, já que "se moviam mais que a bola" para atacar. Nossa escassez de bons passes longos e curtos ou cruzamentos também colaborou para a derrota.

Não digo que isso explique sumariamente porque um time ganha e outro perde, já que o futebol também é feito de imprevistos, injustiças e lances inusitados de caráter decisivo. É importante, todavia, que se procure entender e raciocinar sobre os possíveis fatores que repetidamente impedem uma geração talentosa de fazer valer sua superioridade na obtenção de títulos. Lamentar a falta de sorte ou exaltar o espírito olímpico e a habilidade de nossas atletas pouco agraciadas pela balança da fortuna é menos importante do que desconstruir vícios entranhados em nossa mentalidade e modo de jogar. Devemos lapidar estes talentos sob o ponto de vista coletivo, aprimorar fundamentos e jogadas básicas, às vezes não tão belas, mas essenciais em se compor um leque de opções para jogos decisivos quando o "prato principal" não funcionar. Lembremos que gols de cabeça, de barriga e gols contra valem tanto quanto os de bicicleta.


Wednesday, August 20, 2008

Ecos de Pequim - Parte 1

Felizmente, apenas o McDonalds e a Rede Record aderiram a chamar Pequim de Beijing, nome chinês da cidade, porém usado por essas franquias muito mais em virtude de sua difusão via Estados Unidos, onde a capital chinesa também é conhecida pelo nome de origem.

Deixemos de lado os pormenores e partamos ao que interessa. Em algumas horas, duas grandes decisões mexerão com o espírito olímpico brasileiro. Às nove, o volei feminino terá sua maior chance de integrar uma decisão pelo ouro. Às dez, nossas mulheres do futebol tentarão consertar a injustiça de 2004 e conquistar o título importante que já está batendo na trave há milênios. Tanto elas quanto suas colegas da quadra jamais venceram um dos dois torneios mais prestigiosos de suas categorias.



Comecemos com o volei, sobre o qual devo prosar em outro post, caso consigamos a tão sonhada vaga na final. José Roberto Guimarães preparou estas atletas como nunca. Temos um time alto, focado, preparado, completo e que parece ter assimililado bem as lições do passado. Jamais fomos tão favoritos ao ouro; jamais chegamos a uma semi-final sem perder um set. Daqui em diante, isso valerá pouco. Tecnicamente, a China não é a mesma de quatro anos atrás e não parece tão temível. Perdeu para nossos dois possíveis adversários da final, mas demonstrou capacidade de superação no triunfo contra as Russas, ainda que suas adversárias também colaborassem com o placar numa atuação aquém da tradição. Fatores como torcida, experiência em decisões e autocontrole podem ajudar as chinesas contra o Brasil. Lembremos que nossa última derrota foi justamente contra elas no Grand Prix, e apesar dos altos e baixos que as asiáticas demonstraram de Atenas até aqui, não foram poucas as vezes que nos deram trabalho. Penso, porém, que nosso maior desafio virá do outro jogo, e talvez nem da invicta Cuba, mas de uma surpreendente seleção americana cuja reputação se fortalece há tempos e parece demonstrar evolução ao longo do torneio. Lembremos também que, dos quatro semi-finalistas, apenas um integrava o grupo do Brasil, supostamente o mais forte. Nossos três concorrentes não nos enfrentaram em Pequim. Motivos para cautela? Sim. Para pessimismo? De jeito algum. Somos sim favoritos ao ouro.



No futebol de saias, Brasil e Estados Unidos talvez constituam a maior rivalidade do globo, ainda que nossas meninas jamais tenham conquistado um título importante. Fala-se muito numa revanche de 2004, mas não devemos esquecer que, do outro lado, há alguém mais mordido, bem mais mordido, remoendo uma goleada que abalou severamente e auto-estima de um país que tem no "soccer for women" uma tradição de prestígio e vitórias comparável à nossa do "soccer for men". E americanos costumam ser terríveis quando alimentam ressentimento de um adversário ou inimigo. Estudam-o por meses ou anos, não esquecem, não descansam, não aliviam. O basquete feminino de Barcelona esteve aí para provar. Se nossas jogadoras têm no fato de jamais haverem conquistado o ouro olímpico ou uma copa do mundo a motivação ideal para jogar como nunca nesta final, as americanas também possuem seu elemento de estímulo. Vingança.


Thursday, August 14, 2008

Fato ou mito? - A bolada assassina


Inicia-se hoje, uma nova série neste blog. "Fato ou mito?" terá como objetivo apurar lendas antigas e modernas que, por repetição ou por tradição, viram verdades no palavrório público, ainda que boa parte de seus sustentadores sequer tenha noção se são, da fato, legítimas.

Um desses mitos permeia a história futebolística e fala de algo ocorrido na primeira fase da Copa do Mundo de 1990. Quem tem mais de 25 anos talvez se lembre de um lance em que o lateral Branco, da seleção brasileira, e cujo chute ganharia a alcunha de "Bomba Santa" no mundial seguinte, acerta uma bolada na cabeça de um jogador escocês durante uma cobrança de falta. O jogador desmaia, é atendido em campo, volta a jogar, desmaia outra vez e é levado a um hospital local.

Diz a lenda que, dias depois, este escocês viria a falecer por causa do incidente. Fato ou mito?

O atleta chamava-se Murdo McLeod, e o chute que recebeu teve realmente conseqüências sérias, tanto que boa parte de suas lembranças sobre a copa de 90 foram apagadas de sua consciência. A morte dele, contudo, é só um mito. McLeod continua vivo e muito bem, escrevendo para o jornal Daily Record e comentando para a BBC de seu país. A exceção das lembranças perdidas do mundial, o "chute assassino" nada mais lhe acarretou senão piadas e lendas. Hoje, McLeod menciona o episódio sempre que seu comprometimento com o futebol escocês é colocado em cheque.


Tuesday, August 05, 2008

Fama com cara de mico - Parte II



Quarenta anos atrás, Andy Warhol profetizou que um dia cada cidadão teria direito a 15 minutos de fama. A internet e, mais precisamente, o youtube, fizeram isso ocorrer. Hoje, qualquer um pode virar celebridade instantânea na rede, para o bem ou para o mal. Qualquer fato corriqueiro e esquecível em qualquer canto do mundo pode alçar imortalidade pela lente de um celular, erigindo ou demolindo reputações em segundos.

Escrevi sobre o assunto em fevereiro neste mesmo blog e quero retomá-lo. O video abaixo foi postado no youtube e divulgado através do blog Kibeloco, o mais popular da internet nacional. Seus protagonistas não foram os responsáveis diretos pela filmagem e provavelmente não a postaram, mas "pagarão" por sua difusão, independentemente de quem a tenha feito e do que ocorra a seguir. Anonimato e privacidade não são mais direitos do cidadão, porém privilégio de quem for sortudo ou "sagaz" para não ser flagrado em momentos de fraqueza e culpado por isso. Nós, da arquibancada de uma arena, vibramos com a morte "justa" de conterrâneos. Agradecemos aos céus por ainda termos o bilhete; pela sorte de estar aqui e não lá, ao menos até agora. Podemos não ser gladiadores bajulados, mas também não somos vítimas de leões. A eles, a roleta da fama deliberada ou casual, boa ou ruim. A nós, o conforto da multidão sempre "certa".

Abaixo, o video divulgado no site Kibeloco.