Thursday, October 23, 2008

Memória curta

E agora, uma demonstração de como se deve ter sempre um pé atrás com o discurso e as opiniões dos entendidos, quando se trata de esporte.

Vejamos o que disse o chefão da equipe Renault, Flavio Briatore, essa semana sobre Lewis Hamilton:

"Hamilton aprendeu as lições com a perda do título no ano passado." (
confira nessa matéria)

Mas, na semana anterior, a declaração estampada nas páginas da internet foi:

"Hamilton não aprendeu nada com os erros do ano passado." (confira
nessa matéria)

Pois é? E nego faz reportagens na web e nos jornais em cima de declarações feitas da boca para fora, sem qualquer reflexão, como se "o grande Flavio Briatore", com toda sua experiência no automobilismo, acabasse de emitir um parecer de peso sobre o piloto Lewis Hamilton. Nada. O cara está meio puto da vida, diz uma coisa, sai em todos os jornais, mas na semana seguinte ele diz o contrário, e sai em todos os jornais de novo, só que ninguém se lembra da declaração anterior, como se jamais tivesse existido. E nós, otários, levamos esses jornalistas e "especialistas" a sério. Pois é.



Sunday, October 19, 2008

Pitacos de domingo



Formula 1

- Para nossa felicidade, Galvão Bueno desistiu da expressão "de cara para o vento", pelo menos por enquanto.

- Impressionante o número de vezes que sai um babado pífio sobre Lewis Hamilton nos sites de notícia. "Hamilton anuncia que será agressivo!", "Hamilton janta com a namorada!", "Hamilton diz que está com o título perdido entalado na garganta!", "Hamilton, isso, aquilo...", tá pior que a Bianca Jahara no EGO. Do jeito que Inglês adora babar ovo de celebridade, imagino como deve estar isso por lá. Parece que o Beckham ganhou um concorrente para os tablóides.

- Ainda em Lewis Hamilton, ando lendo por aí que, apesar de poder ser campeão precisando apenas chegar em sexto, o inglês está na mesma situação do ano passado, quando tinha 7 pontos de diferença para Kimi Raikkonen, que levou o caneco. O que esquecem é que no ano passado, seu adversário imediato era Fernando Alonso, então 3 pontos atrás dele, e foi a diferença para Alonso que o fez cometer o erro da largada que resultou na seqüência de vacilos que lhe tirarou o título no Brasil. Se Raikkonen fosse seu adversário direto e com sete pontos atrás, Hamilton não teria pressionado Alonso na segunda curva, não teria errado, perdido posições e apertado o botão do neutro, mas apenas se mantido em quarto e administrado a prova. A verdade é que Hamiton terá uma condição bem mais tranqüila esse ano do que na última temporada.


Mundial de Futsal

- Eu não me espantaria em descobrir, por exemplo, que nosso campeonato nacional de futebol de campo tem mais estrangeiros inscritos do que essa copa do mundo aí, cheia de brazuca.


Sarah Palin

- A caçadora de alces resolveu aderir à tática do "se não pode vencê-lo, junte-se a ele", e deu a cara para bater no Saturday Night Live essa semana. Gostei dos quadros, mas a performance dela, como esperado, foi bem fraquinha. O programa, que a esculachou em paródias anteriores, pegou um pouco mais leve nesse, mas não abriu mão de algumas agulhadas na moça. A idéia de vê-la no show como convidada antes da eleição pode melhorar sua imagem de forma desnecessária (para quem torce contra, como os envolvidos no programa) e atenuar os efeitos das sacanagens anteriores (será?), mas é justa, pois Obama, Hillary e McCain tiveram essa oportunidade.

Abaixo, dois links para os quadros em que ela participa:

Abertura do programa

Rap de Sarah Palin


Caso Eloá Pimentel

- Alguém diz lá para o Lindemberg que ele ainda não conheceu o diabinho de verdade, mas vai conhecer, e em diversos tamanhos.


Thursday, October 16, 2008

Até quando, Dunga?



Não asssisti hoje ao terceiro e último debate entre McCain e Obama, e nas raras vezes em que sintonizei a CNN, vi os dois deliberando os mesmos assuntos do sempre. "Tax Cuts", "Helth Insurance", bla bla, bla....

Fiquei na Globo torcendo para que a seleção brasileira aproveitasse a oportunidade de faturar 3 pontinhos em casa e deslanchasse um pouco na tabela, podendo então perder como sempre faz para o Equador na altitude de Quito sem sair a segunda colocação.

Não deu, aliás, não deu mesmo. O jogo foi terrível e, se tivessem um pouco mais de paciência e soubessem valorizar a posse de bola em vez de dar chutões a esmo cada vez que chegavam perto da grande área, os colombianos poderiam ter saído daqui com uma vitória. Quanto ao Brasil, faltou entrosamento, faltou talento no meio de campo e nas laterais, faltou virada de jogo, passe longo de qualidade, jogada aérea, e sabe-se lá o que mais.

Nosso querido Dunga parece não se importar, por exemplo, em ter um bom cobrador de falta ou de escanteio durante a partida. Talvez para ele as tais jogadas de bola parada não façam muita diferença no placar, ainda que os fatos digam o contrário. Não me lembro de algum dia ter visto uma seleção brasileira que não possuísse um bom cobrador de escanteio e de falta, como nessa nova "era dunga". Em 2006, possuíamos três que sempre brigavam para ver quem batia. Ronaldinho, Juninho e Roberto Carlos. Hoje, a cada ausência de Ronaldinho, precisamos aturar Elano, Julio Baptista ou Pato na função, o que chega a ser uma afronta ao bom senso do torcedor, como também é uma afronta não ver jogadas ensaiadas que compensem essa carência.



Até quando nosso querido Dunga manterá seu esquema de 3 volantes mequetrefes para um elemento criativo no meio-de-campo? Não sou contra a presença de três volantes, desde que pelo menos um ou dois saibam partir com a bola nos pés quando preciso, dar um drible ou um passe, e nosso "trio de ferro" Josué, Elano e Gilberto Silva só sabe mesmo é marcar e correr. Nas laterais, o mesmo problema. Kleber ainda pouco a vontade e Maicon errando nas subidas, errando nas tabelas e nos dribles. Se há um ano esse time de meia-bocas podia compensar sua falta de talento com um certo entrosamento e um jogo coletivo veloz, agora não pode mais, e na individualidade fica muito difícil aos carregadores de piano dessa geração resolverem alguma coisa. Sem laterais, sem homens vindo de trás do meio de campo, sobra para Lúcio e Juan, que além de se sobrecarregarem na defesa, precisam fazer a função dos volantes e subir para o ataque. Não adianta esperar que Kaká, Robinho e Jô resolvam tudo. Além disso, a maneira que Dunga arma o time exige participação ofensiva dos volantes e laterais coordenados. Se não tem, fica difícil. A incapacidade de se fazer lançamentos longos que sobrevoem as tais "linhas de quatro" e deixem Joãozinho e Miguelito na cara do gol é flagrante a ponto de me fazer odiar Juninho Pernambucano e Zé Roberto por terem virado as costas à seleção numa época em que seriam tão necessários. Culpa de 2006, onde tivemos fartura, mas não sensatez, e mágoas ficaram nos que queriam e podiam jogar sério. A nova "era Dunga" está pagando o preço.



Sobre Ronaldinho, ok, está fora de forma e tal, mas não dava para colocar no banco? Ora essa, ele jogou mal contra o Chile, mas alguém lembra do primeiro gol? Foi de falta, não? Uma cobrança bem executada na cabeça de Luis Fabiano e "ops", "gol", não? Pois é! Quem é que vai bater as faltas agora, Dunga? O Elano? Pelamordedeus!

Li num site uma declaração de nosso técnico: "Diferentemente de antes, estamos ganhando jogos fora de casa". Não é bem assim, Dunga. Nas eliminatórias para 2002 e 2006, vencemos, ao longo do primeiro turno da competição, duas partidas entre de cinco disputadas fora de casa, exatamente como agora, e até que você ganhe um terceiro jogo em solo adversário no segundo turno, o que espero e torço que consiga, não pode alegar que fez melhor do que Parreira ou Luxemburgo nas gestões anteriores. Nosso segundo lugar na tabela se deve mais aos tropeços dos adversários do que a méritos próprios. De bom, pelo lado canarinho, só a linha final da defesa, Juan, Lúcio e Julio Cesar, o verdadeiro "trio de ferro" a evitar que repressa estoure. No mais, muito "lero-lero" e pouco futebol. Até quando?




Roubini, o homem que previu o pior



O texto a seguir foi extraído do blog da Míriam Leitão

O economista Nouriel Roubini, o bola de cristal de ouro do mundo, que previu tudo isso que está aí, mandou para seus clientes uma análise demolidora sobre os próximos riscos.

O que pode acontecer de pior a um sistema financeiro? O risco sistêmico. Pior que isso só um risco sistêmico global. É o que ele acha que pode acontecer agora.

O que de pior pode acontecer à economia real? Uma depressão. Pois esta palavra está na análise dele.

O pior de Roubini é que quando ele previu a recessão, a crise financeira e a quebra de instituições até como a gigante Fannie Mae e Freddy Mac ele foi ridicularizado pelos economistas do mundo inteiro. Riram dele. Isso foi em 2006. Em 2007, ninguém mais achava muita graça, mas a frase mais comum sobre que ouvi de alguns bons economistas brasileiros é: até relógio está certo duas vezes por dia. O pior de Roubini é que ele tem estado certo o tempo todo. E agora dobra a aposta. "O mundo está em um severo risco de um derretimento financeira global sistêmico e uma severa depressão global".

Ele acha que por isso é necessário uma ação urgente global. Como o G-7 está reunido neste fim de semana, quem sabe eles são tomados pelo sentido de urgência.


Quando ele fala global, ele está falando principalmente de "Estados Unidos e economias desenvolvidas". Ufa! nunca gostei tanto de não estar na lista dos países mais ricos. O problema é que os Estados Unidos, Europa, Japão, Canadá, Austrália, Nova Zelândia representam, ele lembrou, 55% do PIB mundial e por isso afetarão todos os outros países se entrarem todos em recessão.


- Por isso, mesmo países com bom desempenho como os Brics - Brasil, Russia, India e China, estão sob ameaça de um "hard landing" ( uma queda forte e rápida do nível de atividade).
A tese dele desde o começo é que existia um sistema bancário na sombra. São os fundos, bancos de investimento, brokers dealers, não bancos emissores de hipotecas, firmas de private equities, tudo aquilo que estava fora do radar das autoridades. Ele disse que agora está se vendo um desmonte desse sistema das sombras e isso é que está por trás da queda livre das ações e da paralisação do sistema bancário com as taxas de riscos subindo muito e os negócios parando.
Previsões pessimistas têm uma vantagem: alertam as autoridades para o tamanho do risco e por isso ajudam a prevenir o pior. Essa é a grande vantagem de Roubini, que tem sido o mais pessimista dos economistas do mundo e tem acertado com uma precisão de relógio, infelizmente. Em parte porque quem deveria levá-lo a sério ainda não levou. Acham que ele é um exagerado.


Mais sobre Roubini (em Inglês) neste link do New York Times e em seu blog pessoal.



Thursday, October 09, 2008

Obama e McCain - Round 2



Para quem viu o primeiro debate entre os presidenciáveis norte-americanos John McCain e Barack Obama, o segundo, ocorrido anteontem, pode ter soado como a versão mais extensa de um mesmo filme, um "American Apocalypse Now Redux", com cenas extras, principalmente na primeira metade, quando se falou mais da crise nacional e de sua relação com a classe média. Em essência, não vimos um filme muito diferente do anterior.

Como no primeiro debate, McCain procurou aproveitar as questões de política externa para mostrar ao público o quanto Barack Obama é ingênuo e despreparado para lidar com detalhes de negociação internacional e estratégias militares, como quando este propõe uma retirada do Iraque com data marcada ou quer sentar na mesa com líderes de nações "hostis" sem antes estabelecer pesadas pré-condições, como Bush tem feito. O problema é que os desfechos recentes não favorecem McCain, e a cada ataque, Obama simplesmente responde que as políticas militares e diplomáticas apoiadas por seu adversário vêm fracassando no plano prático, afastando os EUA do resto do mundo.



É duro para McCain, ainda que seja considerado uma força renegada em seu partido, distanciar-se da posição de situacionista ante os espectadores. E num momento político e econômico tão negativo, isso lhe é brutal. Indicar Sarah Palin para vice pareceu uma tacada de mestre, na opinião de muitos, quando ela roubou parte do brilho e "jovialidade" da campanha adversária, mas suas gafes vêm transformando este sucesso inicial num problema. A atenção que ela naturalmente ganhou faz com que cada erro seu reverbere em incessantes críticas, paródias e sarcasmo midiático, manchando-lhe a imagem política até para depois da eleição, quer perca ou ganhe. Palin definitivamente não estava preparada para os empecilhos de uma campanha à vice-presidência.

Obama tem frases belas e um perfil que parece cair como uma luva para este momento de possível transição na história americana. Se sua inteligência, serenidade e postura política transgressora são mais retórica que realidade, só saberemos depois de novembro, caso vença. Por enquanto, ele só precisa parecer apropriado, algo que tem feito, evitando contra-atacar todas as investidas de McCain ou partir para uma postura agressiva. Suas hesitações do primeiro debate, onde de fato aparentou leves ares de desperaro ou desconhecimento em questões como a mudança da política militar americana na guerra contra o terror, foram abrandadas no debate seguinte, ainda que seu discurso não mudasse muito. Quis denotar força ao falar em jogar duro com Paquistão e Rússia, mas nele se nota uma certa ingenuidade de juventude, a mesma que prejudicou os primeiros anos do mandato de Kennedy e seus encontros iniciais com Nikita Kruschev. Há situações em que inteligência precisa de rodagem, e só a vivencia resolve isso. McCain tentou explorar esse aspecto do adversário sem sucesso.



Outro foco chave do debate foi a questão energética. McCain falou em auto-suficiencia e deixou claro, ainda que mencionasse energia alternativa, que seus principais investimentos serão energia nuclear e novos poços de petróleo. Para Obama, as fontes alternativas de energia parecem estar mais em pauta, embora a nuclear também apareça em sua agenda.

Houve importantes pontos de discórida entre os dois quanto à políticas de impostos e mudanças no sistema de saúde. McCain quis mostrar Obama como alguém que pretende, em sua plataforma de cortes e gastos, gastar mais do que cortar e tirar mais dos pequenos empresários num momento de crise em que seus impostos não podem ser aumentados. Obama defendeu-se, alegando que não pretende gastar mais do que cortar, e sim o inverso, remanejando a distribuição de gastos e arrecadação pública a fim de torná-los mais proveitosos para o país e o povo. McCain contra-atacou e acusou Obama de votar a favor de Bush ou do partido em diversas questões, como energia ou aumento de gastos.



Ao falar da crise, os presidenciáveis culparam a crescente "desregulação" das transações financeiras na última década. McCain ligou Obama aos trabalhos da Freddi Mac e Fannie May, colocando-o como o segundo maior receptor de doações dessas duas companhias, ao passo que ele, McCain, teria sido contrário as propostas de aumento de crédito imobiliario que elas incentivaram. Obama soube responder a altura e este talvez tenha sido seu melhor contra-ataque em todo o debate. Primeiro, fez um breve retrospecto de sua posição e da do adversário em relação à desregulação em Wall Street nos últimos anos. Em seguida, afirmou que jamais deu apoio à Fennie May, ao contrário do diretor da campanha de McCain, cuja firma é lobista da empresa.

No mais, o que todo mundo viu foi um repeteco elaborado do debate anterior, com McCain criticando a retirada de tropas proposta por Obama e suas "ameaças" abertas ao Paquistão, Obama retrucando com "Bomb, bomb, bomb Iran" e o fato de ter sido contra a guerra no Iraque desde o começo, McCain defendendo o sucesso do "surge" e acusando o oponente de não tê-lo apoiado, Obama técnico, holístico e perdendo chances de atingir McCain com mais eficácia enquanto este desferia jabs fracos e longes do alvo. Talvez a raíz do "fenômeno reprise" estivesse na própria natureza dos temas, praticamente os mesmos do debate anterior. Russia, China, energia, Irã, Iraque, Afeganistão, Paquistão, nada de imigração, nada de america latina ou políticas conjuntas de desarmamento mais eficazes. O momento agora parece ser de "fortalecer a America" e todas as perguntas e respostas seguem nessa direção. As recentes acusações de Palin sobre associações entre Obama e Billy Ayers não foram levantadas.



Quanto à linguagem corporal dos candidatos, elemento importante na opinião de boa parte do público, Obama parece ter levado vantagem. Mostrou-se mais sereno ao falar ou ouvir críticas do oponente. Olhou-o nos olhos enquanto McCain lhe virava as costas ou se referia ao democrata como "that one" em tons de sarcasmo.

Para a mídia, Barack venceu este round. Para mim também, com uma pequena diferença. Foi mais claro em suas propostas internas (ou menos vago, como preferirem). Se a campanha de McCain não achar um podre do adversário até novembro ou Obama não cometer grandes deslizes, teremos, em 26 dias, o primeiro presidente negro da história estadunidense. Ou isso, ou estamos só testemunhando uma nova edição do "efeito Bradley", o que, espero, não seja verdade.

Enquanto isso, Tina Fey mostra que está ainda mais afiada em seu novo personagem. A imitação que faz da "quase irmã gêmea" Sarah Palin no debate dos Vice-Presidentes é de tirar o chapéu.


Monday, October 06, 2008

Materialismo espírita (ou vice-versa)

Ontem revi um trecho do filme "Jesus Camp", documentário sobre um acampamento de verão para crianças evangélicas onde estas sofrem a típica lavagem cerebral em nome de cristo. Até aí, nada além do usual que já conhecemos. Bizarras mesmo são as artimanhas do diabo materialista para arrebanhar os discípulos de Nazareth à sua causa. "Aquecimento global não é coisa do homem" é uma delas. A segunda é associar desapego material com utilização irrestrita dos recursos do mundo, ou seja, "um dia vamos morrer mesmo, o importante é o espírito, o juízo final chegará, a matéria nada vale, podemos usar e abusar dos recursos do planeta sem qualquer consciencia ecológica.".

O diabão corporocrata transforma ecologia em materialismo, materialismo em desapego e um bando de otários que se pensam cristãos caem de quatro gritando "Amem". Acordem, idiotas! Seus pastores são ateus!