Wednesday, November 18, 2009

Triste dia para o futebol



Dou graças aos céus de não ter dedicado um segundo desta quarta-feira às importantes (e não tão importantes) partidas nela realizadas.

No maracanã, Fluminense e Cierro Portenho protagonizaram uma vergonha generalizada após o fim do jogo, tal qual o pobre Palmeiras, e entre os seus, após acachapante derrota para o Grêmio no Olímpico. Na Europa, as torcidas lamentam uma das classificações de copa mais vexaminosas dos últimos tempos, com Thierry Henry ajeitando, com a mão, o lance que qualificaria a França.

Os três episódios repercutirão semana afora e talvez a França seja vaiada em sua estréia na África do Sul. Temos aí nove candidatos a cabeça de chave para o sorteio dos oito grupos da copa e receio que França ou Holanda fique fora dessa lista, figurando na faixa das segundas-forças e determinando qual será o "grupo da morte" da vez. Espero que os franceses recebam esta honra, merecidíssima pelo futebol apresentado e pelo modo como se classificaram.

E torço, claro, para esse nono cabeça de chave, então rebaixado, não cair no grupo do Brasil.


Tuesday, November 10, 2009

Esporte "para macho"

Houve tempos em que se dizia que futebol era violento demais para a delicadeza do sexo frágil. Pois mal sabiam do que o sexo frágil era capaz.

Thursday, November 05, 2009

Intérpretes com os dias contados



Notícia retirada do site da revista Época:

Empresa cria óculos que fazem tradução em tempo real

A invenção deve permitir a conversa entre pessoas de diferentes nacionalidades sem a necessidade de um intérprete

Óculos: tradução simultânea

Dicionários para língua estrangeira podem estar com os dias contados. A empresa japonesa de tecnologia NEC criou os óculos que fazem a tradução de diferentes idiomas em tempo real.

Chamados de Tele Scouter, o dispositivo óptico foi apresentado em uma feira em Tóquio, nesta quinta-feira (05/11).

Nos óculos, há um microfone acoplado, que reconhece o idioma falado pelo interlocutor e o converte em textos traduzidos, por meio de um programa de computador.

Em seguida, o sistema – semelhante ao usado em legendas de filmes - projeta a tradução no aparelho, que fica bem próximo à retina do usuário.

A invenção deve permitir a conversa entre pessoas de diferentes nacionalidades sem a necessidade de um intérprete ou de um dicionário.

De acordo com Takayuki Omino, porta-voz da NEC, os óculos devem ser lançados em 2011, no Japão. Cada óculos deve custar em torno de US$ 2.700, sem incluir o preço das ferramentas de tradução e software. A empresa espera vender 1.000 unidades dos óculos nos próximos três anos.

Thursday, September 24, 2009

Cara de pau



Domingo que vem, vai ao ar a primeira manifestação audivisual pública de Nelson Piquet sobre o incidente envolvendo seu filho no GP de Cingapura ano passado. Já opinei sobre esse assunto no início do mês, quando a coisa ainda não tinha sido comprovada, e minhas suspeitas se confimaram. Nelsão (que antigamente também era chamado de Nelsinho) usou o caso para chantagear Briatore contra a demissão do filho e cumpriu sua promessa, uma vez que o italiano não arregou.

Cinismo. Piquezão jamais abriria a boca se o filho continuasse no time. Na chamada para o fantástico de domingo, diz que preferiria perder a trapacear. Balela. Quem acompanhou a carreira do moço sabe muito bem do que ele e o projetista Gordon Murray eram capazes para ganhar corridas nos tempos de Brabham. Há uma década, Nelsão se gabava dos tempos em que trocava o banco do carro por outro de cinquenta quilos a ser usado apenas na hora da pesagem. Com isso, o carro corria abaixo do peso mínimo permitido. Manobra parecida foi feita no GP do Brasil de 82, quando ele e Murray armaram um esquema de correr com um lastro enorme de água que seria descarregada ao longo do GP, em cada freada, e o carro ficaria mais leve já no meio da prova. O esquema foi descoberto e Piquet desclassificado.

O dito cujo nunca foi exatamente um porta voz do jogo limpo na categoria. De atenuante para o filho, apenas a pressão de obedecer à ordem do chefe, o que não o exime de culpa, mas diminui um pouco sua carga de responsabilidade, o que não basta para evitar o comprometimento da imagem do garoto. Entre ser leal ao time e ao esporte, optou pela primeira opção por motivos egoístas e também abriu o jogo por motivos egoístas. Não duvido que alguns dos atuais pilotos fariam igual em situação igual, mas não fizeram, ou pelo menos ninguém ficou sabendo. Sendo assim, nada mais justo que o embaraço público, cujo tamanho só o tempo irá revelar. Enquanto isso, o papai põe panos quentes.

Friday, September 04, 2009

Catarse do horário nobre



Essa semana o brasil noveleiro pôde outra vez se vingar de Ivone (Letícia Sabatela) pelas mãos de Sílvia (Debora Bloch), na segunda surra que a dita cuja tomou no folhetin. A primeira foi para Melissa (Cristiane Torloni). Sempre que temos uma vilã psicopata ferrando a mocinha em vários capítulos de uma novela, os autores concedem à mocinha e à nós, através dela, o gostinho de uma boa surra catártica. Sim, a mocinha vem, pega a vilã de surpresa (ou não) e SEMPRE ganha a porrada, pois não haveria nada mais teledramaticamente frustrante do que ver a vilã também triunfando na hora do "pega para capar". A mocinha vai lá, arrebenta a fuça dela e podemos curtir a vilã de quatro por alguns minutos. Virou clichê essa coisa da "surra depois da aula", da lição informal, justiceira, complementar e necessária à punição definitiva que será morte ou prisão. Precisamos nos sentir confortáveis com o fato de que, num duelo limpo mano-a-mano, a vilã será sempre a mais fraca, ou seja, de certo modo, reforçamos em nós o fato de, independentemente da vitória ética de um personagem sobre o outro (no caráter e no desfecho do enredo), ela deve ser ratificada no braço, no PAU, como um acerto de contas entre alunas do colégio, para que realmente sintamos a mocinha como "melhor" que a bandida ("ela é melhor mesmo, porque na hora H não apanhou"). Seria interessante ver o contrário, a mocinha chega cheia de marra e, além dos prejuízos na trama, dá à vilã aquele gostinho de "na porrada, não tem pra tu não, viu?" antes dela ir presa ou ser morta nos capítulos finais. Como num certo episódio de corra que a polícia vem aí 1/2



Tuesday, September 01, 2009

Pitacos da Formula-1

(post escrito ainda na noite de 30/08.)


Minhas pretensões eram postar sobre esse tema segunda-feira passada, mas alguns fatores me levaram a preferir esperar a semana seguinte, então fica o agregado dos GPs da Europa (23/08) e Bélgica (30/08).

Valência - É uma pista ruim, sem pontos de ultrapassagens e sem um traçado empolgante, e entrou no calendário como jogada de marketing, tal qual vários circuitos que, pelo ponto de vista esportivo, representam retrocesso à categoria. Valência é um desses candidatos a cartões postais da F-1, com pista cheia de glamour em volta, Iates, prédios lindos, cenário preparado para grandes tomadas durante a transmissão, materia prima perfeita para os video-clipes do site da FIA. Vi gente comparando essa pista com Detroit e Long Beach, mas acho exagerada a comparação, porque as etapas americanas permitem ultrapassagens. Como ano passado, tivemos uma corrida chatíssima que só valeu pela estratégia dos Pits. No asfalto, nada. E tem mais até o fim do ano. Tem aquela presepagem de corrida noturna onde ninguém passa ninguém e qualquer batidinha é safety-car.

Barrichello - Deixou Button estilingar demais no início do campeonato e agora, mesmo tendo performances melhores que as do Inglês, vê o título como algo possível mas difícil. A vitória em Valência manteve vivas suas chances. Correu bem e aproveitou os pits porque na pista dificilmente passaria Kova ou Hamilton sem KERS e naquele traçado. Ontem teve outra chance de ouro mas, por algum erro dele ou culpa total do equipamento que falhou, não sabemos (e olha que esse problema só rolou com ele na temporada), deixou a oportunidade escapar e, apesar de diminuir a diferença em relação a Button, tem menos corridas para tirar mais pontos e torcer para que Button não pontue.

Schumacher - O fiasco (até agora) de Luca Badoer na Ferrari é quase uma prova de que Schumi, sem poder treinar e retomar o ritmo de corrida, provavelmente seria o mico do ano em seu regresso. Badoer nunca foi um ás da categoria, mas em seus tempos de piloto de teste virava bem mais rápido que o que vem virando. Diz que em Monza estará melhor, porque conhece o traçado e treinava muito lá. Schumi faria um papelão se retornasse e talvez o problema no pescoço tenha sido um álibi para evitar o pior. Fez bem, caso tenha mentido. Não merecia ver sua história manchada com essa volta impensada e desnecessária. Se é para voltar, que volte bem, em forma e no início de um campeonato, como um campeão do porte dele merece.

Red Bull - Parou de ser a número 1 do grid, como a Brawn também, e temos um último terço de temporada equilibradíssimo, com equipes revezando favoritismo a cada corrida, e Ferrari e Mclaren de volta ao topo. Bom para Jenson, que soube aproveitar o momento de supremacia do carro e agora pode andar no pelotão intermediário marcando um pontinho aqui e ali e, ainda assim, manter uma vantagem relativamente confortável. Precisa fazer, pelo menos, uma ou duas boas corridas para jogar um balde de água fria definitivo na concorrência.

Piquet, Renault e Briatore - O assunto da semana é a bomba que Reginaldo Leme jogou no ventilador durante a transmissão. Lembro-me que, depois do GP de Cingapura ano passado, houve muita piada relacionando a saída de Nelsinho à "virada" na corrida que fez Alonso vencê-la, remodelando a história do campeonato, mas pouca desconfiança séria, pelo menos por parte de mídia e público. Leme tem 35 anos como comentarista e uma idoneidade inquestionável. Se deu a informação, é porque sabe de muita coisa e se alguém foi leviano em lançar inverdades mal avaliadas no ar, foi gente antes dele, da qual ele obteve os dados "confiáveis". Minha opinião de leigo: onde tem fumaça, tem fogo. Entre o espanto incrédulo de Galvão e a serenidade de Reginaldo, fico com a segunda. Ele não disse que houve manipulação de resultados, mas que há uma investigação, além de fortes indícios de que algo errado sucedeu. Se for o caso, acho Briatore mais culpado que Nelsinho, porque hoje em dia um jogador ou um piloto em início de carreira é um boneco na mão do treinador, diretor ou empresário. Sem experiência, manha e meios para peitar uma ordem dessas, Nelsinho não teria como comprovar depois porque Briatore o haveria prejudicado no resto do ano. No fim, seria o único a se ferrar, queimando um futuro na categoria. Não digo que é inocente, mas que é menos culpado que Briatore. Em termos de repercussão pública, duvido que mídia e torcedor sejam benevolentes com o pimpolho, caso provada sua culpa. Será uma mancha dificil de apagar. Se foi Nelsão quem gerou a denúncia, deu um tiro no pé do filho. Imagino se ele não teria usado isso para chantagear Briatore quando soube que "junior" sairia do time, e Flavio pagou para ver, duvidando que Nelsão realmente expusesse o filho para concretizar sua vingança. Bom.. são divagações de torcedor. Concreta mesmo, só a informação de Reginaldo.

Atualização da notícia: Ontem, a FIA confirmou que há uma investigação na equipe Renault sobre a suposta falcatrua em Cingapura, confirmando o furo mundial de Reginaldo Leme.


Thursday, August 20, 2009

Geração GI JOE



Se você foi garoto nos anos 80, antes dos videogames e da realidade virtual se sofisticarem a ponto de poder substituir o papel de um brinquedo no imaginário criativo de uma criança ou pré-adolescente (afinal de contas, muitos hoje preferem "simular" futebol em um Pró-evolution Soccer do que em um jogo de botão ou brincar de piloto em um F1 GP 4 a uma pista de autorama), existe uma grande possibilidade de já ter brincado de Comandos em Ação e acompanhado o desenho meia-boca que servia de sustentação publicitária aos bonecos.

Não, não vou gastar parágrafos explicando o que eram esses comandos em ação, que começaram com 30 cm de altura (quando eram chamados Falcon por aqui), e depois ficaram pequenininhos em função da crise do petróleo, ganhando o novo nome. Nos states, foram sempre os "soldados João", ou GI JOE. Mesmo a galera mais nova deve saber do que se trata e, se não, a Wikipedia está aí para isso.



Bom... para mim e muitos moleques da época, os Comandos eram uma brincadeira deliciosa, uma lavagem cerebral belicista muito bem elaborada que pegava a garotada de jeito. Tá certo que muitos de nós já praticavam guerra com armas de plástico, aviões revel e até com os aparentemente pacíficos playmobils, que também disparavam seus rifles, revólveres e canhões. Mas eles não eram páreos para a especificidade, as articulações, o realismo de detalhes e a versatilidade bélica dos GI JOEs. Quando o négócio era guerra moderna, não tinha para nenhum outro boneco.

Hoje, essa galera tem mais de trinta, e há também os mais novos que pegaram os JOEs dos anos noventa, com bem mais personagens, equipamentos e veículos disponíveis. Antes, quem não tinha amigo que ia para os states e não podia importar boneco, improvisava para ter seus Destros, Dukes e Comandante Cobras. Eu mesmo pintei uma Scarlet para virar Baronesa. Vintões, trintões e até quarentões da era Falcon lembram com saudade dos pequenos filmes de guerras que faziam em seus lares, dos mil e um desfechos possíveis para qualquer história, e hoje falam com amor e orgulho dos bonecos que guardaram, venderam, deram ou jogaram na lata do lixo.



Tais personagens ainda existem, os bonequinhos evoluíram para formas mais delgadas e Hasbro e Marvel não pararam de explorar seu filão, que teve novas séries na TV e nos quadrinhos, além de reunir uma convenção anual de aficionados e gerar um filme, sim, um filme, como muitos de nós queríamos há tanto tempo, aliás, talvez não exatamente como muitos de nós queríamos. Décadas passaram, e o cinema high tech videogame se apropriou de nossos queridos personagens, para a tristeza de muitos e alegria de alguns.



Não vi esse filme ainda, e pressinto que detestarei, mas a quem odiou ou odiará o longa-metragem (e a quem gostou), uma notícia agradável. Ano passado, o Adult Swin do Cartoon Network lançou uma pequena série de websódios chamada GI JOE Resolute, talvez uma tentativa de reativar os personagens como feito em He-Man, que teve uma série nova no canal. Infelizmente, esses novos JOEs só conseguiram a websérie, que não chega a ser uma Brastemp também, mas é divertida e conta com armas de fogo de verdade em vez de Lasers, morte de personagens conhecidos e nada de gritinhos "Yo JOE" e "Cobra" (ui!) antes das batalhas. Tivesse seguido como série televisiva, angariaria aprovação de muitos fãs da linha antiga e do desenho antigo, e também gente nova. Para quem ainda não viu, vale a pena conferir os 11 websódios no youtube (assista ao primeiro aqui). Não é a oitava maravilha do mundo, mas vale a pena para quem é ou foi fã dos personagens.



Há também um clipe divertido feito pelo pessoal do Funny or Die, com a presença de atores conhecidos, como Vinnie Jones e Julianne Moore, a Balada GI JOE, que mostra como alguns daqueles famosos personagens seguem com a vida após tantos anos dedicado à combater a organização Cobra.



E além de clipes e afins, a net oferece sites dedicados à série, com
guias dos personagens e dos bonecos e veículos lançado em cada ano desde 82, quando os JOEs ficaram pequenininhos e mais versáteis, até os dias atuais.

Uma curiosidade: Os GI JOEs brancos vendidos nos EUA tinham um tom de pele nitidamente mais claro do que os que eram vendidos aqui. Eu nunca tinha notado isso até ganhar um boneco americano, o Ace, e perceber que ele tinha a pele bem branca e que todos os JOEs americanos brancos eram assim. Os comandos daqui eram mais bronzeados.



Thursday, July 23, 2009

Cenas que você perdeu - A vida de Brian


Neste episódio de Cenas que vocês perdeu, mostraremos três achados do youtube relacionados a uma das grandes comédias de todos os tempos: o segundo filme de Monty Python, A vida de Brian. Trechos cortados da edição final que poderiam dar uma cara diferente ao filme, caso tivessem sido incluídos.

Cena 1 - Esquadrão suicida de judeus nazistas

O esquadrão suicida do "Jewish People´s Front", que aparece quase no fim do longa enquanto Brian está na cruz, tinha um perfil diferente na versão editada, aparecendo ainda antes, à procura do "líder". Este "bem treinado" pelotão é comandado por Otto, um judeu que lembra Adolf Hitler nos trejeitos e ideais de um judaísmo "puro" livre de ciganos e outras "raças inferiores". Ele usa um elmo que é na verdade um capacete alemão da primeira guerra com o formato cumbuca e a seta apontada para cima, além de um símbolo que mistura a suástica com a estrela de David. Confira a cena na íntegra e seu desfecho hilário.



Cena 2 - O sinal

Brian está a caminho da crucificação e Judith envia o sinal que o esquadrão suicida de Otto tanto esperava na cena anterior.



Cena 3 - Os "outros" três reis magos

Três pastores se sentam diante de um rebanho e confabulam sobre como adoram ovelhas (confesso que não entendi boa parte desse diálogo, pelo menos até o ponto em que falam de gatos). Nisso, ouvem um barulho e, imaginando tratar-se de um lobo, atiram uma pedra em direção ao som, acertando alguém que está prestes informar sobre um certo evento, de grande importância. Só de sacanagem, esse alguém decide não mais contar, indo atrás de outros pastores.



Cena 4 - Barraca de souvenires

Judith está atrás de Brian para tentar salvá-lo da crucificação e é interrompida por um camelô que lhe oferece souvenires um tanto inoportunos.

Sunday, July 12, 2009

Barrichello - desapontado e sozinho



Rubens Barrichello: outra vez prejudicado pela irregularidade e uma combinação de fatores negativos, desde a presença de Felipe Massa a sua frente, tirando-lhe um segundo e meio por volta em cinco voltas, até o erro com a mangueira nos boxes, que lhe usurpou a chance de um pódio e de um pequeno triunfo moral sobre Jenson Button, apesar das parcas chances reais de brigar pelo título.

Como de costume, o brasileiro reclamou, e, como de costume, foi criticado pela mídia por isso, como se suas palavras fossem meras desculpas para ocultar a própria incompetência. Que Button vem sendo mais rápido e constante que Barrica ao longo da temporada e merecedor da liderança no campeonato, acho que nem o próprio Rubens duvida. A pinimba está em pequenos detalhes de algumas poucas corridas em que Barrichello conseguiu ser melhor que Button e, por uma "combinação de fatores", acabou perdendo a disputa particular com o companheiro de equipe.



Erros de time acontecem. Na Ferrari então, nem se fala. Só que lá se erra para os dois lados. Na Brawn, os tropeços vem muito mais para o brasileiro enquanto o inglês parece contar com uma maravilhosa "combinação de fatores positiva" em corridas onde tudo poderia dar errado e dá certo, o que estende para além do mérito direto a margem de trunfos sobre o companheiro. Na Espanha, houve a tal mudança de estratégia, até agora mal explicada pela equipe, favorecendo Jenson. Em outras provas, erros na escolha de pneus e agora o problema da mangueira. As duas disfunções mecânicas de largada também vieram para o lado de Rubinho e, se isso não me leva a desconfiar de sabotagem, pelo menos me faz pensar numa diferença de tratamento no time, de um "amor pelo trabalho" maior de um lado do que de outro, como já ocorreu em outras épocas, vide McLaren em 2007 e 89 (em favor de Hamilton e Senna), e Williams em 86 e 87 (em favor de Mansell sobre Piquet). São detalhes que podem soar irrelevantes, mas que minam a força de vontade do piloto prejudicado para a corrida seguinte, uma vez que ele percebe que nem quando está melhor que o companheiro, as coisas andam a seu favor. Com o tempo, há o enfraquecimento da esperança, do ímpeto, do tesão competitivo e o espírito de luta cede ao desânimo. Se antes havia uma sensível diferença de capacidade entre um piloto e outro, passa a haver dominância completa de uma parte, como quando Senna passou a vencer Prost sempre e não maioria dos embates, como anteriormente. A força mental do elo mais fraco é quebrada, ele abaixa a cabeça e ambos passam a despender menos energia contra o colega, sossegando em suas condições de primeiro e segundo piloto, para o bem da equipe, que pode apontar todos os esforços contra as outras escuderias.



Ross Brawn se surpreendeu com o desempenho de Button esse ano e admitiu não imaginar até então que o inglês era tão bom. A rápida ascensão de Button no campeonato sobre o companheiro pode ter gerado um senso de preferência para a disputa do título e também de confiança frente à conhecida irregularidade de Rubens.

Outra ascensão, a da RBR, que dá sinais de ser a grande equipe do ano na segunda metade do campeonato, enquanto a Brawn talvez mal consiga se manter como segunda força, faz Ross repensar os esquemas de como obter seu título. Se, de fato, a RBR for bem melhor daqui ao fim da temporada, não haverá mais espaço para dois aspirantes ao caneco, até porque 2009 talvez seja a única chance da Brawn ser um dia campeã do mundo. Para o ano que vem, haverá uma preocupação maior dos outros times com o desenvolvimento dos "marca-texto com rodas" e decerto nenhuma surpresa oriunda de brechas do regulamento como o difusor duplo. Em suma, há grandes possibilidades da Brawn ser uma equipe do segundo escalão em 2010.

Com isso, qualquer possibilidade de favorecimento a Button será bem-vinda a Ross Brawn, para desespero de Rubens, agora mais sozinho do que nunca em sua luta pelo tão sonhado título.

Tem razão em reclamar algumas vezes (como hoje), em outras não. Para Ross, isso é irrelevante, já que ele não pretende colocar em risco o caneco inédito em nome do drama individual de um piloto às portas da aposentadoria. O time está para o time; nesse caso, Button. E Rubens ruminará sozinho outra vez.


Sunday, July 05, 2009

Copa das Confederações - Parte IV



Pode-se dizer que a derrota norte-americana para o Brasil de domingo passado pela Copa das Confederações foi a primeira experiência real dos Estados Unidos com sua seleção de futebol masculino, o primeiro trauma, o primeiro momento em que este país, seus cidadãos comuns, muitos deles pouco interessados ou relacionados com o "soccer", acompanhou a seleção nacional, torceu, desejou ver a nação de John Wayne triunfando no futebol como representante legítimo da auto-estima do país. Vibrou com o "dois a zero" um pouquinho como nosso Brasil na copa de 50 ao se ver pela primeira vez alçado à condição de grande força desse esporte, e lamentou em proporções reduzidas como nós lamentamos ao perder a final do torneio de virada. Não houve mais aquela honra de time pequeno pela respeito conquistado, o "estamos contentes por chegar até aqui". O espírito americano de "não podemos perder" enfim se encontrou com a seleção, e eles quiseram ser os Estados Unidos também no esporte mais popular da terra, mesmo que por um instante. Fãs de longa data do "soccer" no país pararam de torcer para seus times estrangeiros favoritos. Spike Lee parou de torcer pelo Brasil. Quem até então cagava e andava para o time de Donovan e companhia, no mínimo, soube do que acontecia na África do Sul como saberia de uma decisão da NBA, NFL ou Major League Baseball. Até então não havia isso. Talvez houvesse se ganhassem do Brasil em 94 ou da Alemanha em 2002, mas os Estados Unidos só aceitam torcer para seu time de futebol quando ele estiver entre os grandes para então ser chamado de "Estados Unidos". O triunfo sobre a Espanha trouxe esse espírito, que seria, pelo menos na mente ianque, consolidado com uma vitória sobre o Brasil, e David Letterman, Oprah Winfrey e tantos apresentadores, atores, cantores e personagens de seriado que conhecemos há gerações falariam mais de copa do mundo, de seleções de futebol e do Brasil de chuteiras, que parece não existir no planeta dessas celebridades. Sim, tirariam uma baita onda, como quis Aschton Kutcher no Twitter enquanto perdíamos de dois a zero. Seria a nova vitória no Hockey contra a Rússia em 80.

Perderam, para nosso alívio. Mesmo assim, o americano comum sentiu enfim o gostinho de uma "World Cup experience" e aquele desejo genuíno de vencer, de mostrar que seu país "pode", de reverter um trauma de batismo, e se essa coisa seguir como ocorreu aqui em 50, veremos o "gigante americano" se esforçar como jamais fez para integrar o mundo e a história do futebol internacional, como já faz no feminino.


Saturday, June 27, 2009

Copa das Confederações - Parte III



Cá iniciamos o terceiro post sobre a Copa das Confederações

Não dá para negar que a África do Sul de Joel Santana fez um jogo surpreendente. Meio retrancada, é verdade, postura que o selecionado de Dunga ainda não aprendeu a combater, e que certamente encontrará na copa do mundo com regularidade. Falta de armadores atrás é um problêma crônico com o qual nosso treinador terá de conviver, e que será cada vez mais explorado pelos adversários. Se não conseguimos as roubadas de bola e os contra-ataques que viararam marca registrada desse grupo, há problemas na criação de jogadas, na "descontrsução da defesa adversária" já montada, coisa que foi o ponto forte do Brasil em muitas ocasiões, como em 82, por exemplo, quando tínhamos grande qualidade de passe com volantes, laterais e meias.

Esse Brasil do futebol moderno é rápido, defende, rouba bola, "morde", mas precisa muito do espaço aberto para funcionar com seus passes curtos e triangulações. Se a característica da partida desfavorece esse tipo de jogo, temos problemas crônicos com a criação. A África do Sul não é exatamente um grande time. Jogou em função do primeiro gol, como tantas zebras fazem contra adversários mais fortes. Se toma o primeiro gol, tem pouquíssimas condições de reação e a tendência é tomar um chocolate, como provavelmente aconteceria se nosso primeiro gol viesse mais cedo. Não tinham muita escolha, claro, mas Dunga precisa pensar seriamente em convocar jogadores com características diferentes para as próximas competições ou fica sem condição de mudar a cara de uma partida difícil. Daniel Alves do lado esquerdo foi ousado, e funcionou. Achei essa partida a cara dele, mas nunca o imaginei no lugar de André Santos.

O que para mim fica constatado sobre a seleção brasileira nessa Copa das Confederações, é que, apesar de ser um time competitivo, forte, determinado, que treina fundamentos como não quis fazer em 2006, tem limitações flagrantes, principalmente da parte de volantes e laterais, e terá de conviver com essas limitações. Ronaldinho Gaúcho não poderá ficar fora dos 22 da copa do mundo, porque é um jogador criativo, e esse time precisa de criatividade e gente que "horizontalize" o jogo. O Brasil de Dunga tem muito do que os "Brasis" clássicos não tinham (contra-ataque eficiente, treino exaustivo de jogada de bola parada, marcação e recomposição rápida, velocidade, goleiro milagreiro...) mas carece um pouco no que esses sempre ostentaram (craques e cobradores de falta a dar e vender, bons armadores, passe longo, capacidade de cadenciar o jogo e realizar inversões constantes, ótimos laterais, centro-avantes matadores.).


Thursday, June 25, 2009

Empolgação perigosa - Parte II



Voltando aos assuntos "Copa das Confederações" e "seleção brasileira", ninguém precisa entender muito de bola para saber que o time de Dunga melhorou, e além do esperado. Mesmo os analistas mais críticos vêm tecendo elogios ao selecionado verde e amarelo.

Mas o título "Empolgação Perigosa" não vem à toa. Já vimos a grande zebra yankee desbancando os campeões europeus na semi-final, contando com a velha filosofia de jogar com disciplina em cima do erro adversário. O duelo de manhã com a África do Sul pode até trazer surpresas, mas é muito pouco provável que isso aconteça, já que os Bafana-Bafana não são tão disciplinados taticamente e aproveitadores do vacilo alheio como os norte-americanos. A zebra de hoje talvez contribua para evitar uma amanhã, deixando os pupilos de Dunga de antenas ligadas em sua semi-final.



Minha preocupação é que, até aqui, ganhamos as três partidas do torneio só no primeiro tempo, com o Brasil impondo seu jogo e contruindo o placar. No segundo, o jogo mudou de cara e nossa seleção não soube manter a eficiência anterior. Foi assim contra o Egito, quando fizemos três gols na etapa inicial e tomamos o empate em função de alterações feitas pelo treinador adversário na etapa seguinte. Saímos atabalhoados atrás da vitória, que até veio, porém menos em função de uma mudança estratégica de Dunga e mais pela insistência desordenada de nossos atletas, meio perdidos em campo. Contra EUA e Itália, história parecida, matamos o jogo nos quarenta e cinco minutos iniciais e seguramos as pontas nos finais, quando o treinador adversário mudou a cara da partida. No caso dos EUA, ajudou-nos a expulsão do jogador Kljestan quando começavam a ter as rédeas do jogo.

Resumindo. Dunga já tem na mão um time, mas não um plano B para quando o A não funcionar ou para quando estivermos em desvantagem. O máximo que nosso técnico fez ou faz é colocar mais um atacante no lugar de Robinho, ou de um volante, ou um volante no lugar de um meia ou atacante quando se precisa de mais marcação. Sem estratégia, só em cima do óbvio. Lembremos que um dos motivos da derrota de 2006 foi a ausência de um plano B, entre outros fatores. Jogo muda de cara e treinador precisa ter cartas na manga.

Quanto à derrota da Espanha, coisas do futebol. Talvez o grupo mole da primeira fase tenha os tornado reféns do típico susto que acomete os favoritos quando estão tendo um caminho até então tranqüilo. Tivessem transposto a situação (lembremos França e Paraguai em 98 e Brasil e Bélgica em 2002) voltariam melhores e mais "cascudos" para a final. Não aconteceu. Insistiram em repetir jogadas, tiveram pouca sorte (ela sempre atrapalha nessas horas) e pegaram um adversário pouco criativo, mas que sabe complicar um jogo e manter o sangue frio. Mas os pupilos de Joel não estão nesse mesmo nível. Se empatarem ou vencerem amanhã serão, sem dúvida, a grande zebra do campeonato, bem maior que a dos Yankees.


Sunday, June 14, 2009

Empolgação perigosa



Vendo os últimos jogos da seleção brasileira de futebol, fica clara uma carência no time, que talvez abranja quase todo esse esporte em território nacional. Diagnóstico: Ausência de bons armadores. Armadores que não sejam meias-atacantes, que distribuam o jogo de trás com passes longos, que saibam alternar a velocidade do time, cadenciar e acelerar, virar o jogo, orquestrar, lançar, lançar e lançar. Desde a saída de Juninho Pernambucano da seleção, temos essa carência, vez ou outra suprida pela presença de Ronaldinho Gaúcho jogando improvisado mais para trás do que fazia no barça, que é a posição onde chegou a funcionar um pouco durante essa nova Era Dunga. Juninho e Ronaldinho sabem cobrar escanteio com precisão e bater falta como ninguém mais no atual Scratch, porém ambos estão fora do time que disputará a Copa das Confederações.

Locutores, torcedores e comentaristas insistem que a seleção só joga bem fora de casa quando o adversário "sai para o jogo" e mal quando ele "fica na defesa". Há uma explicação. O time de Dunga depende demais dos passes curtos, das subidas conjuntas pelo lado direito e esquerdo que gerarão as tais triangulações já características de nosso futebol recente, com Kaká no comando. Com isso o Brasil é obrigado a passar o jogo inteiro tentando criar o contra-ataque, atraindo o adversário ou marcando forte na frente. Funciona, mas limita nosso leque de possibilidades e a cada jogo os adversários explorarão isso e focarão seus esforços defensivos no único jeito que sabemos jogar. Quando tomamos o gol ou quando o oponente se retranca um pouco mais, vem a dificuldade. Diminuem-se os espaços para os passes curtos e os longos não saem; Lúcio deixa a defesa como um rolo-compressor desesperado para o ataque, Felipe Melo tenta lançar bola, Elano e Daniel tentam cruzar, de vez em quando um consegue, mas depois de muitos erros. E o tempo vai passando, o time saindo todo e deixando espaço para contra-ataques. Se tomarmos um "primeiro gol" da Itália, por exemplo, o jogo fica do jeito que eles gostam. Ah, se Pirlo jogasse com a amarelinha!



As três ultimas vitórias das eliminatórias mascaram deficiências que certamente aparecerão nessa Copa das Confederações, talvez já no segundo jogo, contra os Estados Unidos. Não fomos bem contra o Peru e contra o Paraguai. Cavamos gols e achamos mas não houve um trabalho mais orquestrado nesse sentido. Essa coisa de "água mole em pedra dura tanto bate até que fura" não dá certo sempre. Defesas talentosas e inteligentes exigem que sejam desarmadas de modo mais elaborado, conscientemente elaborado. O Brasil pode até vencer essa competição, mas em alguns momentos esse defeito aparecerá mais claramente e Dunga se verá o tempo todo obrigado a adaptar a maneira de jogar do time a suas deficiências.

Falando em deficiências, fico com pena do Daniel Alves. Está feliz, claro, talvez seja titular e suas atuações melhoram a cada jogo, mas virou o carregador de piano das limitações do elenco. "Elano não está conseguindo cobrar escanteio, chama quem?", Daniel Alves. "Elano não cobra mais falta, chama quem?", Daniel Alves. "Elano não cruza mais, e ninguém cruza direito, chama quem?", Daniel Alves. Só que ele não cruza tão bem assim e não joga tão bem assim, principalmente quando ocupa a posição de origem, ou seja, quando está marcando no canto defensivo direito do campo com o time atrás, marcando posição. Ali, na hora em que o lateral tem que ser lateral e não ala ou atacante, ou ponta, ou "homem que vem de trás", Daniel não é melhor que Maicon. Preferia vê-lo no lugar de Elano, como na final da Copa América, com Maicon sendo o lateral. No mais, ele não tem culpa de ter de cobrir as deficiências de outros jogadores.



Bom... Resta esperar. Dunga quer transformar Kaká em um "Quarterback", no cérebro que o meio-de-campo não tem. Pode fazer isso até certo ponto, mas não pode fugir tanto de suas características de correr, dar passes curtos e pegar lá na frente. Ele precisa de um cara Ricardinho ou um Juninho para cadenciar, armar e revezar.

Sunday, May 17, 2009

Dois textos meus em outros sites

Oi. Sei que fiquei meio longe desse blog umas semaninhas. Até tinha um post preparado para semana passada, mas não terminei.

Por outro lado, isso não significa que eu tenha parado de escrever. Deixo abaixo o link para dois textos de minha autoria, um publicado no zine "A Broca Literária" e outro na Revista Sina, também postado hoje no blog Poeira de Idéias.

Seguem os links para os textos:

Inquilinos na Embaixada do Céu

Quando os Certos Estão Errados


Sunday, May 03, 2009

Pérolas do youtube: Duelo de gênios

Essa eu catei do blog do Flavio Gomes. Momento histórico da Formula-1. Três gênios, dois consolidados e um em início de carreira, em duelo direto pela liderança do Grande Prêmio da África do Sul de 1993. Alain Prost, Ayrton Senna e Michael Schumacher. Prost com o melhor equipamento, Senna, no auge de seu refinamento como piloto e Schumi já mostrando que deixaria seu nome na categoria. Saudades de ver os mestres em ação.

Friday, April 24, 2009

Estranhas teorias de Quentin Tarantino - Parte 2



Já postei sobre esse assunto aqui no blog, destacando três trechos de filmes roteirizados pelo diretor, onde ele escancara teorias sobre Madonna, Top Gun e o Super Homem. Achei no youtube um curta-metragem escrito e dirigido por desconhecidos (pseudônimo 300 ml) e protagonizado por Selton Mello e Seu Jorge, que interpretam dois personagens numa mesa de restaurante. Um deles (Melo) tece teorias sobre os filmes de Quentin, interligando personagens de diferentes produções de modo bastante interessante, algo como um "código Tarantino" escondido em suas obras. Concordo com algumas partes e discordo de outras, como o lance do conteúdo da maleta, já que o personagem de Tim Roth em Pulp Fiction o reconhece como algo familiar. Lembremos que esse personagem não estava em Cães de Aluguel (o ator sim, mas como um policial). Minha opinião sobre o conteúdo da maleta foi motivo de um post em meu antigo blog até. Também discordo das teorias sobre Mia Wallace e a Noiva, mas o lance dos irmãos Vega tem tudo a ver.

Bom... asssista ao curta e tira suas conclusões.

Saturday, April 11, 2009

Quando um é deixado para trás



Tenho um colega de orkut que mora no Texas, Estados Unidos, e serviu na guerra do Vietnã. Quando indagado sobre a veracidade ou o "realismo" de filmes que abordam o conflito, esse colega responde com desdém, principalmente em se tratando de sucessos como Apocaplipse Now, Full Metal Jacket ou Platoon. No entanto, uma característica comum em filmes focados nos fuzileiros americanos, segundo ele, é real. A filosofia do "No one is left behind". Os fuzileiros (não o exército) dos Estados Unidos são adestrados a não deixar, sob qualquer hipótese, seus colegas mortos e feridos para trás, ainda que novas baixas ocorram em função disso. Não sei até onde, na prática, a coisa é aplicada caso a caso, mas meu colega veterano disse que ela existe, e que, ao contrário do que muitos crêem ou insinuam - como Stanley Kubrick, em seu Full Metal Jacket, no trecho em que um terço de um pelotão morre em função de um único ferido - , é uma prerrogativa inteligente, ainda que custe caro. O benefício dela é o moral da tropa e a confiança e entrega mútua entre seus integrantes, algo valioso no campo de batalha. Chegamos a debater esse assunto e sempre tive dúvidas sobre até onde meu colega poderia ou não ter razão. Em Black Hawk Down, por exemplo, uma operação inteira foi prejudicada em função de um único soldado (o filme é baseado em fatos reais, mas não sei se é nesse ponto em particular). Valeria a pena tamanho sacrifício?



Admito continuar no limbo, mas após assistir ontem ao longa-metragem Valsa em Bashir, pude entender melhor o outro lado da questão. Há um trecho em que uma coluna de tanques é atacada e dois dos veículos pegam fogo, obrigando seus ocupantes a fugir a pé, expondo-se à morte certa. O resto da coluna, percebendo o tamanho do problema, bate em retirada sem hesitar, mas um dos fugitivos sobrevive e acha um jeito de reencontrar sua antiga companhia. O clima entre ele e os colegas recém-encontrados é péssimo, como também sua sensação de culpa por não ter feito "o máximo que podia" em prol dos que ficaram para trás. Ampliemos isso a todas as companhias ou a todos os regimentos, desde o início de uma campanha, cada soldado sabendo que, ao primeiro sinal de perrengue, pode ser abandonado e deixado ao inimigo. O medo e a sensação de isolamento crescem, a entrega, o moral e o auto-controle diminuem, e isso num contexto em que tudo conspira à desunião e à neutralização do senso de grupo necessário à funcionalidade do mecanismo militar.

Aliás, Valsa Com Bashir é um ótimo filme justamente por isso, não por esse trecho em particular (há outro em que um soldado morre tentando salvar o colega ferido) mas pela mensagem que desenvolve sobre a falta de sentido, preparo, percepção global e meritocracia inerentes a uma guerra, coisa pouco explorada em filmes do gênero, mesmo os mais críticos ou "realistas".


Tuesday, April 07, 2009

Machete, a mentira que virou verdade



Diria Joseph Goebbels que uma mentira dita mil vezes se torna verdade. Não sei se a máxima do ministro nazista da propaganda se aplicaria ao caso desse post em todos os sentidos, mas isso não importa. Há dois anos, Quentin Tarantino e Robert Rodrigues se uniram para fazer uma obra inspirada em sessões de cinema típicas dos anos 70 e 80 com filmes baratos, muita mulher boa, violência e nenhuma censura. Chamavam-se Grindhouse, essas sessões, e a obra dos dois simula o que seria uma sessão específica com dois filmes para lá de picantes. Entre um e o outro filme, há uma seqüência de quatro falsos trailers daquilo que seriam os longas da próximas sessões. Horror, suspense, ficção científica gore e thriller de vingança ao velho estilo Bronson. O primeiro trailer "fake" é do próprio Robert Rodrigues, que trabalha em cima de uma idéia pensada quando ele rodou Desperado, mas depois arquivada, rearranjada sob forma de falso trailer e, graças a pedidos dos fãs, o personagem Machete, de Danny Trejo, deixará de ser uma "viagem" para povoar os cinemas como um longa-metragem real. O que era mentira virou verdade pelicular. Teremos em breve uma versão Chicana de Charles Bronson e Jean Claude Van Damme nas salas escuras e, se a coisa for tão boa quanto o trailer faz supor, talvez abra um rentável franquia.

Acompanhe, logo abaixo, o "falso e agora real" trailer de Machete, e, em seguida, as outras três obras primas da imaginação dos arquitetos do gore presentes em Grindhouse.





Para ver trailers reais de sessões Grindhouse da época, clique aqui e aqui.


Monday, March 30, 2009

Pitacos de domingo (1) - Futebol



1 - Julio Cesar

Há algumas semanas, escrevi um post especificamente sobre o goleiro
Julio Cesar, mas a preguiça e outros fatores me impediram de terminá-lo. Basicamente, eu dizia o seguinte: Na história do futebol, o Brasil já foi tudo, já teve melhor time, melhor jogador, melhor atacante, maior goleador do mundo, da copa, de todos os tempos, mas nunca melhor goleiro. Aliás, só de dez anos para cá nossa seleção passou a ser respeitada nessa posição. Nossa escola de goleiros hoje permite que tenhamos arqueiros de nível internacional tanto entre titulares quanto reservas, e agora, enfim, a coroação desse esforço. Julio Cesar é hoje tão bom que até lembra os grandes momentos do lendário Michel Preud´Homme. Faz o estilo do goleiro milagreiro, de saltos espetaculares e defesas "impossíveis", o extremo oposto da escola Taffarel, de boa colocação e defesas "seguras". Se até ontem havia dúvidas, agora a imprensa já começa a admitir o que muitos já enxergavam como inevitável. Julio Cesar é ou vai ser muito em breve, e indiscutivelmente, o melhor goleiro do mundo. Melhor que Casillas, Buffon, Peter Czec ou Van Der Sar - boa parte destes, já em descendente. Julio Cesar vem em ascenção e sua grande fase pode ser coroada na próxima copa do mundo, caso estejamos lá.



2 - Brasil 1 X 1 Equador

Quanto à seleção, me parece óbvio que Dunga não preparou o time para a cara do jogo, e esqueceu, como tantos outros treinadores esquecem, que cada partida tem um perfil. Repetiu a escalação da vitória contra a Itália contra um adversário que, todos sabiam, tinha como forte o jogo pelas pontas, os cruzamentos e a altitude. Nossa seleção quis jogar mais encolhida e esperar os contra-ataques, mas não tinha sido armada para fazer esse jogo, nem para garantir a posse de bola nos chutões de Julio Cesar, nem para evitar os rebotes, naturais em partidas sob pressão. E se altitude sempre foi problema para o Brasil, se todos sabiam disso, porque não se prepararam para "segurar a avalanche" e aproveitar os contra-ataques, marcando do meio para trás? Pior, se o adversário se destacava pelas pontas, porque deixar seus melhores valores nas mãos de gente como Marcelo e Daniel Alves, ótimos no ataque e patéticos na defesa? Nossa escola de laterais precisa aprender a defender também. Lateral não é ponta. Se almejamos manter o estilo laterais-alas pós-94, precisamos de jogadores capazes de executar essa função ou de esquemas que não façam a defesa depender tanto da atitude individual deles. A cobertura de Josué, aliás, foi igualmente ridícula. Dando bote errado, chegando atrasado sempre, fazendo falta e tomando "come" toda vida.



Ninguém está falando muito a respeito ainda, mas nossa situação nas eliminatórias já é alarmante, quase tão complicada quanto em 2001. Temos, pela primeira vez, empatado jogos fáceis em casa e contando demais com os tropeços adversários. A partida contra o Peru é obrigação de vitória. Depois, será Uruguai em Montevidéu, Paraguai aqui e Argentina - muito melhor com Maradona e Billardo - em Buenos Aires. A máxima de que, bem ou mal, o Brasil sempre se classifica para a copa será colocada em cheque de novo.


Tuesday, March 17, 2009

Piraram na batatinha da Formula-1



Acaba de sair hoje uma das decisões mais estranhas e controversas da história da Formula-1. A partir de agora, a pontuação só servirá ao campeonato de pilotos como critério de desempate e como definidor de segundos, terceiros e quarto colocados em diante. O campeão será quem tiver o maior número de vitórias, independentemente do resto. Uma decisão estúpida, a meu ver, que criará situações atípicas e anti-competitivas ao longo da temporada. Alguém esqueceu de avisar aos donos da categoria que a tal competitividade não ocorre só na briga entre primeiro e segundo, mas em todas as posições, e uma vez que a quantidade de pontos passe a não determinar o campeão, teremos pilotos de ponta abdicando de uma prova ao perceberem que não podem vencê-la. A solução óbvia para se incentivar o duelo pela primeira posição seria aumentar a diferença de pontos entre primeiro e segundo para três ou quatro, em vez de dois. Isso já seria o bastante para fazer candidatos ao título arriscarem uma colocação confortável pelo posto mais alto do pódio. Não tenho bola de cristal, mas acho que essa foi uma mudança de regra incrivelmente equivocada e que pode estragar uma temporada que estava prometendo.

O jornalista Flavio Gomes comenta a decisão em seu blog.


Tuesday, March 10, 2009

Watchmen - um clipe metido a filme



Sou fã da série Watchmen dos quadrinhos. Li há pouco tempo e achei fantástica. A "Graphic Novel" de Alan Moore e David Gibbons tem tal relevância no mundo dos gibis e da ficção, que recebeu honrarias dedicada à pérolas da literatura. É a única HQ a constar na lista das 100 maiores obras literárias em língua inglesa escritas desde 1923, elaborada pelos críticos da revista Time, por exemplo. Com isso, choveram intentos para adaptar Watchmen à telona. Entre os candidatos, Terry Gilliam, que até tentou, mas achou a história intransferível devido à características fortemente relacionadas à midia original. Além disso, o enredo é longo e profundo, com histórias dentro de histórias dentro de histórias, todas densas, concatenadas e repletas de mensagens subliminares que nos fazem ingressar num mundo vivo, vibrante e que diz muito sobre a modernidade e a década em que foi escrito. Não foi por acaso que levaram vinte anos para transformar Watchmen em filme.

O desafio era imenso; os fãs da série, exigentes. Desconfiança pairava no ar, mas os primeiros sinais de recepção foram favoráveis. Críticos de alto calibre como Pablo Villaça, de quem sou fã, elogiaram o filme, como também o bonequinho do globo e outras mídias especializadas. Dos fãs, resposta igual, e apesar de minhas desconfianças (uma vez que assisti ao trailer e também fiquei ciente de quem dirigia o projeto), pensei que, no fim, fosse concordar com a opinião hegemônica de que, ao menos como versão, Watchmen, o filme, era bom. Desencanei e desembolsei dezesseis reais por uma cadeira no Roxy de Copacabana, esperando me divertir.



O longa começa. Empolga-me, o início. O Comediante era parecido com o do quadrinho e sua morte seria encenada em vez de insinuada em flashes como na HQ. "Ok. No problem". Veio a primeira luta e meus temores ganharam forma. Sim, as tais piruetas de enquadramento girando em 360 graus enquanto a imagem alterna lentidão com rapidez estavam acontecendo de novo, exatamente como naquele filme sobre espartanos, como é mesmo o nome? Ah, "300". Do mesmo diretor, não é? Ignorei-as e perdoei o virtuosismo besta me distraindo da história. O comediante quebra o vidro, a câmera pára e gira e volta e close no smiley ensangüentado quicando no chão. Com cinco minutos de filme, a empolgação inicial dá lugar ao tédio. Sim, aquilo era mais ou menos o que meus maus pressentimentos temiam. "300" com roupa de super-herói. Alan Moore não merecia isso.



Watchmen, o filme, é um fracasso. Terry Gilliam faria melhor. O roteiro precisou ser mudado e adaptado à curta duração do projeto e nisso os responsáveis mostraram empenho. Muitos diálogos do quadrinho estão lá, linha por linha, ou com passagens inseridas em outras falas. Flashbacks foram enxugados ou realocados, preservando suas sub-tramas básicas dentro do possível. O enredo do filme, embora enxuto e diferente, mostra-se fiel ao gibi, e talvez tenha sido isso a me revoltar mais que tudo, ver falas que eu tão bem conhecia mudando de contexto a ponto de "desdizer" o que diziam no quadrinho. A aparente fidelidade da adaptação funcionando como um álibi para que Zack Snyder, "o virtuoso", fizesse seu videoclipe de duas horas e meia sem importunações. E é isso que Watchmen é. Um clipão chinfim de duas horas e meia amparado por falas supostamente geniais desprovidas de um contexto que as faça dizer o que querem.

A HQ funcionava em níveis múltiplos de percepção, mas o filme se mantem no nível 1. Cada quadro precisa ser tão impactante quanto uma capa de revista. Mas uma sinfonia não pode ser tocada no apogeu do início ao fim. Musicalmente, ela deve "contar uma história", assim como Watchmen deve contar uma história, e uma história tem etapas, tem introdução, apogeu, conclusão... No caso de Watchmen, vai além, mas possui altos e baixos e nuances e silêncios reflexivos que fazem um emaranhado de elocubrações e situações ganharem sentido. Snyder ignora isso. Para ele, tanto faz se é um filme de faroeste, espartanos machistas de sunga ou super-heróis aposentados às vésperas do armagedon, o que vale é manter o espectador em contínuo deslumbre visual, olhos gozando a cada granulação de frame, cada salto, coreografia, gota caindo do cabelo meticulosamente esvoaçante do protagonista. Não há tempo ou espaço para pausas dramáticas, silêncios reflexivos, "ascendente e descendentes" que permitam a devida ingestão do que os diálogos propõem. As falas do roteiro têm de dar espaço ao exagero estético que nunca "afrouxa" e, por isso, mal se ouve o que é dito ante o show de estímulos. Talvez fosse melhor que não houvesse falas.


Chego a pensar nesse filme como um atentado à grandeza do quadrinho. Excedo-me? Duvido. Snyder pegou os diálogos de Moore e os anulou. Fez com que trabalhassem em prol do que questionavam. A crítica aos tempos republicanos, a Reagan, às visões unilaterais e suas conseqüências, às inversões de valores de uma sociedade doente que gera gente como Rorschach e o Comediante, "guardiões" de um mundo "torto", tudo isso virou apologia e brincadeira na mão de Snyder, como também a violência, presente na HQ, mas não de modo gratuito, gerando-nos, por isso, impacto e empatia com personagens e situações. No filme, não há empatia, ou humanismo, ou pontes que nos permitam entrar na história, pois não há história, só uma seqüência vazia de eventos.



O filme é um simulacro bidimensional do quadrinho. A morte do anão se finge fiel à obra, mas só quer mostrar sangue, maldade, maldade divertidinha. O Coruja não se choca com a atitude do ex-colega. Apoia-o numa careta como se dissesse "hell, yeah, kill this motherfucker" por dentro; o mesmo prazer mórbido dos espectadores que acharam engraçado quando Rorschach picou a cabeça de um assassino com um cutelo. "A seqüência foi quase igual ao quadrinho, com uma mísera diferença!" brada a mim um fã, no que respondo: Não. Não foi "igualzinha" ou quase. Fingiu que era. Simulou para legimimar o que Snyder queria que o público quisesse ver. A porrada, o braço cortado, o sangue digital que é "super maneiro, cara!". Esse Watchmen é um pornô onde os diálogos só prestam para entremear a ação que todo mundo espera. Mas a "ação" da HQ se dava "dentro da ação" ou onde ela não existia, uma "ação" que ocorria em nossos interiores pelo que não podíamos deixar de pensar, sentir, associar, na relação com o que a história nos comunicava. O psiquiatra só aparece no filme para que o filme nos diga que ele aparece, como uma penca de personagens, falas e seqüências dispensáveis; para que os fãs exclamem: "Ih, olha lá o psiquiatra da HQ! Ih, agora a seqüência das figuras! Ih, vai falar do cachorro agora, olha o cachorro, ih, legal, sinistro, assim desse jeito!" Nada acontece que não seja para justificar o lusco-fusco, o "verdadeiro filme de Snyder" como obra cult ou algo mais que um mero videoclipe.



Se entivesse vivo, Baudrillard consideraria a associação entre o longa e a HQ uma alegoria muito melhor de seu "Simulacros e Simulações" do que Matrix, onde se adorava citar o filósofo nos bastidores. As atuações em Watchmen seguem caminho idêntico. À exceção dos momentos de raiva, ironia, etc, as emoções são sempre em falsete; os personagens nada sentindo. São eles, não os atores, os verdadeiros intérpretes. Psicopatas interpretando humanos. Psicopatas simulando choque, tristeza ou compaixão a cada necessidade do enredo. Suas verdades interiores estampadas na máscara mórbida que, quando podia, deixava transparecer o material sádico e impassível do qual era feita.

Talvez o fato de poucos perceberem isso, que a mim parece óbvio, seja um sinal de que a doença que Moore denunciou em sua obra tenha contaminado o consenso público. Estamos mais rorschachiados e comediantizados do que nossos predecessores. Esses filmes e nossa aceitação deles refletem isso. Watchmen é a "grande piada" do Comediante Snyder para os Rorschachs dentro de nós.



Não creio que não existam qualidades no filme, mas estas são inofensivas frente ao desastre do conjunto. Para não dizer que odiei tudo, penso que um esboço de trama ameaçou dar as caras nos minutos finais, e de repente as falas moveram-se nas tumbas, levantaram-se, ameaçaram fazer-se valer e lutar contra o exagero visual pela atenção do espectador, estrebucharam e desfaleceram, pois era tarde e o estrago estava feito. Tecnicamente, muitas das soluções do roteiro adaptado fizeram sentindo (há falhas também), incluindo o fim alternativo, que precisou de menos retrospectos que o fim original requeriria, parecendo-me eficiente.

Tenho mais a falar de Watchmen, para o bem e para o mal, porém o choque negativo pela escolha do diretor, por sua interpretação do trabalho de Moore e pelo fato de tantos não terem exposto sua mediocridade me fez querer "botar para fora" em palavras e deixar de lado questões mais específicas do roteiro ou desse e daquele ator. Sei que não sou dono da verdade, e também não quero posar de politicamente correto, ou anti-estético, ou anti-violência, que para mim pode ser um recurso ótimo, desde que nas mãos certas, quer críticas ou sádicas. Um projeto como Watchmen merecia um diretor comprometido com a essência da trama.



Snyder é péssimo. Exagero por exagero, sanguinolência, impacto, porrada... prefiro Tarantino ou Rodrigues. Nenhum dos três faria Watchmen, dependendo de mim, mas Tarantino sabe diferenciar filme de videoclipe e Snyder não.




Nota posterior do autor: Escrevi este texto ontem (9/3) e o publiquei aqui na última madrugada. Sei que 90% da crítica apoia o filme, mas, aos poucos, vou descobrindo opiniões de fãs e especialistas com visões parecidas com a minha. Há minutos, esbarrei com um comentário de Isabela Boscov, da revista Veja, que tem muito a ver com o que escrevi. Para quem quer conferir o que ela disse, basta clicar aqui.