Sunday, February 21, 2010

Mini Caveirão



Medo de Sinal de trânsito, sequestro relâmpago, bala perdida?

Seus problemas acabaram!

O governo da Índia, aproveitando a onda do sucesso do filme
Tropa de Elite, acaba de lançar no mercado, o Personal Caveirão, feito sob medida para empresários, juízes, turistas e figurões da alta roda que precisam se proteger da selvageria da plebe descontrolada. Já é grande o número de encomendas para o Rio de Janeiro, e uma empresa local se oferece para produzir uma versão licenciada do produto, que também contará com uma variante Light para um público de menor poder aquisitivo, incluindo Policiais e militares de baixa patente.

Com o Personal Caveirão, você não precisará mais ter medo de que aquele desvio nebuloso te leve para dentro do morrão sinistro.

Tuesday, February 09, 2010

Erros que geram erros



Brasileiro é assim. Se a coisa deu errado há quatro anos por causa "disso, disso, disso", então, façamos o contrário e tudo vai dar certo. Tipo, não se analisa os detalhes e as particularidades das situações. Ou é 8 ou 80.

A não-convocação de Ronaldinho Gaúcho por Dunga para o amistoso contra o Eire me faz pensar que há grandes possibilidades dele realmente não ser chamado à copa. Na cabeça de Dunga, é a lição de 2006. Ronaldinho foi uma das estrelinhas mimadas daquele mundial, adora demais a "night", não quis ir à copa América, teve a fase deprimida no Milan, não foi bem na olimpíada, alugou quarto para farra três dias, etc, etc, e, para o treinador, talvez não seja um jogador "comprometido" com a seleção, não é "guerreiro", como aprendemos a querer que nossos "atletas" sejam, em vez de craques ou artistas da bola. Do outro lado da balança, o cara que teria de sair para que Ronaldinho entrasse: Julio Baptista, reserva de Kaká, o homem que aceitou jogar a copa América quando Kaká, Ronaldinho, Zé Roberto e Juninho não queriam; o jogador que, apesar das limitações, fez o meio de campo funcionar e trouxe o título contra a Argentina. Júlio é obediente, dedicado, "guerreiro", comprometido, disciplinado, tático e esteve "com o treinador" desde o começo. Agora, perto do Filet Mignon que é a Copa do Mundo, quando os mimados e os guerreiros igualmente desejam jogar, Dunga acha que deve recompensar quem o apoiou e à seleção na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. É normal que um treinador pense assim e que passe isso aos "atletas" no início de um novo "ciclo" ou numa convocação de emergência lá no meio desse ciclo, quando a nau está para afundar numa eliminatória, por exemplo. Felipão fez esse pacto com Edilson e Luizão nas qualificatórias de 2001, vetando Romário para o mundial da Ásia. José Roberto Guimarães, do volei feminino, prometeu a suas recém-chamadas pupilas que elas não perderiam o posto para uma estrela mais talentosa lá pelo final do ciclo, se "estivessem com ele" e fossem bem desde o começo. Resultado: Fernanda Venturini apareceu do nada para jogar Pequim e foi vetada. O objetivo deste pacto é garantir a união do grupo e a união do grupo com o treinador. "Se estão comigo, estou com vocês." Se o pacto é quebrado lá atrás ou lá na frente, os pupilos perdem a fé no "professor", percebem que, independentemente de se matarem nos treinos e nos jogos de menor importãncia, perderão vaga para os figurões quando a coisa realmente importar e, portanto, não se sacrificam, ferrando o técnico junto. Parece-me que a grande reclamação interna do elenco em 2006 é que os reservas se matavam a troco de nada enquanto os titulares se sentavam sobre os louros de sua história e seus "talentos diferenciados". No fim, Parreira perdeu todos, titulares e reservas.



Na sombra dessa "lição", vem 2010, e Julio Baptista é o reserva dedicado, enquanto Ronaldinho, a estrela mimada e desfocada, reflexo do mau exemplo de 2006. Dunga quer dar a mensagem a seus comandados, mirar-se no exemplo de 2002, e seguir a cartilha do que deu certo. Mas ele esquece que cada história é uma história, cada time é um time e que há sempre o imponderável à espreita. Em 2002, tudo podia ter dado errado contra a Bélgica e não deu. Se desse, a geração "Ronaldo-Rivaldo-Roberto Carlos e companhia" seria para sempre a "geração sem líder", "não teria vencido uma copa porque não tinha um Dunga" e o Brasil clamaria por seu novo Dunga em campo para a copa seguinte. Procurar-se-ia uma renovação apressada sem obedecer aos ciclos naturais de passagem de posto. Portanto, assim como a vitória pode esconder erros, a derrota pode exagerá-los até torná-los tabus idiotas.



A verdade é que não temos um elenco cheio de craques para 2010 como tínhamos em 2006, a ponto de podermos abrir mão de uma estrela aqui e ali, como podíamos. Possuímos um time aplicado e bom na medida do necessário, mas de criatividade limitada, como há muito não se via numa seleção brasileira. O meio-de-campo é um dos setores críticos, salvo da mediocridade pelas presenças de Felipe Melo e, principalmente, Kaká, centro nervoso do elenco inteiro. Se Kaká se ausentar da copa ou mesmo de uma partida ou duas ao longo da competição, o Brasil pode ficar tão perdido como a França de 2002 sem seu Zidane, e corre risco de fazer novo papelão. Seu reserva Julio Baptista não pode realmente substituí-lo. Ninguém pode. Ninguém exceto Ronaldinho Gaúcho, que também pode mudar a cara de uma partida com seu talento diferenciado que guerreiro nenhum adquire com aplicação. Ronaldinho é um craque no melhor sentido da palavra, daqueles que fulgurarão (ou fulgurariam) como marcos de sua geração daqui há 20 anos, dos que nasceram e cresceram craques, como Ronaldo, Romário, Kaká, Zico, Rivaldo e tantos antes. Bate falta, escanteio e dá passe como ninguém. Se a maneira de jogar do elenco titular está montada e não tem lugar para ele, ainda poderia ser um recurso para o meio da partida, quando o plano A falhar (e falhará em algum ponto da caminhada). Os Júlios, Elanos e Josués têm suas qualidades, mas não viram um jogo de cabeça para baixo, não destravam os nós táticos estabelecidos na prevalescência de uma estratégia sobre outra. Além disso, em copa do mundo, estrelas fazem toda a diferença. Felipão tinha três, e, também por isso, se absteve de Romário. Dunga não possui um reserva para Kaká e precisa de Ronaldinho, mas é provável que recompense seu cão de guarda Julio pelos serviços prestados, ainda que reze para não precisar deles de novo.

A nova era Dunga da seleção teve muitos acertos ao longo destes quatro anos, mas pode afundar em função deste único e crucial erro, provável lição para 2014. A de que nessa vida, nem tudo precisa ser "8 ou 80".