Sunday, May 06, 2007

Xuxa politicamente correta

Navegando pelo Youtube como de costume, eis que me deparo com trechos do programa que Xuxa Meneghel fez para a TV americana em meados de 93, nos tempos em que tentava ampliar seus poderes de rainha para o lado saxônico do continente, e, conseqüentemente, para o resto do mundo.



(Alguns trechos do "Xou da Xuxa" americano (lá chamado apenas de "Xuxa") podem ser encontrados aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui ou aqui)

Pouco sei sobre detalhes deste programa. Pelos videos postados, vemos que o show procurava passar um clima de aldeia global, com bandeiras de vários países tremulando em meio ao público infantil. Seu formato e características não diferiam muito daquele com o qual nos acostumamos anos antes. Personagens em forma de bicho, brincadeiras de palco, crianças em volta, paquitas. Um urso panda dividia o palco com a apresentadora, assumindo o microfone na hora de fazer explicações mais complicadas sobre as brincadeiras, já que xuxa ainda não dominava totalmente a língua inglesa.

O que mais me chamou a atenção foi a forte diversidade racial do programa, significativamente superior àquela vista no Brasil, contando, inclusive, com a presença de uma paquita negra. Sabemos, claro, não se tratar de uma diversidade espontânea, mas meticulosamente premeditada para angariar simpatia das "minorias" e preencher requisitos politicamente corretos para elaboração de material infantil em solo americano. Mesmo assim, este quadro étnico - tão diversificado quanto o quadro étnico populacional brasileiro - não deixa de nos parecer incomum, visto que não estamos tão acostumados a vê-lo refletido em nossas telinhas. A multiracialidade de programas como o "Xou da Xuxa" na versão nacional tinha tendencias caucasianas, "pró-claras", paquitas brancas e loiras, crianças negras sendo sempre exceções em volta do palco. O racismo da TV nacional revela um ideal estético pós-escravista, ainda arraigado em preceitos coloniais, um brasil "mítico" mais branco do que negro, mais claro do que escuro, mais "europa morena" do que "indo-áfrica clara". A TV e a publicidade, ao contrário do cinema, não buscam alcançar verdades, mas alimentar mitos, aspirações ainda fortes no inconsciente coletivo de nossas classes média e alta, sonhos que acabam por contaminar também a mente dos desfavorecidos, rejeitados por uma multiracialidade que se quer mais clara, de olhos mais verdes, mais azuis, com cabelos mais lisos; a multiracialidade de "caprichos", novelas, "playboys" e "coleguinhas" do Luciano Huck, uma miscigenação que pouco condiz com as reais proporções étnicas da nação.



O Brasil da TV exalta o Brasil da realidade como algo abaixo dele, algo para ser reverenciado enquanto ocupa seu devido lugar de notícia de jornal, documentário, "agora ou nunca", "o povo fala" e "se vira nos trinta". Na telinha, a representatividade estética do "povo" só ganha status de maioria quando participa como "povo", virando exceção ou "acessório" no terreno dos grandes referenciais de desejo coletivo, o que só contribui para minar a auto-estima e os sonhos daqueles que se vêem pouco refletidos no "mundo ideal da TV".

Mudanças significativas vêm ocorrendo nesse sentido durante a última década, inclusive no que diz respeito ao trabalho da "rainha dos baixinhos", mas tais progressos são pequenos perto do que ainda precisa ser elaborado. Sabemos o quanto falta para nossa diversidade "espontânea" da TV atingir níveis ao menos próximos de nossa realidade e, ironicamente, da multiracialidade fictícia que alguns canais americanos politicamente corretos propagam.

(Alguns trechos do "Xou da Xuxa" nacional podem ser encontrados aqui, aqui, aqui ou aqui)

1 comment:

Unknown said...

Quem é morto vivo sempre aparece... Gostei do teu blog também. Podemos trocar mails também. O que acha? já adiciono o teu.