Wednesday, August 20, 2008

Ecos de Pequim - Parte 1

Felizmente, apenas o McDonalds e a Rede Record aderiram a chamar Pequim de Beijing, nome chinês da cidade, porém usado por essas franquias muito mais em virtude de sua difusão via Estados Unidos, onde a capital chinesa também é conhecida pelo nome de origem.

Deixemos de lado os pormenores e partamos ao que interessa. Em algumas horas, duas grandes decisões mexerão com o espírito olímpico brasileiro. Às nove, o volei feminino terá sua maior chance de integrar uma decisão pelo ouro. Às dez, nossas mulheres do futebol tentarão consertar a injustiça de 2004 e conquistar o título importante que já está batendo na trave há milênios. Tanto elas quanto suas colegas da quadra jamais venceram um dos dois torneios mais prestigiosos de suas categorias.



Comecemos com o volei, sobre o qual devo prosar em outro post, caso consigamos a tão sonhada vaga na final. José Roberto Guimarães preparou estas atletas como nunca. Temos um time alto, focado, preparado, completo e que parece ter assimililado bem as lições do passado. Jamais fomos tão favoritos ao ouro; jamais chegamos a uma semi-final sem perder um set. Daqui em diante, isso valerá pouco. Tecnicamente, a China não é a mesma de quatro anos atrás e não parece tão temível. Perdeu para nossos dois possíveis adversários da final, mas demonstrou capacidade de superação no triunfo contra as Russas, ainda que suas adversárias também colaborassem com o placar numa atuação aquém da tradição. Fatores como torcida, experiência em decisões e autocontrole podem ajudar as chinesas contra o Brasil. Lembremos que nossa última derrota foi justamente contra elas no Grand Prix, e apesar dos altos e baixos que as asiáticas demonstraram de Atenas até aqui, não foram poucas as vezes que nos deram trabalho. Penso, porém, que nosso maior desafio virá do outro jogo, e talvez nem da invicta Cuba, mas de uma surpreendente seleção americana cuja reputação se fortalece há tempos e parece demonstrar evolução ao longo do torneio. Lembremos também que, dos quatro semi-finalistas, apenas um integrava o grupo do Brasil, supostamente o mais forte. Nossos três concorrentes não nos enfrentaram em Pequim. Motivos para cautela? Sim. Para pessimismo? De jeito algum. Somos sim favoritos ao ouro.



No futebol de saias, Brasil e Estados Unidos talvez constituam a maior rivalidade do globo, ainda que nossas meninas jamais tenham conquistado um título importante. Fala-se muito numa revanche de 2004, mas não devemos esquecer que, do outro lado, há alguém mais mordido, bem mais mordido, remoendo uma goleada que abalou severamente e auto-estima de um país que tem no "soccer for women" uma tradição de prestígio e vitórias comparável à nossa do "soccer for men". E americanos costumam ser terríveis quando alimentam ressentimento de um adversário ou inimigo. Estudam-o por meses ou anos, não esquecem, não descansam, não aliviam. O basquete feminino de Barcelona esteve aí para provar. Se nossas jogadoras têm no fato de jamais haverem conquistado o ouro olímpico ou uma copa do mundo a motivação ideal para jogar como nunca nesta final, as americanas também possuem seu elemento de estímulo. Vingança.


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