Sunday, September 21, 2008

O lado oculto da bondade

Você se lembra desta cena???



Ela ocorreu em 1991, ao fim do Grande Prêmio do Japão, que deu o tricampeonato mundial a Ayrton Senna da Silva. Seu rival na pontuação, Nigel Mansell precisava vencer esta prova para se manter brigando pelo título. Senna, então na McLaren, elaborou a estratégia de deixar seu companheiro de equipe Gehard Berger pular na liderança enquanto ele, Senna, seguraria Mansell em terceiro. Mansell não consegue ultrapassá-lo, perde a cabeça, a tomada da curva e vai parar na caixa de brita, sagrando o brasileiro campeão antecipado. Berger então perde rendimento e a liderança da prova para Senna, que guia tranquilo até a última volta, quando decide presentear o colega com a vitória, como mostra o vídeo. Para o mundo, um ato de grandeza e gratidão. Para Berger, um gesto vazio e desnecessário, como ele admite em sua biografia:

"Foi uma árdua e maravilhosa luta entre dois oponentes equilibrados. Na segunda metade da corrida, meu escapamento quebrou, eu perdi rendimento e tive de diminuir o ritmo, mas estava pronto a me sentir feliz com o segundo lugar. Tudo estaria bem se cruzássemos a linha de chegada um depois do outro, um grande primeiro e um respeitável segundo. Mas, em vez disso, ele tirou o pé logo antes da chegada e eu não tive tempo para pensar e, portanto, o ultrapassei. Poderia ter acontecido de ele ter ficado sem combustível. Seu "grande gesto" foi vazio, pois se ele quisesse, do fundo do coração, fazer algo significativo para mim, depois de uma temporada sem brilho, ele teria feito umas dez voltas antes: daríamos um belo espetáculo e no final eu ganharia. Mas o modo como ele fez mostrou ao mundo inteiro quem mandava e que sua pontuação no campeonato era tal que ele podia se dar ao luxo de fazer alguma coisa pelo pobre Berger. O fato de o escapamento ter realmente me prejudicado foi apagado e tudo o que ficou foi seu brilhante show de força e sincera generosidade. Oficialmente, é claro, tive de me mostrar satisfeito, porém, por dentro, estava soltando fumaça. Acho que ele também percebeu, mas, de qualquer forma, nunca trocamos uma palavra sobre o acontecimento. Eu não agradeci e ele não explicou quais foram suas razões para ter feito o que fez."


E disso, Galvão, você também sabia?


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