Monday, May 31, 2010

GP da Turquia - Comentários



Não. Esse não é um blog sobre Formula-1. Eu pretendia postar um texto que publiquei na revista Sina, mas, por varios motivos, não o fiz. Ficam então dois textos "quase seguidos" sobre formula-1. Na copa, o assunto será mesmo futebol, como em 2006, em que teci várias reflexões sobre os jogos da copa.

Agora, falando da corrida, pode-se dizer que ela foi boa e que poderia ter sido muito melhor se a pista de Istambul permitisse. Não é uma pista ruim. Tem um traçado de curvas alternadas de alta que permitem brigas mas não permitem ultrapassagens, que deveriam ocorrer, em sua maioria, na reta dos boxes, se essa tivesse um tamanho adequado. O piloto vem colado numa sequencia de curvas, mas não tem reta suficiente para pegar o vácuo. Talvez numa outra Formula-1 menos aerodinamicamente dependente, isso não fosse problema, mas na atual é. Se os dois carros brigando por posição têm desempenho parecido, o que está atrás tem grande desvantagem e só passa se o da frente errar ou se forçar demais e tiver muita sorte. Com isso, beneficiam-se os conservadores. Lewis Hamilton não foi conservador nas voltas em que tentou fazer milagre para passar Webber onde não podia, mas só ganhou posição mesmo com o erro da ousadia alheia, ou seja, bem ou mal, a corrida premiou mais quem espera do que quem tenta. Ironicamente, Hamilton, que sempre tenta, se deu bem mesmo quando esperou.



Vettel foi para cima, talvez com um pingo de precipitação, mas a culpa pelo acidente dele com Webber foi mais da própria pista do que do alemão. Parece idiota dizer isso, mas ser sábio, inteligente, conservador, para Vettel, segundo a imprensa que o está criticando, seria passar a corrida inteira atrás do companheiro de equipe, porque se Webber não quisesse e não errasse, Vettel jamais acharia uma brecha para passá-lo sem forçar a barra. E forçar a barra seria fazer como fez, arriscando a corrida de ambos. Numa pista como Montreal, por exemplo, haveria trechos para ultrapassagens mais seguras. Em Istambul, se os dois carros estão em condições parecidas, só se passa é "na marra" mesmo.




Hamilton e Button protagonizaram outro ponto alto da prova quando o atual campeão do mundo conseguiu descolar um espaço e brilhantemente ultrapassar o companheiro, aproveitando-se da tomada da curva seguinte, mas Hamilton foi Hamilton e botou por dentro na mini-reta dos boxes enquanto Button recobrava o equilíbrio perdido em função da ultrapassagem. Falhasse nessa tentativa e talvez não tivesse outra chance.


Aliás, vi um Button ousado hoje, decidido contra Schumacher e sem medo de partir para cima do companheiro Lewis. Não fosse o problema de combustível, teríamos mais brigas entre os dois.




A imprensa já está malhando Vettel e malhando a Red Bull por sua postura competitiva de deixar os pilotos brigarem livremente. "Certa é a ferrari, que manda levar as crianças para casa", já dizem alguns. Fizessem assim a Reb Bull e a Mclaren, e teríamos hoje mais uma corrida chata no pelotão dianteiro. Bom para equipe, agir como a Ferrari? Claro, como também era bom fazer o que fazia em 2002, quando Schumacher tinha que chegar sempre na frente de Rubinho. Para equipe é sempre melhor que exista uma ordem e, em alguns casos, até ter um piloto mais fraco para não interferir no piloto principal. Mas isso, como já vimos em anos anteriores, acaba com a competitividade da categoria, que hoje, mais do que em outras épocas, precisa do máximo de brechas possíveis para que existam disputas. Nos anos 70, não era problema, haver essa ordem, porque o equilíbrio entre os times e as possibilidades de ultrapassagem eram bem maiores.



Vettel errou sim em forçar a barra, mas o traçado de Istambul o induziu a isso, como praticamente obrigou Alonso a furar o pneu de Petrov para superá-lo. Essa temporada 2010 vem premiando mais os conservadores que os ousados e espero que agora, passada a temporada dos Tilkodromos e entrando nas pistas mais tradicionais, a coisa mude um pouco de figura. Montreal é uma pista ótima, com muitos pontos de ultrapassagem, então, pelo menos nesse quesito, podemos ter uma evolução daqui a duas semanas.

E que a Red Bull esqueça os clamores dos "entendidos" e mantenha sua postura liberal com os pilotos, pelo menos enquanto ambos tiverem chances claras de brigar pelo título.




No meu modo de ver, na disputa com Webber, Vettel quis fazer o que Hamilton fazia em seus primeiros anos de Formula-1. Uma vez que botou de lado, sentiu-se com a preferência e deu uma triscada para a direita a fim de fazer Webber tirar o carro do traçado principal e, com isso, não pegar a parte suja da pista para frear. Em muitas ocasiões, o piloto que vem por fora, percebendo a inevitabilidade da situação, "cede", ou seja, dá a tangência da curva para o que vem de dentro, contorna por fora e diminui a velocidade, cavalheiristicamente, admitindo ter sido ultrapasado. Webber, já puto porque Vettel resolveu passá-lo justamente na volta em que a equipe lhe pediu que pilotasse no modo "econômico" para não gastar combustível, não deu essa colher de chá. Manteve seu traçado e deixou a parte suja da pista para Vettel, como se dissesse: "Cê botou o carro aí, fio, então te vira pião!" Não fez nada que o regulamento não permitisse e, portanto, pode-se dizer que Vettel se precipitou em sua manobra. Mesmo assim, o grande problema não foi ele, mas o próprio circuito de Istambul, pelas razões já mencionadas.




obs: 90% desse texto foi escrito ontem, então, houve algumas pequenas atualizações nos noticiários de ontem para hoje. Se houver tempo, escrevo algumas complementações sobre o assunto. O Flavio Gomes escreveu hoje levando em consideração as informações liberadas na imprensa após a corrida.

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