Tuesday, June 08, 2010

O Efeito Barrichello



É possível que uma das melhores coisas feitas por Rubens Barrichello em prol da Formula-1 tenha sido deixar Schumacher passá-lo na reta final do GP da Áustria de 2002, em vez de tentar, por exemplo, vencer o GP, desobedecendo a equipe, como tanto queriam os torcedores.

Por que? Chego lá em breve.

Voltando à 2010, todo mundo viu que Lewis Hamilton, apesar de ter vencido o GP da Turquia, não comemorou como de costume, estava meio sério, bronqueado, e desconfiou-se que seria um problema com a equipe, que lhe teria pedido para economizar combustível, ao passo que Jenson Button, logo atrás, se aproveitara da situação, gerando o duelo entre os dois que foi o ponto alto da corrida.

Hoje saiu a notícia no site Grande Prêmio confirmando a suspeita. O video oficial da prova mostra claramente a conversa pelo rádio entre Lewis e seu engenheiro logo após o a batida das duas Red Bulls. Segue o conteúdo da conversa de acordo com a fonte:

"Logo após o acidente das Red Bull, a equipe inglesa mandou Lewis economizar combustível, alegando que “os outros carros estavam fazendo o mesmo”. Hamilton acatou, mas percebeu que Button se aproximava perigosamente a cada volta. “Jenson está chegando perto de mim. Se eu recuar, Jenson vai me passar ou não?”, indagou o inglês. Como resposta ouviu um “Não, Lewis, não”, do time.

Como se sabe, não foi o que aconteceu. Button conseguiu a ultrapassagem, o que obrigou Hamilton a ter de retomar a liderança. Não ficou claro, contudo, se Button tinha conhecimento das instruções de não passar Hamilton."



Pois é. A épica briga entre os dois que será (ou seria, não sei) lembrada como um dos melhores momentos de 2010 e da F-1 contemporânea, um exemplo de equipe com espírito esportivo que deixa seus pilotos lutarem pela vitória com respeito, pilotos estes aguerridos mas cavalheiros, tudo isso só aconteceu porque o time deu mole. Não foi claro na hora de dar as ordens a seus pupilos. Talvez Jenson não a tenha recebido, ou talvez tivessem também lhe pedido para economizar e ele deu uma de João sem Braço, ou o engenheiro dele ficou quietinho quando não deveria... Alguem pode perguntar se de repente a McLaren estaria favorecendo Button na encolha enquanto a RedBull teria a mesma estratégia a favor de Vettel. Minha respota: Não creio. Meu palpite para esses dois "mal-entendidos" é outro, e tem a ver com o Efeito Barrichello do primeiro parágrafo. As equipes têm medo de dar ordens claras a seus pilotos de que não devem ultrapassar o companheiro ou dicas óbvias de que Joãoznho não será ultrapassado ou deve deixar Manuel vencer pelo bem do campeonato. Quando um time, como no caso da Mclaren e talvez da própria RedBull ao pedir que Webber corresse em modo econômico, não quer correr o risco de ver seus dois pilotos batendo em função de uma briga por posição ou pela liderança, ela não diz "Button, mude para o modo econômico e não ultrapasse Lewis Hamilton, repito, você não pode ultrapassar Lewis!". Por que? Porque se fizer isso, corre o risco dos comissários da FIA a punirem por atentado contra a esportividade.



Desde a atitude de Rubinho em 2002, é oficialmente proibido, especialmente se os dois pilotos têm chances claras ao título, de se impedir que dois companheiros de equipe lutem por uma posição. Extra-oficialmente, a FIA pode fazer vista grossa, desde que a comunicação pelo rádio dê a entender que a intenção do time era poupar material, evitar desgastes desnecessários ao final da corrida, etc. Uma equipe que não quer que seus pilotos batam lutando por posição ou sacrifiquem pneu, carro, motor, combustível, etc, não pode simplesmente dizer "Não ultrapassem!". Tem que dizer "Economize motor! Poupe combustível, os outros estão poupando! Poupe os Pneus! Tragam as crianças para casa!" , o que abre brechas para uma infinidade de mal-entendidos e más-intenções por parte de engenheiros ou pilotos que queiram se aproveitar da situação. Não sei se Button foi mal informado ou quis dar uma de João sem braço, mas se Hamilton não tivesse recuperado a posição de cara e Button não lhe permitisse fazer isso depois, Lewis poderia ficar emburrado à vontade, mas pouco teria a declarar em sua defesa. Sair no microfone alegando que a equipe lhe garantiu que não seria ultrapassado? Nem pensar. Mesmo com a prova óbvia na comunicação de rádio (Hamilton forçou o engenheiro a dizer que ele não perderia posição, porque até então o engenheiro não lhe havia dado garantia alguma. No máximo, "deu a entender"). Lewis seria acusado de anti-desportivismo, ficaria em maus lençóis com o chefe e por aí vai. Lembremos que a briga dele com Alonso em 2007 só aconteceu depois de um GP de Mônaco onde a imprensa inglesa pressionou a FIA a botar a McLaren na parede por não ter deixado o britânico brigar pela vitória com o companheiro. Abriu-se a brecha para que Hamilton pudesse, de fato, enfrentar Alonso, que, no fundo, era o que muita gente na equipe queria.



A solução: Bom... talvez uns códigos tipo "Lewis, a galinha azul foi para a primeira base!", que significa, "Não ultrapasse Button, sob qualquer hipótese. Ou, "Button, a rebimboca da parafuseta ao lado do cabeçote está frouxa", leia-se: "Deixe Lewis passar for the championship. For the championship, Jenson!"

Pois é. Fica a prova de que, se dependesse da espontaneidade da corrida, Webber teria segurado Vettel, Hamilton e Button até o final, nessa ordem, sem nenhuma ultrapassagem no pelotão dianteiro, a não ser que o piloto da frente errasse, independente dos esforços de quem vinha atrás. Agradeçamos ao Mago da Formula-1, Herman Tilke, por seus autódromos lindos e muito seguros.

E tem gente que ainda preferia que Rubinho tivesse "ignorado as ordens da equipe, segurando Schumacher!". Valeu Barrica, pelos serviços prestados ao esporte

A ironia: Jean Todd é, desde 2009, presidente da FIA.

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