Saturday, January 05, 2008

As novas "guerras video-game"



Há dezessete anos, quando Don Bush I ordenou que tropas americanas e uma coalisão de nações expulsassem Saddam Hussein do Kwait, popularizou-se um jargão que por muito tempo não sairia da boca de quem acompanhou via CNN os "bombardeiros cirúrgicos" e demais imagens eletronicamente geradas para ilustrar mundo afora as ações ocorridas na "Guerra do golfo". Uma fusão entre desenvolvimento tecnológico de aparatos bélicos, filtragem e manipulação do conteúdo divulgado, ausência de imagens vívidas do conflito - até por que muito do que se conseguiu captar ocorreu na escuridão e bem longe do alcance das câmeras - , gerou um senso, às vezes até correto, mas quase sempre equivocado, de um novo conceito de guerra. Uma guerra mais "virtual" do que real aos olhos dos combatentes e, principalmente, do público, uma "distância eletrônica" entre protagonistas então mediados inteiramente por satélites, imagens de computador, óculos noturnos, estatísticas e robôs inteligentes, estes sim responsáveis pelo sujo trabalho de "ver" e "tocar" o conflito. A nós e ao "soldado do futuro", restariam os pixels de uma batalha quase irreal, mais limpa, precisa, moralmente correta e, de certa maneira, sem a aura mística macabra de caos, drama e grandiosidade que as guerras clássicas sempre tiveram. Quando alguém queria se desfazer deste capítulo da história dos conflitos como uma "guerra de verdade", chamava logo de GUERRA VIDEO-GAME, e assim cresceu o jargão, que se revelaria mais falácia que realidade nos confrontos subseqüentes onde os reis yankees da tecnologia perfeita resolvessem se meter, leia-se Somália e Iraque. Provou-se, portanto, que as guerras ainda são o que sempre foram, embora as Guerras Video-Game, estas sim, venham mudando dramaticamente nos últimos anos com o furiosíssimo avanço de consoles, "engines" e recursos eletrônicos do meio virtual. Hoje, a tecnologia evolui mais rápido no mundo cibernético do que no meio militar. Se a realidade dos conflitos armados ainda está longe de ser intitulada virtual, os combates dos video-games mostram sinais de que não demorarão a se sincronizar com a realidade e as superproduções hollywoodianas. Atores e figurantes que se cuidem! GUERRA VIDEO-GAME ganhou um novo significado.



Dois jogos interessantíssimos atrairam minha atenção no youtube recentemente. Medieval Total War 2 e Army Assault, o primeiro, parte da série TOTAL WAR, é um game de estratégia que simula campanhas militares desde a idade das trevas até o período das expansões marítimas, contando com complexísimos recursos que, se bem utilizados, permitem ao usuário reconstituir batalhas históricas com um bom nível de acuidade, apesar dos eventuais "bugs" e problemas típicos de um software ainda em desenvolvimento. Seu antecessor, Rome Total War, foi inclusive utilizado como instrumento em documentários para descrever grandes batalhas da antiguidade. Não é por menos. Assista a este vídeo obtido a partir do jogo e veja se os games já não estão virando algo mais do que pixels sem graça, números e estatísticas.



ARMY ASSAULT impressiona pelo realismo da movimentação dos combatentes e pela qualidade gráfica. Em determinados instantes somos levados a associar cenas do jogo com as de uma guerra real. Confira se o conflito abaixo não poderia estar sendo realizado nas ruas de Bagdá ou outra cidade do oriente médio.



Estes e mais vídeos gerados a partir de "Medieval Total War 2" e "Armed Assault" podem ser obtidos por este link, ou baixados em melhor resolução, neste site da rede.


2 comments:

Unknown said...

Não entendo nada de jogos para computador, nada mesmo. Porém, essa anologia da guerra-espetáculo, mais do que a guerra-videogame, é por demais pertinente.

Belos argumentos!

Abs!

Rafael Issa said...

Bem, isso é o séc. XXI, a virtualização de tudo o que há: dos relacionamentos, da política, da informação e da violência. O que não significa que a violência tenha deixado de existir em seu caráter atroz e real. Só que os seus aspectos reais foram - digamos assim - "extraídos" do nosso campo de visão, tornando-se invisíveis, como todo o resto.