Sunday, June 14, 2009

Empolgação perigosa



Vendo os últimos jogos da seleção brasileira de futebol, fica clara uma carência no time, que talvez abranja quase todo esse esporte em território nacional. Diagnóstico: Ausência de bons armadores. Armadores que não sejam meias-atacantes, que distribuam o jogo de trás com passes longos, que saibam alternar a velocidade do time, cadenciar e acelerar, virar o jogo, orquestrar, lançar, lançar e lançar. Desde a saída de Juninho Pernambucano da seleção, temos essa carência, vez ou outra suprida pela presença de Ronaldinho Gaúcho jogando improvisado mais para trás do que fazia no barça, que é a posição onde chegou a funcionar um pouco durante essa nova Era Dunga. Juninho e Ronaldinho sabem cobrar escanteio com precisão e bater falta como ninguém mais no atual Scratch, porém ambos estão fora do time que disputará a Copa das Confederações.

Locutores, torcedores e comentaristas insistem que a seleção só joga bem fora de casa quando o adversário "sai para o jogo" e mal quando ele "fica na defesa". Há uma explicação. O time de Dunga depende demais dos passes curtos, das subidas conjuntas pelo lado direito e esquerdo que gerarão as tais triangulações já características de nosso futebol recente, com Kaká no comando. Com isso o Brasil é obrigado a passar o jogo inteiro tentando criar o contra-ataque, atraindo o adversário ou marcando forte na frente. Funciona, mas limita nosso leque de possibilidades e a cada jogo os adversários explorarão isso e focarão seus esforços defensivos no único jeito que sabemos jogar. Quando tomamos o gol ou quando o oponente se retranca um pouco mais, vem a dificuldade. Diminuem-se os espaços para os passes curtos e os longos não saem; Lúcio deixa a defesa como um rolo-compressor desesperado para o ataque, Felipe Melo tenta lançar bola, Elano e Daniel tentam cruzar, de vez em quando um consegue, mas depois de muitos erros. E o tempo vai passando, o time saindo todo e deixando espaço para contra-ataques. Se tomarmos um "primeiro gol" da Itália, por exemplo, o jogo fica do jeito que eles gostam. Ah, se Pirlo jogasse com a amarelinha!



As três ultimas vitórias das eliminatórias mascaram deficiências que certamente aparecerão nessa Copa das Confederações, talvez já no segundo jogo, contra os Estados Unidos. Não fomos bem contra o Peru e contra o Paraguai. Cavamos gols e achamos mas não houve um trabalho mais orquestrado nesse sentido. Essa coisa de "água mole em pedra dura tanto bate até que fura" não dá certo sempre. Defesas talentosas e inteligentes exigem que sejam desarmadas de modo mais elaborado, conscientemente elaborado. O Brasil pode até vencer essa competição, mas em alguns momentos esse defeito aparecerá mais claramente e Dunga se verá o tempo todo obrigado a adaptar a maneira de jogar do time a suas deficiências.

Falando em deficiências, fico com pena do Daniel Alves. Está feliz, claro, talvez seja titular e suas atuações melhoram a cada jogo, mas virou o carregador de piano das limitações do elenco. "Elano não está conseguindo cobrar escanteio, chama quem?", Daniel Alves. "Elano não cobra mais falta, chama quem?", Daniel Alves. "Elano não cruza mais, e ninguém cruza direito, chama quem?", Daniel Alves. Só que ele não cruza tão bem assim e não joga tão bem assim, principalmente quando ocupa a posição de origem, ou seja, quando está marcando no canto defensivo direito do campo com o time atrás, marcando posição. Ali, na hora em que o lateral tem que ser lateral e não ala ou atacante, ou ponta, ou "homem que vem de trás", Daniel não é melhor que Maicon. Preferia vê-lo no lugar de Elano, como na final da Copa América, com Maicon sendo o lateral. No mais, ele não tem culpa de ter de cobrir as deficiências de outros jogadores.



Bom... Resta esperar. Dunga quer transformar Kaká em um "Quarterback", no cérebro que o meio-de-campo não tem. Pode fazer isso até certo ponto, mas não pode fugir tanto de suas características de correr, dar passes curtos e pegar lá na frente. Ele precisa de um cara Ricardinho ou um Juninho para cadenciar, armar e revezar.

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