Vendo os últimos jogos da seleção brasileira de futebol, fica clara uma carência no time, que talvez abranja quase todo esse esporte em território nacional. Diagnóstico: Ausência de bons armadores. Armadores que não sejam meias-atacantes, que distribuam o jogo de trás com passes longos, que saibam alternar a velocidade do time, cadenciar e acelerar, virar o jogo, orquestrar, lançar, lançar e lançar. Desde a saída de Juninho Pernambucano da seleção, temos essa carência, vez ou outra suprida pela presença de Ronaldinho Gaúcho jogando improvisado mais para trás do que fazia no barça, que é a posição onde chegou a funcionar um pouco durante essa nova Era Dunga. Juninho e Ronaldinho sabem cobrar escanteio com precisão e bater falta como ninguém mais no atual Scratch, porém ambos estão fora do time que disputará a Copa das Confederações.Locutores, torcedores e comentaristas insistem que a seleção só joga bem fora de casa quando o adversário "sai para o jogo" e mal quando ele "fica na defesa". Há uma explicação. O time de Dunga depende demais dos passes curtos, das subidas conjuntas pelo lado direito e esquerdo que gerarão as tais triangulações já características de nosso futebol recente, com Kaká no comando. Com isso o Brasil é obrigado a passar o jogo inteiro tentando criar o contra-ataque, atraindo o adversário ou marcando forte na frente. Funciona, mas limita nosso leque de possibilidades e a cada jogo os adversários explorarão isso e focarão seus esforços defensivos no único jeito que sabemos jogar. Quando tomamos o gol ou quando o oponente se retranca um pouco mais, vem a dificuldade. Diminuem-se os espaços para os passes curtos e os longos não saem; Lúcio deixa a defesa como um rolo-compressor desesperado para o ataque, Felipe Melo tenta lançar bola, Elano e Daniel tentam cruzar, de vez em quando um consegue, mas depois de muitos erros. E o tempo vai passando, o time saindo todo e deixando espaço para contra-ataques. Se tomarmos um "primeiro gol" da Itália, por exemplo, o jogo fica do jeito que eles gostam. Ah, se Pirlo jogasse com a amarelinha!As três ultimas vitórias das eliminatórias mascaram deficiências que certamente aparecerão nessa Copa das Confederações, talvez já no segundo jogo, contra os Estados Unidos. Não fomos bem contra o Peru e contra o Paraguai. Cavamos gols e achamos mas não houve um trabalho mais orquestrado nesse sentido. Essa coisa de "água mole em pedra dura tanto bate até que fura" não dá certo sempre. Defesas talentosas e inteligentes exigem que sejam desarmadas de modo mais elaborado, conscientemente elaborado. O Brasil pode até vencer essa competição, mas em alguns momentos esse defeito aparecerá mais claramente e Dunga se verá o tempo todo obrigado a adaptar a maneira de jogar do time a suas deficiências.Falando em deficiências, fico com pena do Daniel Alves. Está feliz, claro, talvez seja titular e suas atuações melhoram a cada jogo, mas virou o carregador de piano das limitações do elenco. "Elano não está conseguindo cobrar escanteio, chama quem?", Daniel Alves. "Elano não cobra mais falta, chama quem?", Daniel Alves. "Elano não cruza mais, e ninguém cruza direito, chama quem?", Daniel Alves. Só que ele não cruza tão bem assim e não joga tão bem assim, principalmente quando ocupa a posição de origem, ou seja, quando está marcando no canto defensivo direito do campo com o time atrás, marcando posição. Ali, na hora em que o lateral tem que ser lateral e não ala ou atacante, ou ponta, ou "homem que vem de trás", Daniel não é melhor que Maicon. Preferia vê-lo no lugar de Elano, como na final da Copa América, com Maicon sendo o lateral. No mais, ele não tem culpa de ter de cobrir as deficiências de outros jogadores. Bom... Resta esperar. Dunga quer transformar Kaká em um "Quarterback", no cérebro que o meio-de-campo não tem. Pode fazer isso até certo ponto, mas não pode fugir tanto de suas características de correr, dar passes curtos e pegar lá na frente. Ele precisa de um cara Ricardinho ou um Juninho para cadenciar, armar e revezar.
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