Saturday, April 14, 2007

Cleber Machado versão 2.0



Qualquer fã de futebol que acompanha campeonatos regionais e nacionais na globo sabe que Cleber Machado é, há muito tempo, o narrador esportivo número 2 da emissora, o cara que sempre cobre as ausências do "todo poderoso" Galvão Bueno e geralmente transmite os jogos do campeonato paulista, da Taça Libertadores, as "segundas" partidas mais importantes de copa do mundo e boa parte do campeonato brasileiro, juntamente com o "número 3" Luiz Roberto.

Qualquer fã de futebol sabe que Paulo Roberto Falcão é o "primeiríssimo" comentarista da emissora, seguido de Walter Casagrande Junior (não tenho o visto ultimamente. Será que saiu?) e Sérgio Noronha. Arnaldo Cesar Coelho é o número 1 entre os comentaristas de arbitragem, José Roberto Wright o 2 e Renato Marsiglia o 3.




Qualquer fã de futebol sabe que somente o "todo-poderoso primeiro locutor da globo" tem direito pleno de exercer comentários para além de seu ofício narrativo, emitir opiniões pessoais e discutir com os especialistas (quase sempre estando errado) ao longo das transmissões. Cleber Machado e Luiz Roberto não ostentam igual privilégio, atendo-se à relatar o jogo, intermediar o trabalho dos comentaristas e fazer raras, breves e inofensivas colocações pessoais. Até aí, nada de anormal. Naturalmente, ficou um pouco na minha cabeça aquela impressão de que, apesar das constantes asneiras ditas por Galvão Bueno no microfone, talvez ele fosse, e de longe, o mais apto ou o único dos locutores globais com manha, jogo de cintura, conhecimento e pseudo-conhecimento suficiente para emitir opiniões subjetivas sem maiores restrições; que seus dois colegas de ofício talvez reprentassem riscos de credibilidade à emissora, caso resolvessem seguir linha igual, e por isso não o faziam; que Cleber Machado e Luiz Roberto não deviam ter tino jornalístico e bagagem cultural ou futebolística para ficar saindo do "feijão com arroz" o tempo todo, dando a cara para bater, discutindo com os "entendidos" sem gerar um clima amador dentro da cabine de transmissão, e por isso seguiam quase sempre o caminho das pedras enquanto trabalhavam.

Pois bem. Ledo engano.



Faz pouco tempo que adquiri o direito de acessar o canal SPORTV, que funciona como uma filial da Rede Globo, onde boa parte de seu "cast" esportivo desfruta liberdades superiores àquelas concedidas pela emissora mãe em programas jornalisticos e mesas de debate, partilhando-as com especialistas da matriz, da sucursal, e, claro, profissionais futebolísticos e de outros esportes. Como Galvão Bueno (e até com mais constância), Cleber Machado e Luiz Roberto intermediam programas como Arena SporTV e Bem Amigos (este, nas eventuais ausencias do "chefe"). Se Luiz Roberto não faz feio como mediador e desfruta instantes de grata lucidez ao emitir opiniões e debater com convidados e especialistas, Cleber Machado consegue ir além. Sem perder sua discrição marcante, sem pavonear ou apelar para jargões populares de torcedor, o famoso "número dois" das noites de quarta e tardes de domingo revela uma segurança e um conhecimento ímpares quando no gerenciamento de debates e confrontamento com opiniões de especialistas e mesmo técnicos ou jogadores. Não são poucas as vezes em que consegue "solucionar" divergências entre convidados com colocações sagazes, profundas e pertinentes. Não são poucos também os momentos em que interrompe um treinador, um jornalista ou um atleta para discordar do que ele diz, fundamentando, e geralmente muito bem, os motivos dessa discordância. Tudo isso sem jamais abandonar seu papel de mediador, sem tentar aparecer mais do que os convidados, revelando um estilo bem interessante e diferente do de Galvão Bueno, que segue uma linha mais onipresente. Cleber Machado, em seu estilo "semi-mineiro", mostra ao espactador do Sportv um lado colorido e interessante pouco conhecido dos que só o presenciam na Rede Globo. Se, como locutor, não ostenta os dons naturais de Galvão Bueno (embora mostre-se talentoso e competente na função), consegue dar um banho em seu colega quando resolve dizer o que pensa diante das câmeras. Mesmo narradores-debatedores talentosos como Milton Leite e João Palomino não demonstram, pelo menos sob minha ótica, o peso de relevância opinativa que Cleber exibe em seus momentos mais inspirados.

Questão de opinião, claro, mas que Cleber me surpreendeu, surpreendeu.





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