Monday, June 19, 2006

Reflexões sobre o mundial da Alemanha - parte 6

Time que desce quadrado



Terminado este segundo desafio do selecionado brasileiro, prontificam-se “entendidos” de plantão – incluindo quem vos escreve – a diagnosticar prós e contras da partida, emitir veredictos, sugestões, e, claro, criticar o que “deve” ser criticado.
Indignações, ufanismos, homenagens, premeditações, alertas e pedidos desesperados a parte, confesso sentir um misto de esperança e desespero, de Copa das Confederações e Olimpíadas de Atlanta, embora deva confessar a prevalescência do segundo presságio ante o primeiro. Vitórias tranqüilizam, mas performances atabalhoadas ainda preocupam, e também os sinais de que Parreira permanecerá desafiando a lógica e ignorando o óbvio. Até quando?


Ronaldo esteve melhor do que na estréia, e isso é consenso na imprensa esportiva, mas, se uns globais aqui e ali preferem focar atenções na “micro-evolução” do fenômeno e demais pontos positivos da performance de anteontem, mantendo a visão predominantemente ufanista da emissora, outros permanecem céticos, quer insistindo nos óbvios defeitos do time, quer apelando ao “espírito do futebol-arte de 82”, quer insistindo em análises individuais de jogadores e esquecendo um pouco o âmbito coletivo.
Freqüentemente assisto ao badalado debate “linha de passe - mesa redonda” na ESPN Brasil, que conta com alguns dos mais bem vistos comentaristas futebolísticos da mídia nacional, incluindo Juca Kfouri, Fernando Calazans e o “expert” Paulo Vinícius Coelho. Sou fã do programa e de alguns participantes, mas admito discordar de inúmeros pontos por eles levantados. Penso que, tal qual nossos “entendidos” da CBF, da comissão técnica e futebol brasileiro em geral, também estes ocasionalmente contribuem com certos vícios opinativos não mais condizentes com o futebol como ele é jogado hoje, mas isto é assunto para outra resenha.
Retomando o programa em si, Juca Kfouri questionou anteontem a pertinência das opiniões “indulgentes” que havia emitido a quase todos os jogadores brasileiros após perceber ter também depreciado o time no âmbito conjunto, mas seu paradoxo era absolutamente sensato e pertinente, pois possuímos uma equipe que mal se entende em campo, com problemas táticos crônicos, e que consegue contrabalançar tais defeitos com marcantes esforços individuais. A “defesa”, tão elogiada por todos, pode até ir bem quando analisada individualmente, embora, num contexto geral, permaneça fraca, porque “lá atrás” os jogadores precisam se desbaratar para compensar os problemas defensivos (e ofensivos também) gerados “na frente” com a falta de movimentação e de combate. Por melhor que atuem Lúcio, Juan, Zé Roberto e companhia, estarão sempre eles no “fio da navalha”, precisando fazer mil estrepulias – vide os monumentais carrinhos de Zé Roberto – para compensar uma flagrante fragilidade da seleção, evidenciada tão logo nossos dois primeiros adversários precisaram atacar depois que abrimos o marcador.



Outro ponto dissidente entre eu e os integrantes da mesa está na análise da atitude aparentemente pragmática de Parreira em relação aos resultados obtidos até agora. Trajano, Kfouri e Calazans enfatizam e criticam os discursos do técnico quando este enaltece a importância de vencer e marcar pontos em detrimento de tudo, como em 1994. Todavia, diferentemente da mesa, penso que Parreira não está repetindo sua filosofia “um a zero” de 1994 em 2006, mas apenas usando esse discurso para encobrir a ineficácia de não conseguir o que deseja desse time. Apostar no quarteto em si já deixa clara uma estratégia predominantemente ofensiva de velocidade e triangulações em vez de investir num meio-de-campo sólido e menos dinâmico como o de 1994, que marcava bem com seus quatro integrantes e contava com dois volantes pouco ofensivos, embora um deles contribuísse constantemente com passes longos a Bebeto e Romário. O meio-de-campo atual tem apenas um volante fixo e seus dois “meias-atacantes”, apesar de se esforçarem em contribuir defensivamente, são bem menos eficazes nesse quesito do que eram Raí e Zinho (ou Zinho e Mazinho).



Não me desagradaria ver Parreira adotando uma filosofia conservadora como a de 1994, mesmo que isso diminuísse o poder do ataque e o “show” proporcionado, mas meu desespero maior está em vê-lo perdido entre o que diz fazer mas não faz, e o que quer fazer e não consegue. Se Parreira pretende apostar na leveza e virtuosidade ofensiva do time, que tire então Ronaldo e facilite a vida de Adriano, colocando Robinho em campo. Não é minha escalação preferida, mas é inegável o fato dela ao menos fazer este quarteto funcionar devidamente e a equipe jogar mais ou menos como Parreira deseja, arriscando-se além da conta, mas também criando várias oportunidades de gol. Contra uma Argentina, isso pode ser suicídio, contra a Croácia, foi perigoso, mas contra a Austrália, valeria a pena se Robinho começasse atuando. Como diria Paulo Vinícius Coelho, durante a transmissão do jogo, a diferença do time com Robinho em campo é flagrante, embora Parreira permaneça insistindo no “Fenômeno”. Acho impossível que apenas ele não perceba a “ululância” da questão. Mas Robinho pode também ter contribuído com sua permanência no banco ao tomar um cartão amarelo gratuito. Por quê? Porque nosso próximo confronto seria uma oportunidade perfeita para testar o rei das pedaladas por noventa minutos e também o quarteto em sua melhor formação. Pendurado, Robinho talvez fique de fora, pois imagino que Parreira o considere, mesmo na reserva, mais importante do que Ronaldo, que também tem um amarelo, mas deve entrar em campo contra o Japão. Ruim é saber que o primeiro teste do “quadrado mágico” em sua melhor formação desde a final da Copa das Confederações pode ser um batismo de fogo contra Itália ou República Tcheca. Lembremos que este selecionado canarinho só fez dois grandes clássicos com seu quarteto (ou três, se considerarmos a Alemanha da Copa das Confederações), ambos contra a Argentina, e este quadrado falhou feio na primeira oportunidade enquanto funcionou razoavelmente bem na segunda, pelo menos por um tempo e meio, e com o adversário desfalcado de 6 titulares. Com Ronaldo no lugar de Robinho, o quarteto jamais encarou um clássico.
Antes de fechar a resenha de hoje, gostaria de insinuar algo provavelmente inverídico a partir de uma pergunta que até pode valer boas reflexões e futuras observações. Alguém por acaso reparou que os maiores destaques desta seleção em termos de empenho e dedicação advém justamente de jogadores que não eram titulares em 2002?

Texto a ser publicado no blog Fanáticos por Copa

1 comment:

Anonymous said...

E o Juninho Pernambucano - puto e debochado na foto - chupa o dedo na frente das câmeras...