Saturday, June 17, 2006

Reflexões sobre o mundial da Alemanha - parte 5

(O texto abaixo foi redigido em 16 de junho, horas após o jogo Holanda e Costa do Marfim)

Enfim, uma grande copa




Não tenho dúvidas de que este mundial será o melhor tecnicamente desde 1982 e selará um fim a grande parte daquele mar cético de pseudo-analistas que clamam aos quatro ventos a mediocridade do futebol apresentado em copas desde 1986, mesmo quando se referem à de 98, um campeonato de bom nível, em minha opinião.
Sucedida uma semana de jogos, quase todos os grandes fizeram valer o peso da camisa em campo e no placar. A Alemanha começou ofensiva, mas também frágil contra um adversário que permitia esse capricho. Colocou os pés no chão contra a Polônia, expondo menos o setor defensivo sem diminuir demais o volume das subidas ao ataque e sem apelar muito para o chuveirinho, merecendo sua dramática vitória e fazendo jus àquele velho slogan de que “alemães não desistem nunca”.



Os ingleses ainda não brilharam e, apesar de não estarem, pelo menos por enquanto, entre os três mais fortes da competição, demonstraram solidez, garra e preparo para lutar pelo título nos jogos que fizeram. Infelizmente, não pude assistir à magistral goleada espanhola sobre os ucranianos, mas partindo do que vi, li e ouvi a respeito, podemos considerar a “fúria” uma favorita, apesar do velho jargão de que sempre morre na praia. Em 2002, quem a matou não foram os coreanos, mas os juízes.
A chave E também mostrou que suas duas grandes forças estão preparadas para dar exibições consistentes. Itália e República Tcheca devem realizar um dos melhores jogos da primeira fase e prometem problemas monstruosos a seus respectivos adversários do grupo F, caso concretizem uma provável classificação às oitavas. Portugal pode ter começado aquém da capacidade contra Angola, mas ainda tem potencial e possibilidades visíveis de crescimento. A França, por outro lado, até pode ir longe, mas dificilmente apresentará muito mais futebol do que na estréia, algo amarrado, burocrático e sem objetividade como na última Euro, apesar de Henry e Zidane. Talvez Togo os propicie chances para uma boa performance, mas qualquer adversário de prestígio deverá trazê-los de volta a mediocridade, mesmo quando triunfarem.



Já o grupo da morte justificou sua fama. A Argentina começou bem, mesmo sob pressão e já mostrou avassaladores recursos contra Servia e Montenegro. Holanda e Costa do Marfim protagonizaram um dos melhores confrontos da copa até aqui, sendo que os africanos podem, tal qual Camarões em 82, sair aplaudidíssimos, mesmo eliminados na primeira fase, visto que encararam dois gigantes de cabeça erguida e não mereceram perder para os holandeses. Terão chances para uma bela despedida contra os sérvios.
Surpresas boas também vieram do Equador com duas largas vitórias, mas os sul-americanos ainda precisam provar que não encolherão diante dos poderosos. Terão um excelente teste segunda-feira contra a Alemanha, e, caso peguem a Inglaterra nas oitavas, precisarão jogar mais do que vêm jogando para seguir adiante.



O grupo F vem mostrando ao Brasil as conseqüências drásticas das apostas que fez no período de preparação, pois enquanto boa parte dos trinta e dois participantes passaram o ano realizando amistosos significativos para testar suas forças, corrigir erros e afiar qualidades, a CBF preferiu uma política de marketing e preservação física de nossos atletas, evitando situações que pudessem contundi-los ou duelos mais competitivos, temendo uma eventual perda do rumo otimista conquistado na eliminatória e na copa das confederações. Em suma, o que ocorreu com os alemães meses atrás ao perceber sua fragilidade numa derrota de 4 a 0 para a Itália e em vitórias magras contra oponentes pífios, sucede hoje com o Brasil, que escolheu se preparar durante o mundial, baseando-se numa filosofia de “crescer dentro da competição”, apostando na histórica capacidade verde e amarela de superar obstáculos nas piores situações e “encontrar seu futebol”. O que nossos experts da CBF e da comissão técnica esquecem é que copa do mundo não é campeonato de pontos corridos e que um simples tropeço na primeira fase (ou nas oitavas) pode interromper esse crescimento, calcificando uma impressão enganosa de nossa seleção para os próximos quatro anos, simplesmente porque o time não se preparou adequadamente.



2006 será uma copa forte e, ao contrário de 2002, contará com um bom número de seleções tradicionais nas fases decisivas e também duelos memoráveis. Fico sentido em ver que poderíamos (e ainda podemos) exercer um papel importante e digno nessa grande festa, mesmo sem conquistar título, mas a CBF sucumbiu à soberba de apegar-se à imagem vencedora do selecionado, vendê-la a quem quisesse, desperdiçar datas fifa com amistosos desnecessários de cunho político, promocional ou financeiro (vide Brasil e Rússia no inicio do ano a 15 graus abaixo de zero para promover uma marca de cerveja), tornar a amarelinha um grande caça-níqueis que pode culminar com uma participação humilhante dentro do mundial, transformando o slogan “Joga bonito” em piada internacional e até manchando o brilho do penta, visto que seus principais protagonistas (à exceção de Rivaldo) não foram capazes de endossar os méritos do título obtido há quatro anos quando estiveram na copa em que os grandes times realmente foram grandes.
Sinceramente, espero estar enganado e ver a história se repetindo com outra bela virada da seleção, mas isso também faria a CBF cometer os erros de sempre, não?

Mais comentários sobre a copa do mundo, você encontra aqui neste site e também nos blogs Oraco e Fanáticos por Copa

1 comment:

Anonymous said...

E logo, logo a realidade! 2ª FASE!!!!!!!!