Friday, June 09, 2006

Reflexões sobre o mundial da Alemanha - parte 1

Eis uma estréia atípica de copa do mundo e de seleção alemã, que em muito me fez lembrar, em performance, aquela que estreou contra a Austrália, meses atrás, pela copa das confederações.
O técnico Jurgen Klismann impôs nova filosofia ao time, procurando quebrar um pouco a vocação defensiva e conservadora que marcou sua seleção nos últimos mundiais. Como na estréia de meses atrás, tivemos um jogo de muitos gols, com uma Alemanha infinitamente mais preocupada em pontuar do que em não levar, falhando clamorosamente no que sempre soube fazer, defender e segurar resultados, mas também jogando um futebol ofensivo, mesmo dentro das já conhecidas limitações técnicas, aproveitando-se, claro, da fragilidade e da falta de ousadia de um adversário que pouco fez senão usufruir bem as pouquíssimas oportunidades que teve.
O placar foi justo e contrariou o mau agouro que aflige grandes seleções em jogos inaugurais de copa, mas esta Alemanha que vimos hoje é tão frágil quanto a da copa das confederações. Fazia muitos gols, mas também os tomava em demasia.
Agradou-me ver a esquadra de Klismann abrindo espaço para chutes de longa distância e não insistindo tanto no velho chuveirinho de costume. Conseguirão eles fugir de suas velhas tendências contra adversários mais fortes, e, principalmente, quando estiverem atrás no marcador? Polônia e Equador, por sua vez, fizeram um jogo equilibrado (e fraco), que não justificou a margem de vitória equatoriana. Os sul-americanos foram inteligentes, administrando bem a vantagem adquirida no primeiro tempo com um jogo cadenciado, procurando brechas na linha de impedimento adversária, mas também tiveram sorte no fim da partida, tomando duas bolas na trave que poderiam ter mudado a história da copa. De impressões marcates, duas. Primeira: este mundial pode ser um campeonato de muitos gols por partida, bem diferente daquele panorama medroso de 90 e 94, que até ensaiou uma volta em 2002, mas que talvez fique de fora em 2006. Segunda: algumas linhas de impedimento vão sofrer na Alemanha, sendo surpreendidas constantemente por aparições relâmpago como a do atacante costa-riquenho Wanchope na partida de abertura. Aliás, por favor, nada de reclamar quando o árbitro validar um gol impedido por centímetros. É justo que, na dúvida, se deixe a jogada correr, pois um gol anulado por impedimento inexistente é mais cruel e anti-futebolístico do que outro validado com o atacante centímetros a frente do último zagueiro. A regra do impedimento foi criada para evitar "banheiras", e não para ser usada como ferramenta anti-jogo pelas defesas.

Uma observação: O cuidado dos locutores Galvão Bueno (Globo) e Paulo Soares (ESPN Brasil) ao pronunciar o nome do goleiro costa-riquenho PORRAS. Enquanto Galvão insistia em adicionar o primeiro nome JOSÉ antes de dizer PORAS ao invés de PORRAS, Paulo fez questão de inventar um acento agudo que transformasse PORRAS em PÓRRAS.
Que PORRA!


comentário também publicado no blog Fanáticos por Copa

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