Wednesday, June 28, 2006

Reflexões sobre o mundial da Alemanha - parte 9

Gana foi nossa Bélgica de 2006

Em meu texto anterior, esqueci de mencionar o horário em que escrevia, minutos antes de Brasil e Gana começar, e minhas palavras, de certo modo, foram proféticas, pelo menos se analisarmos a atuação brasileira, novamente aquém do esperado, dependente da condescendência dos juízes e da inspiração de nosso arqueiro. Como nas oitavas de final de 2002, adentramos o campo com um time mal ajambrado, tomamos vaias da torcida e dependemos muito do talento individual para contrabalançar os problemas coletivos crônicos, principalmente nos primeiros sessenta minutos de jogo, antes de Juninho entrar. E se Juninho foi o Kleberson de Brasil X Bélgica em 2002, Ricardinho foi... Ricardinho, que, como naquela partida, entrou para aliviar a pressão do time não conseguir sair jogando e, de quebra, contribuiu com escelentes passes para gol que mudaram a cara do confronto. Um deles, bem arrematado por Zé Roberto.
A estratégia brasileira baseava-se na postura ofensiva da seleção adversária, que adiantou sua marcação para complicar nossa saída de bola e tentou parar nossos ataques com a boa e velha linha de impedimento. Parreira apostou na posse de bola, nos passes curtos, na espera e numa alternância de jogo cadênciado com velocidade para fugir da correria dos africanos e tirar vantagens de suas fragilidades. Funcionou maravilhosamente bem nos dez primeiros minutos. Depois disso, o que se viu foi um Brasil incapaz de segurar a redonda por muito tempo, atabalhoado em pífios contra-ataques de pouco entrosamento, esforçando-se para imitar o plano de estréia da Azurra contra esses mesmos ganeses, mas com uma escalação inadequada defensivamente para tal. Parreira temeu colocar Juninho no início da partida, preferindo um time que nunca deu certo fora do papel, mas (e também por sorte) ainda não perdeu. Fomos novamente salvos por colossais esforços individuais - destacando-se Juan, Lúcio, Dida e Zé Roberto - , pelas mesmas colaborações do destino que tivemos contra a Bélgica e por uma ajudazinha da arbitragem, não tão determinante quanto no jogo de 2002, mas que nos garantiu o alívio do segundo gol. Claro que, em se tratando de impedimento não marcado, volto a enfatizar a importância de se deixar uma jogada correr em caso de dúvida, e de que mais vale um gol impedido do que outro anulado por impedimento inexistente. Se implicarmos demais com os bandeiras nesse tipo de lance, a boa e velha recomendação da FIFA será inútil.
Outro grande diferencial favorável ao Brasil nesta copa tem sido a experiência de nossos craques, que, em detalhes, tem feito mais diferença do que se pode pensar. Assim como me impressiono negativamente com certos erros coletivos e individuais, também fico boquiaberto ante a sagacidade de nossos jogadores mais rodados em campo, mesmo quando atuam mal. A capacidade de não se deixar levar demais por um momento adverso ao longo da partida, de saber aproveitar os vacilos do adversário em instantes capitais e, pelo menos por parte dos atacantes, de fazer o que os ganeses não fizeram, visualizar uma conclusão antes de arrematar, e por isso desfrutamos melhor as oportunidades de gol, coisa que Gana não fez.
Brasil X Gana foi também um embate entre juventude e experiência, entre a saúde dos africanos e a serenidade e frieza de nossos atletas em alguns momentos (não em todos, claro). A sagacidade individual tem contrabalançado o mal-preparo coletivo até agora, garantindo resultados positivos em atuações questionáveis. Contra a França, precisaremos jogar mais, como jogamos melhor há quatro anos contra a Inglaterra. O Brasil está mal, mas tende a crescer ao se defrontar com grandes seleções. Espero que aconteça de novo, o que será bastante provável se Robinho voltar e o time jogar completo com ele em campo.
Logo, escreverei sobre as demais seleções.



1 comment:

Bosquímano said...

É verdade que há a sagacidade dos nosso mais rodados. Mas é preciso se preocupar, e muito, com a falta de leitura de jogo dos nossos mais rodados. Até a entrada de Ricardinho, ninguém enxergou que a partida pedia aquele joguinho chato de toques laterais e paciência que o PArreira tanto gosta. Se repetirmos a falta de inteligência contra a França, baubau. Henry não é atacante ganês!